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A Maternidade romantizada X ausência da figura paterna nos contos de fadas.

A Maternidade romantizada X ausência da figura paterna nos contos de fadas

                                             Maternidade- O cativeiro!

Por Alíne Valencio.

Olá minha amiga deusa. Leitora maravilhosa e leal. Mais uma vez obrigada pela sua companhia semanal. Para você que está chegando hoje, ou, não está acompanhando essa sequência de matérias a respeito do corpo feminino e do massacre sofrido por ele nos contos de fadas, ao longo da história, por favor, se te interessar volte algumas semanas atrás e comece a ler do início para acompanhar todo o raciocínio. Mas, caso não seja possível para você, siga lendo daqui mesmo. Então, vamos lá! Alguns detalhes são imperceptíveis, mas estão impregnados na trama! A madrasta sempre é má, em todos os contos.

Vejam, a Cinderela por exemplo. Também, tem uma madrasta má. Porque, dentro de um ideal de maternidade romantizada, só a mãe é boa. O pai? Ninguém questiona o fato da Branca de Neve sofrer nas mãos da madrasta e o pai permitir. Onde está o pai dela? Vocês já repararam que o pai “nunca vê nada”? Em vista disso, ou ele é conivente com esses maus tratos com a própria filha, ou então ,realmente a figura do pai nesses contos de fada refletem exatamente o desleixo do homem para tudo que se refira ao lar ou à questões femininas. E esse “detalhe” alimenta e endossa a ideia de que afazeres domésticos são tarefas femininas, perpetuando no inconsciente coletivo o machismo estrutural. Dessa forma, se Branca de Neve é ou não maltratada, não importa, porque tem uma mulher cuidando da filha e da casa, seja de quejeito for. Alguma semelhança com a sociedade atual?

A simples inexistência desse pai no enredo, implica na latente flexibilização social para com o papel paterno, onde é normal que homens abdiquem dessa responsabilidade a qualquer momento, por qualquer motivo. Ainda hoje em 2024, aproximadamente 11 milhões de mulheres criam seus filhos sozinhas, e 90% delas são negras. Porém, lamentavelmente nossa sociedade nem questiona o fato de um pai abandonar emocional e psicologicamente um filho. É o que acontece na história da Branca de Neve, cujo pai parece que vive em Nárnia, e é um completo débil, que meramente impõe uma mãe para a filha a qualquer custo, desde que se livre do encargo de suprir as necessidades emocionais e psicológicas da menina.

O estímulo dos contos de fadas para a competição feminina.

O grande conflito da trama acontece porque a madrasta inveja a beleza e juventude de Branca de Neve. Já que não basta ser bonita, é preciso ser a mais bonita. O espelho é o melhor amigo da madrasta. É ele que dá o veredicto a ela de que sua beleza não é o bastante. Ela é incentivada a ver outra mulher como inimiga, pois compete com ela pelo título de a mais bela do reino. Tomada pela inveja, usa de qualquer artifício. Inclusive ordenar ao caçador para que traga o coração da inimiga na bandeja. Branca de Neve é amiga /protegida pelo caçador e se torna amiga/ protegida dos anões. É salva/protegida pelo príncipe. Todos homens. E mais uma vez, os contos de fadas dando estofo para a ideia de que uma mulher nunca terá apoio de outra mulher. Já os homens da trama são exaltados como verdadeiros heróis, protetores. Mas, não somente isso.

É a autêntica premissa ensinada desde cedo, de que a mulher sempre dependerá de um homem para defendê-la, uma vez que mulheres somente competem entre si por atenção, apreciação e admiração da sua própria beleza. E homens sempre aparecem para salvá-las de si mesmas. Como se mulheres fossem perigosas, e é assim que querem que enxerguemos umas às outras. Em especial as teimosas. Enfim, eles são sempre retratados como figuras boas. O mal está nas próprias mulheres.

Vejam só quanta violência cometida em relação a nós, por séculos, vem sendo mantida como a vida dos sonhos de uma mulher, e do quanto isso nos ensina acerca da sexualidade feminina, bem como do que e como fomos coagidas a tolerar todo esse tempo.

