A Promessa de fatos insensatos e incoerentes com a realidade.
Por Gabriela Chepluki.
Amada,
Que atire a primeira pedra a mulher que nunca tentou fazer uma dieta na qual apenas ouviu falar. Algumas de nós podem até caminhar risonhas rumo a este pronunciamento com sete pedras na mão, mas, raro. Se não seguiu uma metodologia dietética completa, ao menos implementou algum mandamento restritivo na alimentação: almoçar alface, viver de sopas, se despedir de doces, não comer mais de duas colheres de arroz, ou até mesmo, não comer o arroz! Desculpe, se você não tem nenhuma memória deste tipo, deixe-me sugerir que erga as mãos e agradeça sua dádiva ao Universo.
Muitas razões já impulsionaram, ou ainda impulsionam, esta nossa busca desesperada por resultados fáceis e rápidos (sim, querida, você reparou que eu me incluí neste histórico de acometimento?) Algumas de nós, no máximo, complexadas com excessos específicos localizados no nosso corpo; outras, com substancial ganho de peso recorrente de mil e um motivos diferentes, os quais merecem íntegro respeito, acolhimento e compreensão. Às vezes, há excesso de peso, às vezes não, às vezes há distorção de imagem, às vezes não. Cada história é uma história, cada organismo um labirinto único de busca pela solução das nossas pendências internas e pela cura, e é isto a primeira coisa que não entra na cabeça de quem quer vender uma mesma dieta, ou qualquer metodologia (na prática, de péssimo embasamento), para vastas distinções pessoais.
Vou te contar um segredo, leitora, e reze para que o Google não me dê um banimento por revelar isto a você.
Você trabalha porque precisa de um salário, certo? Você faz isto porque precisa dos seus cascalhos. Bolas, eu também preciso dos meus! Quem sou eu sem chocolate, creme hidratante e suspenses policiais?
Quando a gente vai falar de trabalhos voltados para a modalidade autônoma, empreendedorismo ou participação no crescimento, propagação de informações e venda de um determinado produto, em nome de uma empresa que cresce, estamos falando de um núcleo (seja pessoa ou grupo) que possui uma ideia inovadora em cujo potencial ele acredita, o qual vai desenvolver para atingir os resultados que almeja, indo sempre além das próprias metas. Ele tem um fundamento, um princípio, um ideal no qual acredita e pelo qual é movido, logo, ele tem um sonho, que é entregar o legado do próprio ideal ao mundo. E, é lógico, tem o objetivo de ganhar dinheiro, e se a ideia é boa, ela certamente proporcionará os louros.
Nutricionistas autônomos, por exemplo, são empreendedores (eu aqui dando a satisfação que todo dia de manhã levanto e digo que não vou mais dar). Porém, nem todo nutricionista autônomo vive de consultas avulsas; às vezes faz dinâmicas de grupos, pacotes de atendimento, desenvolve materiais e metodologias genuínas, ou seja, vende seu serviço. Lógico, o profissional dedica seu tempo, seu estudo e sua paixão para que possa te oferecer um caminho do qual você talvez precisava, e isto é o que dá sentido para a vida dele, mesmo que, óbvio, querida, ele PRECISE e QUEIRA ganhar o dinheiro dele.
Se fosse só sobre dinheiro, o nutricionista poderia ter escolhido qualquer produto em cima do qual faturar. Porém, ele escolheu trabalhar com a sua ciência, porque é o que gosta de fazer, sua paixão pessoal e é a forma através da qual vai contribuir com o mundo.
Agora, saindo do assunto de vibe coach comercial e abrindo uma objeção no foco principal, depois de muito sofrer desvios: e quem NÃO É nutricionista, não tem CRN, diploma nem estudo, e sai vendendo por aí dietas, metodologias e estratégias, sem nenhum embasamento, prometendo que em 21 dias você vai perder o peso que levou 10 anos para ganhar? Este, aliás, é o primeiro fato incoerente e insensato que parte deste tipo de promessa.
Sabe o que revolta a nós, nutricionistas? É ilegal que a gente atenda pacientes ou exerça qualquer área da profissão se o nosso documento não estiver pago e em dia, quiçá sermos apenas estudantes de nutrição e prescrevermos uma dieta nos intitulando profissionais habilitados. Tudo isto caracteriza exercício ilegal, sujeito a distintas formas de punição conforme a gravidade do ocorrido. Porém, o mundo está aí, cheio de blogueiras que querem vender dietas sem entender de bioquímica, enganando geral como se todo corpo tivesse adesão e efeito de uma mesma metodologia, de uma mesma estratégia, que tenha dado certo para UMA “musa fitness”. Estão lá ganhando com engajamento, com falsas promessas, e ninguém está multando a elas. Que ódio, né?
