Solitude é autoconfiança, solidão não.
Por Cigana Carmem.
Minha querida leitora,
O assunto de hoje é um tanto espinhoso, mas necessário. Passei o dia inteiro sem a menor inspiração e um tanto apreensiva se eu realmente encontraria o tema dessa matéria. Aí decidi pedir a Alíne que fosse dar uma volta para buscar inspiração. Dito e feito, ele apareceu. Só senti ela respirando fundo, aliviada, e na verdade o assunto de hoje veio da própria experiência do que está acontecendo com a Alíne hoje. Ela estava se sentindo sozinha, como se só existisse ela no mundo. Ninguém em casa, tudo quieto. E ela começou a sentir algo ruim por conta dessa solidão. Foi aí que veio a virada de chave. Quando nos sentimos sozinhos é porque estamos olhando para fora de nós, buscando respostas no externo, e cada vez mais nos distanciando da nossa verdade, pois ela está dentro da gente.
Na verdade, a solidão é um sentimento egóico e vitimista. Sim, exatamente isso. E pode ficar brava comigo viu? Eu não me importo, uma vez que minha missão é falar a verdade, e a verdade nem sempre é agradável. Contudo, necessária, porque o desconforto é que faz crescer, evoluir e adultecer. A solidão, falando claramente, é uma serva do seu inconsciente, que se recusa a deixar ir aquilo que te afasta de ti mesma e que você não quer desapegar. E abro aqui um parênteses para recordar que desapego não corresponde somente à aspectos materiais, mas também e inclusive de memórias inconscientes de vidas passadas. E essa é uma das razões primordiais que nos conduzem para fora de nós. Até porque, no mundo material, e mais especificamente no ocidente isso não se ensina. Pelo contrário, é até mesmo desestimulado. Logo, o processo do autoconhecimento se torna uma longa, árdua e extremamente difícil caminhada.
Ora, se nos sentimos sozinhas, quer dizer que estamos distraídas do nosso interior que a todo momento está nos sinalizando que esse sentimento é uma ilusão que advém da cortina cor-de-rosa que o ego impõe aos nossos olhos. Sim, pois quando nos percebemos distraídas de nós mesmas não conseguimos compreender que não estamos sozinhas nunca. Em primeiro lugar porque temos `a nós mesmas, e todas as respostas estão dentro nós. Em segundo lugar porque nossos amigos espirituais estão conosco a todo momento. E todos temos uma equipe de protetores nos guiando. E mais uma vez, repito que não estamos acostumados a nos preenchermos de nós mesmas. Porém, a distração é o fator primordial que atravanca a nossa visão além da matéria e nos faz acreditar que somos ou estamos sozinhas.
A solitude é isso. A certeza de que em qualquer circunstância temos a nós mesmas e a Deus. A solitude é a paz de espírito, o alívio e a calmaria que essa certeza nos proporciona, e aí sim nos tornamos hábeis para seguir nosso caminho aproveitando cada passo da jornada da vida, porque sabemos que tudo vai acontecer no tempo certo. O tempo de Deus. Por isso, solitude está diretamente ligada com autoconfiança. Quando confiamos em nós mesmas de verdade, a gente simplesmente não tenta controlar nada, porque nossos canais intuitivos e espirituais se expandem e se abrem para receber todas as informações necessárias para seguirmos em frente esperando aquilo que já sabemos que vai acontecer. E essa espera é plena, sem ansiedade e sem solidão.
A solidão tem a ver com insegurança, dúvida e medo. A solitude não. Muito diferente disso, ela nos faz sentir bem. A solidão não. A solitude nos preenche de nós mesmas, independente de estarmos acompanhadas ou não, de termos um relacionamento afetivo com outra pessoa além de nós mesmas ou não. A solitude tem a ver com o estágio em que se encontra a nossa solidez emocional. Está proporcionalmente ligada às bases do nosso edifício interior, porque solitude imprime uma característica de fortaleza psíquica, emocional, energética, física e espiritual inabalável. Quer dizer, aconteça o que acontecer em nossas vidas, seguiremos firmes com nós mesmas, respeitando nosso coração. E fazer isso requer muito tempo de estrada na desconstrução de paradigmas. E desafia por completo e de maneira avassaladora, nossa capacidade recomeçar o processo de desmonte dessas crenças limitadoras quantas vezes forem necessárias.
A solidão nos coloca no lugar de algozes de nós mesmas, uma vez que ao buscar o que acreditamos que falta, fora de nós, nos doamos à recusa de olhar para alguma dor, ou sombra em nós que urge ser curada. E dessa forma é mais fácil buscar na solidão a justificativa para nossa falta de responsabilidade para conosco.
Ademais, atualmente, a sociedade tem estimulado, em especial a nós mulheres a não nos envolvermos afetivamente. A todo momento se propaga que relacionamentos amorosos não são bons e dessa maneira, ainda que de forma proficuamente subjetiva, incentiva as mulheres a não serem vulneráveis, pois isso, seria uma fraqueza. Exatamente como ensinaram aos homens. Percebe? Contudo, a autoconfiança, e portanto a capacidade de compreensão do que realmente é a solitude provém da força interior que somente a vulnerabilidade nos proporciona. Sendo assim, a solidão é uma imensa zona de conforto que cria um cenário ilusório de força, validando discursos como: “Não preciso de ninguém”, “Eu tenho que fazer tudo sozinha”, e tantos outros. Já a solitude é a fortaleza da sabedoria de si. Ou seja, quando sabemos quem somos, naturalmente não permitimos que nada nos afete, tanto emocional quanto vibracionalmente, seja o que for, nunca mais sentiremos solidão. E no momento em que atingimos esse alto patamar de robustez emocional é porque chegamos no ápice do despertar espiritual.
Solidão é carência. Se estamos vibrando na carência, nossa frequência energética é baixíssima, portanto, o resultado é mais carência e mais solidão, e mais a busca por algo material que preencha essa sensação. É uma roda de sansara, um looping que não cessa. Solidão é ir de encontro a algo que nos afirme que tudo aquilo que creditamos ser verdade, é verdade, e assim continuemos no mesmo lugar usando a desculpa para nós mesmas e para os outros que pelo menos tentamos fazer diferente. Mas o que queremos mesmo, agindo assim, é nos enganarmos.
A solitude, por sua vez não acoberta ilusões, uma vez que para atingir tal patamar é fundamental aprender e passar por todas as lições de que precisamos para adquirir a sapiência de que nunca estamos sozinhas e desmantelar a ilusão que é a solidão. Entendendo isso, tiramos um peso gigantesco das costas e conseguimos seguir em paz, leves e plenas, confiando nos planos que Deus tem para nós, sem colocar o ego à frente da certeza de que no fim o melhor para nós aconteceu de fato.
Enfim, minha querida amiga e parceira de jornada, desejo do fundo do coração que os conteúdos que eu trago toquem seu íntimo e te instiguem a encontrar esse estado de solitude e paz interior inabaláveis. Te espero na semana que vem.
Um afago,
Cigana Carmem.