A Maternidade romantizada X ausência da figura paterna nos contos de fadas
Fonte: Soy Expansion

 

Minha amiga leitora. A todo momento, desde crianças, somos sutilmente induzidas a apontar outra mulher, quase nunca um homem. Vou citar um exemplo. Quando uma mulher é traída, de quem é a “culpa”? A quem a mulher traída culpa primeiro? Ou a si mesma, por acreditar que não foi suficientemente boa para “segurar” o marido, ou `a amante, que é uma “vagabunda”. Ninguém, nunca aponta o verdadeiro responsável pela traição: o homem. Quem é o casado? Quem tem a responsabilidade de ser fiel e leal? Amiga, só existe traição se existir o pressuposto de um homem disposto a trair. Do contrário, ele pode ter a mulher mais linda do mundo se oferecendo para ele, e ele não trai. Contudo, o traidor, sai sempre como o “seduzido”, ou “o coitado que caiu nas garras de uma aventureira”. E de novo, a “culpa” é da amante, por ser linda, e ter jogado toda a sua sedução para cima dele, e ele, por sua vez, é uma vítima das artimanhas sedutoras de uma mulher. Em suma, este é um assunto para outra matéria, mas serve para exemplificar o quanto somos manipuladas
de forma subliminar e inconsciente a competirmos, ou sermos inimigas de outras mulheres.

Você percebe como tudo é eximiamente arquitetado para que nada pareça fazer sentido, quando se trata de um homem machista e misógino? Ou até mesmo, de um homem, já que o simples fato de ser um homem, o absolve de muitas responsabilidades no mundo atual? E os contos de fadas vem assumindo um papel imperioso na consolidação de toda essa estrutura social em que vivemos atualmente? Você consegue enxergar isso?

Minha amiga deusa. Espero do fundo do meu coração que você esteja conseguindo engolir seu almoço, ou seu café da manhã sem ficar com um nó no estômago, depois de estar acompanhando essa série de bate papos. Meus sinceros sentimentos para nós, por toda a opressão que sofremos há milênios. E é por isso, que se faz urgente trazer `à tona essas reflexões. Para que o patriarcado seja desmantelado. Mas isso só vai ocorrer, se tivermos mulheres donas de si, donas do seu nariz. Mulheres livres. Esse é meu papel nessa coluna: te proporcionar análises lógicas, a fim de que você mesma anseie se libertar e ser a mulher que nasceu pra ser. E quando isso acontecer ninguém vai te manipular ou te dizer o que fazer. E aí sim você será uma mulher livre de verdade. Mas, o que está assaltando nesse instante meu coração feminino, é vontade de te perguntar: como você vem agindo em relação às situações que os homens com quem você convive te apresentam? O que você vem aceitando? Tolerando?

O quanto você tem sido hábil em se posicionar e impor limites claros sobre até onde você permite que eles vão com você? O quanto você tem sido amável nas palavras, mas implacável nas atitudes? O quanto você tem conseguido se manter firme nas decisões sobre os limites que impõe para eles ou para qualquer outra pessoa que você considere abusiva? Você sabia que tudo isso é sexualidade? Sexualidade é um conceito altamente profundo e amplo. Você sabia que tudo que você não tem coragem de expressar a respeito do seu corpo, dos seus desejos, das suas vontades e das suas emoções se refere à sexualidade? Você percebe que cada “sapo” que você engole afeta sua libido, seu amor por você? E muitas vezes, você passa a acreditar que “amor não é para você” porque nada dá certo.

Sinto te dizer que você está limitada à crenças que te bloqueiam a vida. Muitas vezes, a falta de libido é nada mais que uma profunda falta de entusiasmo pela vida. Uma imensa falta de sentido na vida, por conta da ausência de propósito. Isso é sexualidade. Logo, amiga, se você não gosta da vida que você leva, não há como gostar de gozar, e até mesmo de exercer a sexualidade em sua plenitude. Se você não gosta da vida que você leva, então não tem como gostar de você. Se você não gosta da vida que você tem “fora da cama”, não há como gostar da vida que você leva na cama. E quando me refiro à “cama”, não estou necessariamente me remetendo ao ato sexual em si. Pelo contrário, me refiro meramente `a relação com sua cama quando você se permite sentir prazer no autoconhecimento íntimo e autoriza à você mesma, por alguns minutos, “esquecer tudo `a sua volta” e se propiciar o auto toque e o prazer. Pois só assim você realmente vai reconhecer o prazer quando estiver numa relação sexual.

Contudo, não é isso que importa, porque primeiramente você precisa reconhecer o prazer em você, desde a sua vida cotidiana até o que te desperta prazer no corpo. E ser mãe não te faz menos mulher, ou, não te limita, mesmo no “maternar” pode você ir em busca de si mesma através do despertar da sexualidade. Uma coisa está diretamente relacionada à outra e tudo isso abrange a sexualidade e suas complexidades, e isso tem tudo a ver com “ser mulher “e se amar por completo. Pense em tudo que conversamos hoje e eu te espero na semana que vem.

Um abraço solidário.
Alíne Valencio.

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