Moralidade sexual é para quem tem medo de ir para o inferno. Sexualidade Sagrada é para quem já esteve lá.
Por Alíne Valencio.
Deusa,
Nunca vi época mais perdida e conservadora que essa que estamos vivendo. Mas, o pior mesmo é perceber as pessoas acreditando piamente que são modernas e cabeça aberta! Que patético! As pessoas se dizem modernas e abertas, mas isso vai até a página B. Desde que essa suposta e falsa modernidade não mexa com a zona de conforto delas ou com seus paradigmas morais e religiosos. Se isso acontece, nos deparamos com feras raivosas e egóicas tentando nos massacrar. Tudo isso porque a moral religiosa impera no inconsciente coletivo, em especial no que diz respeito à sexualidade, mas mais precisamente à sexualidade feminina.
Desde que a Igreja Católica inventou que Maria Madalena era uma prostituta, com o intuito de desviar o foco do fato de que ela trazia o resgate do poder feminino, até hoje, a sexualidade da mulher está diretamente ligada à valores morais degradantes e humilhantes. E não tente tapar o sol com a peneira, minha deusa. Sim, a Igreja mente para nós há milênios. Assim como os romanos renegaram Jesus por ele não ser o Jesus que eles esperavam, Maria Madalena também foi renegada tão somente porque era uma Bruxa, um grande sacerdotisa, que veio ao mundo para auxiliar seu amado, Jesus Cristo na sua missão, que também era dela. Afinal, os dois, como chamas gêmeas, tinham a maior missão que já existiu na face da terra: a cura através do amor incondicional.
Você reprime sua sexualidade porque tem medo de ir para o inferno?
Contudo, mesmo antes de conhecer Jesus, Maria Madalena já possuía um conhecimento extraordinário de tudo que se referia à energia, espiritualidade, natureza e cura. Ela já tinha poderes místicos e curativos. Era curandeira. Agora, imagine você, uma mulher naquela época ser tão poderosa? Era preciso dar um jeito nisso imediatamente antes que outras mulheres começassem a perceber o quão eram poderosas também e passassem a seguir sua própria intuição e seu coração. Isso simplesmente assolaria o castelo de areia da igreja. E então, a melhor e mais eficaz maneira de ‘acabar’ com a moral de uma mulher é se valer de golpes baixos, usando sua sexualidade como artifício de opressão.
Nessa época, ou seja, quando Jesus e Maria Madalena estiveram aqui encarnados, a igreja católica já existia há muito tempo e por muitos séculos articulou estratagemas eficazes para criar um Jesus que nunca existiu e incutiu na cabeça das pessoas não só essa verdade, como preceitos morais que ELE nunca disse. Como a repressão sexual por exemplo. Logo, essa era a arma mais eficaz, em especial contra a figura feminina, uma vez que já havia a ideia de santidade e castidade e a distorção da ideia de virgindade, que remetia à Maria mãe de Jesus. Em suma, com essa cartela de dogmas castradores, seria fácil manipular e distrair as pessoas, uma vez que estava encrustado no inconsciente coletivo que mulheres deveriam ser puras, castas, obedientes e santas. Nada além disso. Qualquer mulher que estivesse fora desse padrão era mal vista e desprezada.
É você que cria o inferno dentro de ti.
Eu sei, é duro ouvir isso sem ficar indignada. Porém, só cultiva esse sentimento quem não está num nível de consciência que permite compreender que uma mulher que tem total conhecimento do seu poder interior e vive à serviço dele, não é uma mulher convencional, obediente e que cultiva preceitos morais. Até porque, ‘o que é moral’, não é mesmo? Ser conhecedora do seu poder interior requer profunda sabedoria sexual e contato com a energia vital, que vem dessa sabedoria. Quando porém, limitaram a sexualidade à sexo, também a reduziram à ‘pecado’, associando essa conjuntura à palavra de Deus, e consequentemente de Jesus. Mas, quando ele empoderou e exaltou Maria Madalena, e mais, se casou com ela e lhe deu uma filha, não seria possível, para a igreja, sustentar uma coisa como essa.
