A menina má!
Por Alíne Valencio.
Minha querida amiga mulher. Estou imensamente feliz com o lançamento dessa revista e não é
porque eu sou a criadora desse projeto. De forma alguma! Essa revista não teria se concretizado se você não existisse e todas as pessoas dessa equipe não tivessem acreditado nesse projeto junto comigo e empenhado seu tempo, sua confiança e energia nele. O que me faz feliz com o lançamento dessa revista é a oportunidade de compartilhar com você minha trajetória pessoal como mulher, de como cheguei até aqui justamente por conta desse percurso de dor do meu feminino, e o quanto isso é relevante para desbancar um sistema opressor para nós mulheres. Sim minha querida. A partir do momento que temos a ousadia e o atrevimento de abrir a boca e nos mostrarmos sem medo como somos para outras mulheres, a partir do momento em que adquirimos bravura para nos vulnerabilizarmos perante outras irmãs, estamos, ao contrário do que acreditamos, fortalecendo o movimento feminino e enfraquecendo o patriarcado. Vulnerabilidade não é fraqueza.
Ao contrário, é força, desde que tenhamos sabedoria para compreender como devemos usá-la a
nosso favor. E uma forma assertiva de assim proceder, é certamente, dividir com outras irmãs nossa jornada enquanto corpos femininos habitando um contexto extremamente perverso e violento para com as mulheres.
Desta feita, me apresento à você. Sou Alíne Valencio, atriz, produtora de teatro, dramaturga,
sexóloga e guardiã do Sagrado Feminino. Durante toda a minha vida, eu fui a destrambelhada da família, a artista de esquerda, militante, engajada, que falava as verdades, e por isso, incomodava. Sabe a famigerada “ovelha negra da família”? Pois é, era eu. A “sem noção”, a “espontânea” que por isso mesmo era a infantil, a menina que precisava crescer e parar de romantizar a vida. Literalmente, aquela que espelhava em todos da família as dores do sistema familiar ancestral, mas que ninguém queria ver.
Sendo assim, me julgar era mais fácil, me desqualificar e desmoralizar, em especial no quesito
financeiro e na maneira como escolhi viver a vida, se tornou quase um hobby, que nenhum deles se dava conta que tinha virado hábito tóxico e extremamente nocivo para mim. E para eles também, obviamente. Contudo, só eu me dei conta disso quando comecei verdadeiramente a despertar, sair da matrix e principalmente não ter medo de encarar o fato de que eu não era a pessoa que eles esperavam que eu fosse e resolvi enfrentar isso perante todos da família.
Assumi, definitivamente minha verdade. O que gerou ainda mais ira, em especial em algumas mulheres da família, ou melhor, algumas agregadas. Pois, enquanto todos fingiam que eu era o que não era, estava tudo bem, ou melhor, enquanto eu era a pessoa “diferente”, mas não se apropriava disso, estava um ambiente “tolerável”. Agora, a partir do momento que tomei a decisão de me afastar dos compromissos familiares e passei a exigir respeito pelas minhas escolhas, independente delas trazerem benefícios para eles, ou não, e suprirem suas expectativas em relação à mim, aí a coisa mudou de figura. Por um lado, pararam de me infernizar a vida, mas por outro, fazem questão de demonstrar através da entonação da voz, das indiretas e dos comentários sua ira e frustração. Contudo, depois de tantos anos de terapias e compreensão de que isso não é sobre mim e sim sobre eles que não estão conseguindo lidar com suas expectativas frustradas em relação à mim, eu não estou me importando nem um pouco com a opinião alheia, ainda que seja dos meus familiares.
Dito isso, vamos à parte que realmente interessa. A minha relação com as mulheres e como cheguei até aqui. Bem, não é difícil conjecturar que minha jornada como mulher estava imbuída de todos os conceitos morais e sociais que todas vivemos. Logo, também, fui levada a lidar com minhas dores, minhas sombras, cicatrizes e feridas enquanto mulher, e tudo que envolvia o corpo e a sexualidade. Que aliás, era um tema que sempre me fascinou.
Ao longo da minha trajetória (e somente hoje consigo vislumbrar isso), tudo que me aconteceu
estava me curando e me preparando para eu estar aqui hoje trazendo e desenvolvendo conteúdos transformadores para as mulheres. Estava me fortalecendo para ter a coragem de ser quem sou de verdade. Sempre, durante toda a minha vida, estive envolta com mulheres e as questões do universo feminino, e mesmo sem ter consciência disso eu orientava, acolhia e produzia conteúdos necessários e fundamentais para a libertação feminina. Escrevi, desde textos teatrais, para mulheres, nos tempos da faculdade, até conteúdos e materiais para as redes sociais, passando por canalizações de técnicas espirituais para a cura do feminino ferido, até me certificar como sexóloga. E nesse entremeio, me envolvi em relacionamentos amorosos frustrados, abusivos e degradantes, claro. Afinal, apesar de eu ser a “diferentona” da família, isso não me eximiu de me comportar de acordo com o “modus operandi” do meu sistema familiar e repetir padrões nos relacionamentos.
Até que finalmente, tomei a decisão de mudar a minha vida e passei a buscar as soluções para meus problemas. Daí pra frente não tem mais volta. Ainda bem! Entretanto, se desconstruir dói muito. Se apropriar da própria vida e “adultecer” (não sei se essa palavra existe, mas se não existe, passou a existir agora), é muito desafiador e doloroso. Logo, foram anos de choro, e muita cura emocional, desde limpezas espirituais, até gigantescos “downloads” acerca da minha verdade. Da verdade da minha alma. Enfim, agradeço à mim mesma por não ter desistido de mim e enfrentado tudo que encarei, e continuo confrontando, para me tornar quem eu nasci para ser. Não fosse isso, eu seria a coitada que meu sistema familiar acredita que sou até hoje.
E agora posso afirmar para você com certeza que estou apta à te orientar na sua jornada, caso você também queira desconstruir os caminhos tortuosos pelos quais te disseram para caminhar.
Esse é o meu objetivo com esta coluna: inspirar mulheres a não desistirem de si mesmas e irem até o fim por amor a si próprias. Então, te convido a visitar e compartilhar meus conteúdos com o intuito de cada vez mais criar uma corrente, uma egrégora indestrutível de mulheres livres e donas de si, porque isso sim é fortalecer e transformar a realidade feminina efetivamente. Vem comigo. Te espero na minha coluna.
Com amor,
Alíne Valencio.