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CINEMA BRASILEIRO SOBRE MÃES: DO MITO ROMANTIZADO E DA CULTURA DO ABANDONO PARENTAL.

Filmes brasileiros realizados por mulheres que falam sobre a maternidade e suas complexidades.

 

Por Vanessa Cançado.

– Vai Som, Vai Câmera. Ação!

Amoras (es), você é mãe? É mãe solo? Faz múltiplas jornadas? Conhece alguma mulher nessa situação? Certamente respondeu sim para alguma ou todas as perguntas. Infelizmente. E por que? Há uma romantização da sociedade em torno da maternidade, do papel da mulher. Isso gera a sobrecarga comumente presenciada ou vivida na maternidade, imposta por uma sociedade machista,  que normaliza o papel da mulher enquanto mãe, gerando sobrecargas e exaustão física e mental e podendo acarretar no “burnout materno”.

No cinema brasileiro vemos muito pouco o retrato sobre o tema e os muitos subtemas que podem ser abordados. Quero trazer aqui três filmes que retratam o mito da maternidade, o abandono parental e as transformações acerca de se descobrir e de querer ou não ser mãe. E trazer informações sobre as mulheres de cinema que os criaram.

“INCONDICIONAL: O MITO DA MATERNIDADE” (2024).

Filme realizado por PATRÍCIA FRÓES.

cartaz incondicional mito da maternidade filme

O filme tem como sinopse os questionamentos: “Como pode um período tão cercado de expectativa de felicidade e completude, ser, ao mesmo tempo, tão anticlimático, exaustivo, solitário e melancólico para milhares de mulheres? Por que ainda se fala tão pouco sobre isso? Os números impressionam: cerca de 78% das mulheres passam por algum tipo de distúrbio emocional durante os dois primeiros anos de maternidade. No entanto, apesar de seu evidente apelo, o tema foi pouco ou nada tratado no cinema e na literatura. Com depoimentos de mães, filósofas, psicólogas, historiadoras e feministas, o filme se debruça sobre as muitas imperfeições do mais intocável dos sentimentos: o amor materno”.

Abordando temas centrais como puerpério e as complexidades disso, sobre maternidade idealizada e saúde mental materna, ainda o documentário vai passear pela solidão e exaustão, pela invisibilidade e pela relação da maternidade com os direitos que tangem essas mulheres.

Patricia Froes por Ana Branco para O Globo

Patrícia começou a gestar o filme a partir do nascimento de seu filho Lino, hoje com 9 anos. É diretora, roteirista, produtora e montadora. Estudou cinema na Puc-Rio e direção de arte na Central Saint Martins de Londres e na Universidade de Paris.  Foi curadora internacional do Festival de Curtas do Rio de Janeiro e trabalhou para outros como “É Tudo Verdade” e “Anima mundi”. É diretora do festival carioca Semana (antiga Semana dos Realizadores, realizado desde 2009) e colaboradora dos coletivos – “Audiovisual pela democracia”,  “Partida” e “Mostra Cinema pela Democracia”.  Foi pesquisadora do longa “Meia Hora – As manchetes que viram notícia” (2015) e produtora executiva dos documentários “O Gato de Havana” (2016, exibido nos festivais de Havana, Miami, Guadalajara e Rio) e “Radical” (2013, melhor filme estrangeiro no Long Beach International Film Festival). É também produtora do curta “O Clube do Otimismo” (2017) e montadora de Histórias para Contar” (2017). Para TV, escreveu, dirigiu e produziu séries como “Peça Piloto” ( GNT/Globosat), “Musica.doc” (VH1) e “Rally Mongol” (Multishow/Globosat). Editou catálogos para mostras como “Errol Morris – A vida Real Cabe no Bolso” e desde de 2013 é colaboradora da Revista Elle na editoria de cultura.

Na ficha técnica do filme há uma rede de outras mulheres de cinema que quero destacar: as roteiristas TATIANA BACAL, LIVIA ARBEX e ANA ABREU; produção de VANIA CATANI; direção de arte de JULIA LIBERATI; a montagem de LIVIA ARBEX e no elenco tem KARINE TELES, LUCIANA FRÓES, ELISABETH BADINTER.

Trailer Oficial do filme: https://www.youtube.com/watch?v=Cwn4em0St0U 

“EU TAMBÉM NÃO GOZEI” (2023).