Dessa forma, difamar Maria Madalena conferindo-lhe a alcunha de puta foi a mais certeira tática de castração do poder feminino. E esse adestramento da figura, do corpo, da alma feminina, se consolidou no tempo, pelos séculos, por milênios e se perpetua hoje, fundamentado nos mesmos alicerces moralistas e conservadores, que rebaixam a divindade que mora na sexualidade, em especial na sexualidade feminina. Não precisa ir muito longe. Basta observar, muitas vezes, nossos próprios pensamentos quando nos deparamos com um comportamento considerado ‘inadequado’ para uma mulher. Muitas vezes, nós mulheres nos pegamos julgando outra mulher. De onde você acredita que se origina esse pensamento? Vem dessa premissa inconsciente, coletiva, e profunda de moral sexual e da ideia de pureza e obediência feminina, que sim, vem de um autoritarismo religioso, mentiroso e repugnante.
O automatismo arraigado na sua mente.
Esse comportamento é tão automático, inconsciente, que nem mesmo nos damos conta, apenas repetimos, perpetuamos. E pior, continuamos sendo incentivadas a nos manter como moças boazinhas e obedientes, de maneira inconsciente claro. Mas, não servir à Deus e sim ser subservientes à igreja. Compreende minha Deusa? São coisas diferentes. Obedecer à Deus e obedecer à Igreja. E era esse reinado que a Igreja não poderia perder, e que seria desbancado por uma mulher.
Se você acredita que hoje, enquanto mulheres nós somos livres, eu discordo. Nós estamos constantemente numa batalha, tanto interna quanto externa. Interna porque tememos sair ‘da caixa’ e sermos apontadas e marginalizadas, e externas porque, muitas vezes, o fardo de carregar um estigma milenar que nos condena a todo instante enterra por completo qualquer possibilidade de reconexão com nossa sabedoria interna. E fomos treinadas para buscar fora de nós, numa igreja por exemplo, as respostas mais óbvias que seriam encontradas facilmente se tivéssemos aprendido a consultar nossa alma e nosso coração.
Maria Madalena e seus ensinamentos para a mulher atual.
Mulheres, moral religiosa e espiritualidade.
É nesse aspecto que Maria Madalena é imprescindível para o Sagrado Feminino e as mulheres. E também para a nossa época e a nova era que se aproxima. Essa retratação histórica que está acontecendo agora não é à toa. E não estou me referindo ao reconhecimento que a igreja concedeu à Maria Madalena não, porque não acredito que ela tenha feito isso porque realmente reconheceu seu erro e sim porque ainda quer permanecer no poder através da manipulação da subjetividade humana. Isto fica claro, ainda hoje, nos discursos moralistas dos pontífices que estão no alto escalão da Igreja.
A importância de Maria Madalena para a mulher atual se dá por meio dos seus ensinamentos, que nos afirmam que por mais que ainda tentemos fugir de nós mesmas, a vida vai nos dar lições até que finalmente nos rendamos e rumemos em busca de nós mesmas, sem a necessidade de orientações e cartilhas externas, onde nós seremos nossa própria bússola.
Acreditar que precisamos de validações externas para tomarmos nossas próprias decisões é uma crença, minha Deusa. E é assim que crescemos. Aprendemos que somos carentes de sabedoria interior, a ponto de sentirmos necessidade de nos consultar com um padre, de confessar nossos erros (que são chamados de pecado), por exemplo. Ora, se estamos aqui para aprender e tudo é um aprendizado, onde entra a ideia de pecado? Mas, essa é mais uma ilusão criada por uma sociedade que nos adestra para abraçar essa ideia. Você compreende?
No momento em que você se entregar aos desejos da sua alma, nunca mais você vai precisar de validação externa, porque Deus está dentro de ti e não nas palavras que você profere em uma confissão, esperando uma resposta do padre para te absolver, te dando uma falsa certeza que você busca para continuar justificando para si mesma que o que você achou que acredita até hoje é mesmo verdade. Enfim, qualquer necessidade de validação externa é apenas um reflexo de uma carência de si mesma e da sua inabilidade e falta de coragem de olhar para dentro de si e assumir o seu poder. Foi isso que Maria Madalena fez e foi justamente por esse motivo que ela foi tão marginalizada e mal falada.
Aliás, termino essa matéria te convidando a ser dona do seu nariz e aproveito para te perguntar: pronta para ser ‘mal falada’, ‘uma menina má’ e ‘desobediente’?
Nos vemos na semana que vem.
Um beijo desobediente para você.