Uma navalha na sexualidade feminina.
Por Alíne Valencio.
Musa maravilhosa,
Você já me conhece muito bem não é mesmo? Sabe que sou uma feminista engajada na causa feminina até o fim. Desde sempre, para sempre. Entretanto, pairam sobre minha mente e vida cotidiana alguns questionamentos que podem gerar polêmica…novamente…no que se refere ao nosso discurso em contraponto com nossas atitudes e ao mesmo tempo em relação aos nossos verdadeiros desejos. Deixo aqui abaixo meu mais sincero posicionamento.
Estamos num portal poderosíssimo. Ontem foi o portal 12/12. Este portal nos impulsiona a fechar ciclos e nos prepararmos para novos começos. Na verdade, ele nos traz situações extremamente desconfortáveis para que sejamos obrigadas a mudar, de um jeito ou de outro. Está claro, dessa forma, que não há mais tempo para disfarces, em especial para as máscaras internas. Aquelas que usamos para nós mesmas. A gente é treinada desde sempre para viver de aparência para os outros. Contudo, tal ensinamento se configura apenas mais um engodo para distrair a gente da gente mesma. E hoje, para mim, nada é mais óbvio e claro. Para a sociedade conservadora e ignóbil em que vivemos, quanto mais longe de nós mesmas melhor, afinal pessoas que se conhecem profundamente são completamente livres e donas da características mais temida pela sociedade: a desobediência.
Entenda-se por desobediência qualquer comportamento que não esteja de acordo com o que a sociedade dita como correto. Enfim, disso você já sabe né? Minha deusa, a situação complica quando se trata de mulheres não é mesmo? É disso que se trata a matéria de hoje: liberdade. Porém, gostaria de conversar com você a respeito de um viés da liberdade que é negligenciado: a liberdade oriunda da verdadeira natureza feminina. E aqui essa matéria termina por ser uma extensão da semana passada. Minha querida, na sociedade de hoje as mulheres se orgulham de serem fortes e fazerem exatamente o que os homens fazem. Entretanto, isso nos torna exaustas e desconectadas da nossa alma. Já senti na pele essa sensação.
E é bem provável que você me diga que muitas vezes não temos opção. Será mesmo? Eu te provoco com a seguinte problemática: quanto do que acreditamos como verdade é mesmo verdade e quanto é apenas um modus operandi social incutido na nossa cabeça? Quanto do que você pensa que deve fazer você realmente está convicta que deve fazer? Quanto do que você faz é algo que você faz porque tem plena consciência da sua verdade e quanto é apenas uma imposição? O que eu pretendo com essas indagações é te cutucar e te levar a refletir sobre o que nós mulheres andamos enxergando como verdade a respeito de ser mulher. Muitos dos nossos comportamentos estão colossalmente distantes da nossa mais autêntica vontade interna e no fim das contas toda essa conjuntura aniquila a essência feminina. Cada coisa tem seu lugar no universo. Homens e mulheres também. Você sabe e conhece meu posicionamento ferrenho contra toda essa sociedade machista. É só ler minhas matérias e isso fica mais do que claro. Contudo, alguns comportamentos preconizados a respeito do que é ser mulher em 2024 estão na contra mão da minha conduta e maneira de enxergar nossa condição.
Nos meus atendimentos particulares sobre sexualidade sagrada feminina cada dia eu me convenço mais de que estou no caminho certo. As mulheres verborragizam o orgulho de darem conta de tudo sozinhas, mas me procuram para ajudá-las a entender os motivos pelos quais elas são obrigadas a tomar para si toda a responsabilidade. Como eu já disse na matéria da semana passada, nós criamos para nós uma crença limitante que está nos aprisionando em enredos mentais e comportamentais que acabam por proporcionar uma bela boa vida aos homens e sermos nossas carrascas. Exatamente minha deusa. Quando insistimos em assumir deveres que são, por natureza, funções masculinas, tiramos deles a responsabilidade de agirem como homens adultos, concorda? A partir do momento que nos vangloriamos de que não precisamos que eles nos defendam e que eles não sejam provedores, além de darmos um tiro no pé, contribuímos para que se tornem os folgados que estão sendo. E não, tire da cabeça a ideia de que isso nos torna frágeis, fracas e submissas. Ao contrário! Isso nos torna verdadeiras deusas. Se deixarmos eles cuidarem das responsabilidades deles, nós teríamos tempo para nós, para nossos desejos, projetos e sonhos. E outra, nem pense em me dizer que eu falei que a culpa de os homens terem determinados tipos de comportamentos é nossa. Não é! Você me conhece o suficiente para saber eu jamais diria isso.
Nossa força nasce justamente da permissão que nos damos para nos libertarmos dos grilhões sociais e mentais que nos enredam em premissas mentirosas como essas. Tal permissividade está estruturada na vulnerabilidade e é ela que nos faz poderosas e fortes. É na vulnerabilidade de admitirmos que não temos que fazer NENHUMA tarefa masculina, que nos torna donas de nós. Ao contrário do que acontece né amiga? Entenda de uma vez por todas, ser dona do seu nariz NÃO É ASSUMIR PARA SI DEVERES MASCULINOS.
