O significado mais profundo de uma mesa próspera.
Por Gabriela Chepluki de Almeida.
Ontem foi natal. Muito provavelmente muitas coisas das que vou citar, tinham na sua mesa: salpicão, farofa, arroz colorido, salada enfeitada, maionese, tender, Chester, peru, peixe, mousse de maracujá, cheesecake, gelatina mosaico, torta, rabanada, rios de panetone, pavê (este texto proíbe a execução da piada proibida ao redor da preparação culinária), uva passa até dentro do sutiã. E muito provavelmente, daqui alguns dias, na virada de ano (que, em questão de data, não configura qualquer mudança de comportamento e sim promessas superficiais, convictamente feitas a partir da empolgação emocional do momento), sua mesa vai ter peixe para garantir fartura, porco assado para trazer abertura e avanço de caminhos porque “fuça para frente”, lentilha, ameixas, romã, uvas e pêssego, e outros elementos que supersticiosa e popularmente são tidos como elementos atrativos da fartura e prosperidade para o próximo ano que se inicia. Finalizando, não pode ter frango na virada de ano, pois o frango cisca para trás, e não queremos regressões na vida.
Quando falamos de crença na alimentação, estamos falando de fatos nos quais as pessoas acreditam serem verídicos no aspecto calórico, nutricional e funcional de um alimento. Por exemplo, “pão engorda”. É uma crença, altamente propagada, perdoem-me pelo termo que vou usar, mas porcamente explicada, e desrespeitosamente distorcida. De toda forma, voltando a falar de crenças, quando mencionamos sua existência, nos referimos àquilo que define o aspecto concreto de um alimento e seu efeito direto em um organismo.
Mas, é interessante e curioso pensar que o alimento é um elemento chave em muitos aspectos supersticiosos, culturais e até mesmo religiosos. Mesmo que falemos das religiões mais tradicionais no nosso cotidiano, como o catolicismo, ele está presente, na forma do pão e do vinho. Lógico que muitas outras religiões possuem o alimento mais presente, e de mais formas, como a umbanda, por exemplo, em cujas oferendas estão presentes frutas, bebidas, farofas com ingredientes específicos em seleção e propósito, todos variados conforme o que é dado a cada orixá, orientado por cada falange, ou guia. Mas, ainda assim, os alimentos, sua ingesta ou apenas entrega, estão presentes.
E mesmo quando não seja um hábito contínuo atrelado a uma religião, muitas vezes faz parte de uma prática mais livre (por exemplo, práticas e hábitos de cunho energético espiritual, que não necessariamente são feitos sob as condições de alguma tradição, religião ou dogma). E este hábito, pode também ser contínuo, como assoprar canela todos os primeiros dias dos meses, por exemplo, com a finalidade de atrair prosperidade para a nossa família, como pode ser feito esporadicamente com algum propósito específico, como comer romãs, grãos e carne de porco na virada de ano, para atrair a fartura, a prosperidade, o sucesso e o avanço.
Não desmereço, nunca nesta vida, qualquer prática vinculada deste cunho, que esteja atrelada a qualquer fundamento ou superstição. Algumas delas, as quais eu acabaria desviando o foco do assunto mencionar ou explicar, eu mesma pratico. Minha fé, crença e religião têm consideração fundamental pelo potencial energético dos elementos cedidos pela natureza, para demasiados propósitos, como saúde, cura, prosperidade, abertura de caminhos, entre tantos outros que são do role também seriam capazes de citar.
Observe que, no objetivo maior de alguma prática ou gesto para atrair a fartura, há a intenção de nos vermos sempre em condições de viver bem e com excelência, para podermos desfrutar e estar sempre presentes entre os nossos, em segurança, para podermos sempre viver alegrias na nossa vida. Estimar a prosperidade é estimar o conforto da nossa vivência, a fim de que possamos cada vez mais viver momentos inesquecíveis próximos daqueles que amamos, para que possamos comer com a nossa família e celebrar as bênçãos da vida, sem pensar nas calorias, nos gastos, e sim somente na graça de poder se alimentar com prazer e riqueza.
Portanto, para honrar a simbologia atrelada ao alimento que nos supre e nos nutre todos os dias, eu espero do fundo do coração, leitora, que o cardápio citado inicialmente em nossa conversa, tenha sido prazerosamente aproveitado por você no natal, e que venha a sê-lo da mesma maneira, senão melhor, na sua virada de ano. Lembre-se que, antes de calorias, alimentos são memórias afetivas, cultura, prazer, individualidade e, principalmente, elemento basal da nossa vitalidade, e cuidar da nossa vida com excelência é uma expressão direta do nosso amor por ela, e pelas coisas que nos são importantes. Pelo amor de Deus, pare de deixar o chocotone de lado porque algum nutricionista maluco comparou as calorias de uma fatia com as de um tablete de manteiga.
Lembre-se que o natal é uma época de magia, e o ano novo um gatilho para mudanças concretas e definitivas em nossas vidas. Mesmo com toda a discussão que alguns chatos têm em se revoltar sobre a origem de um feriado oriundo de uma ou outra tradição, estas comemorações carregam nossas memórias em família, muitos bons momentos, gestos de bem-querença entre nós e os que nós amamos, a expressão dos nossos recíprocos desejos de bênçãos e felicidades a quem queremos e aos que nos querem ver felizes.
Para honrar aqueles pelos quais temos amor, aqueles que somos, e aqueles que já partiram, jamais deixe de comer aquilo que gosta nas comemorações, jamais se prive da íntegra de um momento carregado de boas emoções, boas lembranças e bons sentimentos, de amor, pertencimento e gratidão.
Com amor,
Gabi.