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DEMI MOORE E A NAVALHA DE UM LADO FERIDO DO MOVIMENTO FEMINISTA.

 A necessidade de julgar outra mulher é um reflexo óbvio da nossa ferida interna.

Por Alíne Valencio.

Minha Deusa,

Na semana passada tive um pequeno imprevisto e não foi possível estar aqui com você. Senti saudade. Eu adoro escrever para essa coluna,  você sabe. E eu estava aguardando o momento de escrever essa matéria porque o assunto é babado. Contudo, você que já me conhece, pode confirmar que sou uma feminista assumida, mas por outro lado eu também sei trazer verdades ainda que elas sejam desagradáveis de se ouvir,  ou ler. Inclusive sobre o feminismo, porque ser autêntica é, olhar para dentro e reconhecer a própria sombra. ⁷

Isso é ser adulta. E adultas curadas acolhem suas sombras. É isso que convido você a fazer aqui comigo.

A dor do feminismo.

Eu sei que algumas mulheres feministas radicais ficarão iradas  comigo por expor os gargalos do movimento. Entretanto, nada posso fazer a respeito, uma vez que não há a mínima possibilidade de eu não dizer o que eu penso. E  é claro que é apenas o meu ponto de vista.

Lamentavelmente há um lado radical no movimento,  que eu como sexóloga chamaria de ” ferido”. Exatamente minha musa. Ferido. Eu troco a expressão ‘ radical’ por  ‘ ferido’. O que tem relação direta com a úlcera de uma  sexualidade dolorida. Qual o fundamento dessa minha reflexão?

Quando sentimos a necessidade de julgar outra mulher tendo como régua nosso próprio olhar sobre a vida, há nesse tipo de atitude uma dor muito profunda escondida por trás da crítica. Além de um óbvio desejo de fazer o que aponta na outra, mas não tem coragem. O brilho de uma mulher que se ama a ponto de assumir o seu poder perante o mundo, é uma navalha na dor alheia. Um espelho cortante na alma e na sexualidade de uma mulher machucada e não curada.

Uma pauta verborrágica que se volta contra nós.

Ora, não somos nós feministas que defendemos o jargão: ” Seja você mesma”? E o discurso se pauta numa verborragia que defende a premissa do direito de sermos respeitadas por nossas escolhas.  Contudo,  no momento em que uma mulher foge da cartilha feminista que dita como um mulher deve ser, essa mulher é massacrada.

E sim, infelizmente nós criamos uma armadilha da qual desejamos tanto nos esquivar,  mas nos tornamos exatamente aquilo que tanto desprezamos: os padrões. Estamos condicionando comportamentos,  corpos e decisões de mulheres.

1746218256728Demi Moore e seu filme ‘ The Substance’.

Eu estou me referindo à atriz americana Demi Moore,  que foi rechaçada na internet por outras mulheres feministas porque seu filme ‘ The Substance’ questiona os padrões opressivos de beleza, e ela mesma aos 62 anos é adepta de procedimentos estéticos que a fazem parecer bem mais jovem. Segundo as moças que a julgaram,  ela é hipócrita.

E eu saio em defesa da atriz, trazendo a seguinte problemática: será que a hipócrita é a Demi, que ASSUME quem é de verdade, e faz o que tem vontade sem se importar com a opinião alheia, ainda que seja a opinião de outra mulher,  ou quem critica porque no fundo arranca os cabelos de inveja e vontade de fazer a mesma coisa, mas é emocionalmente doente e possui uma auto imagem tão negativa de si mesma a ponto de não suportar o brilho de outra mulher sensacional esfregando na cara dela toda a sua beleza externa, que é resultado de um brilho interior gigante?

A razão pela qual invejamos alguém,  não é pelo que ela tem ou pelo que ela veste. A inveja morre de ciúme de quem a outra É! Do brilho interior de uma pessoa. Porque roupa a gente compra. Mas amor próprio,  auto estima, felicidade não. É isso que irrita é corrói!

O nosso direito de ser quem somos.

E é um fato que na sociedade machista e misógina na qual vivemos, a estética é uma forma de opressão feminina e uma das ferramentas mais potentes de repressão e adestramento da sexualidade feminina. Entretanto,  é preciso considerar que nem toda mulher adere à procedimentos estéticos por opressão ou submissão ou auto cobrança.

Existem mulheres que :

* São adeptas de procedimentos estéticos porque gostam, querem e se sentem bem.

*Inclusive algumas, justamente pela razão de terem se curado dos seus traumas , tem tanta convicção de quem são de verdade, e do quanto se amam, e compreendem o poder pessoal dentro delas, que tais procedimentos terminam por ser um reflexo da beleza interior delas.

1746218212314Tentar evitar o inevitável é ser algoz da própria sexualidade.

Isso é inevitável. Quando a gente aprende a se amar acima de qualquer coisa, a gente sabe que esses procedimentos são apenas um reflexo do nosso mundo interior lindo e poderoso. Nem sempre quer dizer que é falta de aceitação ou negação da idade. Nem sempre! E eu diria, quase nunca. Até porque é um direito de uma mulher querer se sentir linda da maneira que bem entender e movimento feminista que se preze respeita os direitos, desejos e vontades de outra mulher.

Só quem nada entende de felicidade é incapaz de perceber que Demi Moore parece muito bem resolvida consigo mesma e exatamente por esse motivo é poderosa o suficiente para bancar seus desejos perante o mundo. Somente uma mulher curada é ousada o suficiente para ser quem é e JAMAIS deixar de usar o que quer e fazer o que quer pelo fato de existir outras mulheres que ainda não estão prontas para lidar com quem são de verdade.

Pense nisso minha linda, e procure se auto analisar e perceber se ainda existe dentro de você algum nível de julgamento. Se constatar que existe,  espero que você esteja pronta para lidar com essa verdade e buscar se libertar do peso  de julgar para ser feliz de verdade também.

Um beijo carinhoso,

Aline.

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