Amiga, se liberte já da ideia de que se um homem te prover você será submissa. De onde surgiu isso? Eu sei, todo o histórico milenar de opressão feminina é um dos pilares que sustentam tais equívocos. Veja bem. Raciocine comigo. Não seria maravilhoso se você mesmo sendo casada pudesse usar seu dinheiro COM VOCÊ? Você pode! É só parar de acreditar que você tem que pagar conta, se ele pode e quer pagar. Isso não é empoderamento. O que te torna poderosa é ter certeza do quanto você merece ser cortejada e do quanto um homem está disposto a fazer e até onde ele iria por você. Cada vez que você toma para si tais atitudes, você rouba de si mesma o direito de ser tratada como merece e facilita absurdamente a vida dele, já que não houve absolutamente nenhum esforço da parte dele para ter o privilégio de ter a sua companhia. Compreende? Minha deusa, isso também é prover sabia? É absoluta responsabilidade de um homem a função de suprir uma mulher de todas as maneiras, inclusive de atenção, carinho, apoio e cuidado. Além de financeiramente. E não, não estou querendo defender com isso, a ideia de que mulher tem que depender financeiramente de um homem. Deus me livre disso! São coisas diferentes. Mulher independente financeiramente é fundamental, primeiro porque assim ela é livre, dona da vida dela e adulta. Nem pensar depender de homem financeiramente, e nem emocionalmente. O que é pior ainda.
Apenas aprenda a diferença entre uma coisa e outra. Por favor. O mais grotesco é defender a ideia que um homem que te pagou uma conta UMA VEZ na vida, está te sustentando. Meu Deus do Céu!! Se convença de uma vez por todas que isso facilita demasiadamente a vida deles e sobrecarrega a sua vida, além de te afastar de ti mesma porque te distrai de tudo que você carrega no coração e na alma, já que enquanto você inverte as coisas ele está vivendo a vida numa boa.
Pare de querer trocar um pneu sendo que tem quem troque para você. E de novo, saber trocar um pneu é um coisa, insistir em fazer isso só para manter a todo custo um imagem de mulher independente é outra bem diferente. Claro, é fundamental adquirir determinados conhecimentos, afinal, a gente nunca sabe quando vai precisar. Sempre que tiver a possibilidade de se deixar cortejar, deixe. Sua sexualidade agradece.
A sexualidade feminina moderna está alicerçada na ideia de que mulher independente é aquela que se basta sozinha. A estatística mostra outra realidade. É um fato que estamos numa época em que é elementar mudar nosso mind set para criarmos outra realidade para nós. Os preceitos modernos preconizam nas cartilhas femininas a ojeriza ao sexo masculino e mulher que age de maneira diferente disso, também é discriminada. Eu mesma já fui excluída de um grupo de mulheres por expressar minha opinião, a de que existem homens íntegros e dignos. Há homens que prestam sim. Já me curei dessa ferida faz tempo, graças a Deus. Não promovo mais a guerra dos sexos.
Vou te contar uma experiência que vivi. Um dia peguei um uber e era uma motorista mulher. Respirei aliviada. Engatamos numa conversa que enveredou para o universo masculino. Num determinado momento da conversa a motorista estava agitada, inflamando o tom de voz e gesticulando exageradamente enquanto metia o pau em homens. Concordei com tudo que ela disse e defendi seu posicionamento porque era exatamente como eu pensava também, porém quando eu disse: “Mas nem todo homem é filho da puta. Existem homens decentes e que prestam sim”, menina! O semblante dela mudou na mesma hora. Ela “murchou”, começou a falar baixo, virou para frente e dirigiu. Seguimos batendo papo, todavia, de maneira desinteressada e protocolar. Nem reconheci a voz dela. Ali, naquele momento virou uma chave para mim. Deduzi claramente que está incutido no comportamento feminino a vaidade de falar mal de homens. É como um vício. É “bonito”. Ademais, para mim se fez indiscutível e incontestável que está presente no inconsciente feminino que se alguma mulher não fala mal de homens essa mulher é uma decepção. Se reportar aos homens de maneira negativa, ou melhor, teimar em não admitir que existem homens com caráter, é uma toxina que muitas mulheres ainda precisam injetar na veia para se sentirem empoderadas.
Entretanto, sentenças desse tipo não são empoderamento, e sim uma ferida emocional aberta que não sara. Para seguir em frente prosperando é primordial reconhecer e aceitar esse fato e buscar ajuda profissional para compreender que necessidade é essa de enquadrar todos os homens dentro de um mesmo padrão.
Em suma, esta matéria está chegando ao fim e eu mais uma vez, intento te instigar uma reflexão: enquanto você não se achar merecedora do direito natural de ser mulher e entrar no fluxo do universo feminino, aceitando como as coisas realmente são, você vai continuar exausta, desejando que as coisas fossem diferentes para nós.
Desejo um lindo fim de semana para você, almejando que você esteja sendo amada e se deixando amar. Isso é o mais importante. Só chega para nós o que nós permitimos.
Com carinho,
Alíne Valencio.