Por Mônica Bonna.
“A lá… lá vai a Mônica conversar com todo mundo e sentar na mesa de pessoas que ela acabou de conhecer… com 3 anos de idade!”.
“A lá… lá vai ela fazer estrepolias… Já vai subir na árvore, se pendurar de ponta cabeça. Lá vai ela cair de patins, se ralar inteira… Luxou o dedo de novo! O médico perguntou que cor de tala ela queria dessa vez.”
“A lá, agora resolveu andar de skate e ouvir rock…“
“A lá… entrou pro teatro! Ixi… teatro?”
Ah, o teatro! Confesso que quando comecei a fazer teatro, não imaginei que isso me transformaria por completo. Que mudaria minha vida para sempre! Eu, que já tinha tido tantas fases. Acho que minha família também não imaginou, porque eu já estava estudando e trabalhando com TI na época.
Abrir mão da minha carreira para viver de teatro foi desafiador. Eu já estudava teatro há 2 anos quando me desliguei da empresa que eu trabalhava e decidi mudar de área de vez. Na época eu usei o dinheiro da rescisão para investir na minha carreira de artista. Precisava fazer cursos de teatro, aulas de canto e dança. Foi um choque perder a estabilidade que eu tinha sendo CLT, mas por outro lado, havia recuperado minha saúde mental e estava me sentindo “em casa” com a minha escolha.
Mudar de carreira nunca vai ser algo tranquilo e fácil de se pensar. É necessário planejamento e dedicação. Meu objetivo com esse texto é compartilhar com vocês o que eu descobri com as experiências que vi e vivi ao trabalhar com teatro. Algumas dicas que funcionaram comigo e que podem funcionar com vocês (espero… depois me avisem se deu certo).
A primeira coisa que deve-se pensar ao ingressar na carreira de teatro é o estudo. É primordial estudar atuação para trabalhar com teatro – supondo que você queira ser uma atriz (ou um ator) com boa técnica para atuar.
Estudar teatro traz muita bagagem que se leva por toda a carreira. Para além do que é ensinado de técnicas e teorias, ensina a ter disciplina de estudo – o que é rotineiro para trabalhar com teatro. Fazer cursos também possibilita a conexão com pessoas da área, o que é fundamental para se inserir no mercado de trabalho (ou, como chamamos: jobs). Meu primeiro trabalho em teatro foi graças ao meu professor de canto do curso de Teatro Musical do Senac (Will Sancar). Estávamos montando Godspell e a companhia de teatro em que ele trabalhava abriu uma audição para o Mágico de Oz. Ele me indicou, me preparei e fui para o teste (lembro que pediram para levar uma música e uma cena). Passei no teste para fazer Dorothy (que em nossa versão, se chamaria Dorinha), para essa cia de teatro na qual até hoje, ainda realizo trabalhos (15 anos… Vamos debutar em Outubro!)
É natural que as pessoas que convivem com você no dia a dia, lembrem de você na hora de indicar para algum trabalho. Se você for uma pessoa que se dedica, chega na hora, prepara o que tem que preparar, com certeza você vai se desenvolver como artista e isso vai ser um referencial.
Outra coisa muito importante para trabalhar com teatro, é se nutrir de experiências culturais, pois é necessário criar repertório pessoal e descobrir coisas que podem ser recursos que você queira desenvolver ou se aprimorar. Assistir peças de teatro, ir à exposições e feiras, desfiles, museus, shows, mostras de arte, festivais e etc.
Antes de falar sobre a inserção no mercado de trabalho, é preciso falar sobre organização financeira. Para viver de arte, é necessário ter um bom planejamento, pois em sua grande maioria, os trabalhos com teatro são freelancer ou projetos que duram temporadas, ou seja, quando tem trabalho, tem cachê. Além disso, alguns fatores sazonais também podem impactar as ofertas de trabalho ao longo do ano, Alguns exemplos são: Carnaval, férias escolares, feriados prolongados, copa/olimpíadas, entre outros.
Durante vários períodos da minha carreira, eu tive trabalhos paralelos. Houve até uma época que precisei dar uma pausa com a arte e fui dar aulas de inglês. Eu ainda morava com a minha família e minha renda artística não seria capaz de suprir o que precisávamos. Fui dar aulas de Inglês em escolas de idiomas, cheguei a virar coordenadora de uma delas. Fazia teatro de vez em quando. Foi uma fase que, apesar de não ser o que eu idealizava para mim, me trouxe muitos pontos positivos. Durante a pandemia, por exemplo, consegui me manter dando aulas de inglês online.
Não considero demérito nenhum trabalhar paralelamente com arte. Se você estiver em transição de carreira, pense se há algo que você possa relacionar entre sua carreira e a arte. Se você estiver iniciando em teatro, vale pensar em coisas que você pode fazer paralelamente, que não sejam apenas atuar, para ter um plano B na manga. Podem ser coisas relacionadas ao teatro, como: produção, cenografia, figurinos, perucas, gerenciamento de palco, etc.
Até porque, conhecimento nunca é demais. Quanto mais versátil você for como artista, mais possibilidades de trabalho estarão à sua disposição.
Para finalizar, quero falar sobre apoio familiar. Minha família sempre me levou ao teatro, sempre incentivaram em mim a cultura. E quando eu decidi mudar de carreira, eu sentia que tinha uma vontade deles de me apoiar, mas por outro lado, uma preocupação por conta da instabilidade que essa profissão oferece, pela exposição e etc. Ouvi de muita gente que eu não devia fazer isso. Que eu deveria levar o teatro como hobby. Que eu estava maluca!
Tudo isso mexeu muito comigo na época. Hoje eu entendo a preocupação. Eu mesma precisei resistir às minhas próprias crenças e insistir no meu ideal. É claro que apoio e incentivo incondicional de minha família e amigos teria sido ótimo, mas não dá para fundamentar uma transição de carreira apenas em opiniões alheias.
Hoje, orgulhosamente, o teatro é meu dia a dia! No que depender de mim, isso é algo que nunca vai mudar.
“Lá vai ela, a maluca do teatro…”
Mônica.
Uma resposta
A lá… Como nossa vida é difícil… Porém, prazerosa. É gostoso viver essas nuances da arte, conhecer pessoas, lugares, etc. É gratificante ao final de cada espetáculo ouvir os aplausos e ver os sorrisos de quem gostou do nosso trabalho. Não há nada mais incrível do que essa energia.