Filme realizado por ANA CAROLINA MARINHO.
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Foto Ana Carolina (Mylena Sousa/Divulgação)

Produtora e Roteirista, Ana iniciou na direção com esse documentário. Tem em sua filmografia: “A Mãe”(2022); “Batalha”(2019) como diretora de produção; “Elegia de Um Crime”(2018); “Antes do Fim”(2017); “No Vazio da Noite”(2016) e “Estopô Balaio”(2016).

Cartaz eu tambem nao gozei filme

O filme tem na sinopse a personagem “Letícia, 28 anos, que descobre que está grávida, mas não sabe quem é o pai. São quatro possibilidades de paternidade. A reação dos possíveis genitores é a mesma: esse filho não pode ser meu, eu não gozei. A gravidez solitária provoca uma reviravolta em sua vida. Quando a criança nasce, sua inquietação ganha forma, ela vai em busca de descobrir quem é o pai de seu filho”. Temas como paternidade negada, gravidez solitária, pertencimento centralizam a narrativa, que também aborda o machismo e seus reflexos, a solidão materna e o apagamento feminino, o papel social da maternidade.

Na ficha técnica outras mulheres de cinema para destacar, entre elas: a Produção de  AMANDA BORTOLO que também assina o roteiro, fotografia e câmera; as roteiristas ANNA ZÊPA, LUZ BÁRBARA, LETÍCIA BASSIT e a Montagem de CRISTINA AMARAL.

Teaser do Filme: https://www.youtube.com/watch?v=5vuXlwyWBww

“MAR DE DENTRO” (2020).

Um filme de DAINARA TOFFOLI.

Mar de Dentro poster

 

O filme tem como sinopse a história de Manuela. “É uma mulher bem sucedida em seu trabalho como publicitária,  mas de repente precisa lidar com as mudanças físicas e de rotina ao descobrir que está grávida. Ela não havia contemplado a maternidade e ser mãe estava longe de seus planos. Mas, com o nascer do bebê, ela precisa aprender a ser mãe e cuidar de seu filho”.

Muitas camadas são abordadas no filme, entre elas, o impacto da gravidez na vida profissional e pessoal da protagonista. O conflito da maternidade não planejada e a construção da identidade materna são alguns dos pontos abordados. Além da romantização desse papel que é imposto pela pressão social.

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Foto: Califórnia Filmes/Divulgação

A frente do filme, Dainara Toffoli – produtora, roteirista e diretora, nascida em Porto Alegre, onde ingressou no cinema em 1989, quando entrou para a Casa de Cinema de Porto Alegre e trabalhou com Jorge Furtado no documentário Ilha das Flores (1989). Filmografia: “Pecadora” (2025); o curta “Um Homem Sério” (1996), o documentário “Dona Helena” (2005). E as séries “Amigo de Aluguel” (2018), “Manhãs de Setembro” (2021), “De Volta aos 15” (2022) e “As Five” (2020), spin-off de “Malhação: Viva a Diferença” (2017).

Na ficha técnica vale destacar as atuações de MÔNICA IOZZI como protagonista e GILDA NOMACCE no elenco. E assina também o roteiro e produção ELIANE TEIXEIRA e no figurino tem ALINE CANELLA.

Trailer do Filme: https://www.youtube.com/watch?v=7qXefoEsmQI

Maternidade sem romantização: Um debate urgente no audiovisual e na sociedade.

A romantização da maternidade traz consequências desastrosas e é uma das formas mais cruéis de opressão de gênero imposta pela sociedade machista. O burnout materno pode ter como sintomas a baixa autoestima, sentimento de impotência ou culpa, depressão, variação de humor, insônia, enxaquecas constantes, compulsão alimentar ou falta de apetite, frustração, e por aí vai.

É sério, e precisamos falar cada vez mais sobre. No audiovisual, as profissionais mães além de passar pela jornada dupla e, muitas vezes solitária da maternidade, ainda bate de frente com a volta ao mercado de trabalho, que muitas vezes precisa optar e deixar,  as dificuldades para esse retorno e preconceito do mercado. A sobrecarga em cima da mulher sobre as convenções conservadoras de que toda mulher tem como desejo maior a vontade de ser mãe também é cruel e patriarcal, como subterfúgio de controle.

De acordo com a estatística atual 6,9% é o índice de crianças registradas com “pai ausente” e aproximadamente 11 milhões de mulheres criam seus filhos sozinhas. E você conhece outros filmes em volta dos temas?  Compartilha aqui nos comentários.

Até a próxima cena!

Abraço afetuoso,

Vanessa.

 

CINE RECORTE

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Cine-Recorte: Dica da colunista

A série da Netflix MAID (2021) – Uma mãe que tenta fugir de um relacionamento abusivo.

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