Sinto te dizer, mas mesmo que haja milhares de influencers querendo ter poder de fala, fama e faturar com falsas promessas, nenhuma delas é verdade. Quando não se trata de mentiras, no mínimo, se trata de explicações incompletas, omissas e contraditórias com relação ao que a ciência (que os céticos e rígidos TANTO adoram) já está careca de comprovar.
Vamos abrir os olhos e concordar: a profissão da nova era é ser influencer. E isto não é de todo ruim se você pensar que é para agregar na sabedoria e no conhecimento do ser humano em sua coletividade, de maneira positiva. Mas o problema é que nem todo mundo possui tal boa conduta e é bem intencionado para com o próximo. Visibilidade gera fama, gera dinheiro, e o que quer que atice a curiosidade alheia, qualquer influencer vai usufruir, INCLUSIVE se for uma forma de te apresentar o fruto proibido de uma dieta incoerente, jamais comprovada, mas que é fácil e rápida que, no fundo, é o que você mais gostaria no momento.
Um parêntese para a ressalva: não estou falando dos estilos alimentares que possuem o seu respaldo verídico na ciência, mesmo ainda que nem todos eles sejam para todas as pessoas ou situações. Estou falando da dieta de rede social que te promete perder “10kg em 21 dias”. Desculpa amada, mas a gente não é mais criança para cair nessa.
Agora vamos para o que é ainda pior: os DETALHES. Ah, sempre, tem como piorar, né?
Então deixe-me abrir seus olhos sobre algumas promessas ridículas que você ouviu por aí.
Primeiro fato: você não perde em 21 dias a gordura que levou 10, 5 ou que seja, 2 anos para acumular. Vou te dar um exemplo, querida: para você ganhar um quilo de gordura, você precisa consumir mais de sete mil quilocalorias excedentes. Isto é demais até para nós quando estamos com a skin de capivara raivosa da TPM em atividade. Mas, que diabos nos faz pensar que em 21 dias eliminamos a consequência que plantamos ao longo de ANOS? Não dá, né? É a mesma lógica de explodir uma catedral com uma bombinha de festa junina.
Segundo: mesmo que ocorra a grandiosidade de você perder dez quilos em um mês, sinto muito, amada, mas estes quilos não são gordura. Pode até ser que uma parte realmente seja, mas você terá perdido justamente o que não devia perder: massa magra, água e excrementos intestinais que a sua possível constipação poderia, talvez, estar guardando desde há muito tempo. Quer saber da boa? Quanto mais massa muscular uma pessoa tem, maior é o seu metabolismo (quebra de energia, catabolismo, queima de calorias). Parece uma boa você perder a massa magra que te proporciona este resultado bioquímico? Não, né?
Terceiro: você realmente ficou confortável com a quantidade de comida proposta, que possui proporções para alimentar uma codorna? Pôde saciar sua fome e fornecer os nutrientes básicos, tanto em quantidade como em qualidade, que sua alimentação precisa? Supriu suas necessidades individuais ou lutou contra a fome? Parou para cumprir o horário rígido de um plano alimentar incoerente com a sua rotina? Largou o chicote das mãos quando cometeu algum “deslize”, na ótica das regras neste momento seguidas? E, principalmente, jura que não sentiu vontade de matar ninguém com a irritabilidade consequente?
O terrorismo restritivo de fato te proporcionou um resultado que você sustentou ao longo do tempo?
Reflita.
Se isto veio de um nutricionista, querida, talvez o que você precise mesmo é trocar de nutricionista. Mas tenha sempre seu discernimento em alerta, não é porque um nutricionista, apesar de flexível, participa nas suas mudanças, que ele é um terrorista. Eu sei que você, na sua linda inteligência, sabe da parte que só compete a você. Mas, reflita, se o que está sendo ofertado para você neste momento é o melhor para ti. Avalie sua resposta, avalie seus sinais. Observe se o desconforto que você sente é só o desconforto usual de uma mudança vitoriosa que está em execução ou se, de fato, alguém prescreveu a você algo totalmente incoerente com a sua realidade.
Agora, se as falsas promessas vêm de alguém que nem mesmo nutricionista é, você já sabe a importância que deve dar. Repitam comigo, crianças:
Não devo fazer dieta de influencer.
Não devo fazer dieta de influencer.
NÃO DEVO FAZER DIETA DE INFLUENCER.
O maior terrorismo que você vai ver partindo de mim, é desejar arduamente que você sonhe com esta frase até que ela esteja fundida ao seu subconsciente como leite no café.
Desculpe se isto pareceu cruel para você, mas como eu faço questão de lhe dizer, eu creio genuinamente no seu discernimento e na sua sabedoria. Há verdades que, se eu quero te ver bem, eu não posso, de maneira nenhuma, lhe ocultar.
Pense sobre isto.
Com amor de mula, que nem por ser de mula deixa de ser menos amor,
Gabi.
