Mulher- fornecedora de prazer para o machismo estrutural.
Por Alíne Valencio.
Olá minha amiga poderosa. Aqui estou mais uma vez, ansiosa para te encontrar, porque tenho convicção de que, você está buscando ser, ou já é, uma mulher empoderada e dona do seu nariz. Muito bem, você está de parabéns. Contudo, ainda vivemos numa sociedade onde, lamentavelmente, presenciamos nossas irmãs mulheres, muitas vezes, se submetendo a situações humilhantes e degradantes para manter um homem por perto, mesmo que esse ser do sexo masculino seja, unicamente um ficante. Mas, sabemos que determinados comportamentos, ou a maioria deles, são frutos da educação que a nós é atribuída. Educação essa, pautada na obediência, no recato e na moral. E mulher que “tem moral” está para servir. Não obstante, imediatamente ela sirva o homem, é descartada por completo, porque é assim que o patriarcado opera. Nós mulheres obedecemos, servimos, somos descartadas e nos calamos.
Qualquer possibilidade de conduta diferente desse modus operandi, é declaradamente atacado. Especialmente quando se trata de uma mulher. Não é mesmo? Nas próximas semanas, gostaria de lançar alguns questionamentos a respeito de como lidamos com nossos corpos e do que toleramos que façam com ele. E mais, porque consentimos inúmeros abusos e violência contra nossos corpos. Destarte, começo essa conversa trazendo uma abordagem sobre nossa sexualidade, que infelizmente, está banalizada e como essa mediocrização de nossos corpos fortalece cada vez mais o patriarcado. Minha amiga, você costuma praticar sexo virtual? Mais especificamente falando, com algum ficante? Amiga, estou me referindo, nesse momento, aos ficantes, não maridos ou namorados. Embora, o que pretendo problematizar no bate papo de hoje, esteja indiretamente ligado à relacionamentos sérios também. E logo mais, conversaremos sobre este fato.
Porque eu estou te fazendo essa pergunta, deusa poderosa? Porque, na minha opinião, e me dou o direito de opinar, uma vez que esta coluna é toda minha, ahahaha, essa atitude consolida ainda mais o patriarcado e sua estrutura machista e misógina. Você quer saber como? Pois bem, vamos lá. A partir do momento em que você não tem um relacionamento sério, e mesmo que tivesse, nesse caso, também deveria haver restrições, e você pratica sexo virtual com um ficante, que provavelmente não precisou se esforçar para estar com você, claro, já que, se você está praticando sexo virtual, esse ato não está acontecendo presencialmente, certo? Certo. Sendo assim minha amiga, te convido a raciocinar comigo. Se o rapaz é um ficante, não há compromisso entre os dois ok? E no sexo virtual, ele está lá, na casa dele, bem confortável em sua cama, não gastou gasolina para te buscar, não viu absolutamente nenhuma necessidade de te chamar para sair, e isso gerou para ele um ótimo ganho, considerando que não foi necessário pagar nenhum restaurante para vocês correto? E além de todas essas facilidades ele ainda gozou minha amiga, porque você propiciou esta delícia a ele.
Deusa, entenda uma coisa, quando nos submetemos a esse tipo de situação, você consegue
visualizar que, nos tornamos meras fornecedoras de prazer para o homem? É triste constatar que já nos prestamos a este papel não é mesmo? Mas, não se sinta mal por isso. Eu também, lamentavelmente, já me coloquei nesse tipo de contexto, simplesmente porque era tomada pelo
receio de perder “aquele falo”. Entretanto, hoje tenho cabal compreensão de que, o que eu não
queria perder, era mesmo a certeza de que não precisaria encarar o fato de estar me submetendo a isso porque eu tinha medo de enfrentar o verdadeiro motivo que me levava a aceitar me subjugar dessa forma. E o que pretendo com essa explanação é reforçar o quanto esse comportamento, além de sustentar o patriarcado, que nos enxerga exatamente dessa forma: como meras fornecedoras, não apenas de prazer para um homem, como também, de afeto, de obediência e servidão. Em síntese, a mulher deve servir ao homem, de todas as formas. E ao praticar sexo virtual com ele, sem que ele tenha feito absolutamente NADA para merecer isso, você acredita que está se colocando em que lugar minha amiga? O de servir, é lógico. Você o serviu, de prazer, e ele fez o que por ti? Hum? Me diga? Reflita sobre tudo isso.
Outro aspecto importante desse tema, é que, a virtualização do sexo perpetua o famigerado
distanciamento entre os seres humanos, mas principalmente, a facilidade de ter tudo nas mãos, num simples clique, e assim, cria uma geração homens mal acostumados e folgados. É isso mesmo minha amiga. Quer ver? Faça um teste com este ficante com quem você está tendo relações sexuais virtuais e se recuse, uma vez que seja, a fazer novamente, e imponha algumas condições, como, por exemplo, um encontro pessoalmente e você vai ver como ele vai te tratar.
Depois, volte aqui e me conte se não tenho plena razão. Além do mais, nada supera, para mim, o toque, o olhar, o cheiro, as carícias, as palavras, as preliminares, um vinho e tudo o mais que envolve uma relação sexual a dois. Daqui a pouco, as mulheres vão pegar o seu tesão, enfiar dentro de um envelope, e mandar por sedex, que vai para o centro de distribuição do correio e em seguida, chega ao destino, ou seja, ao homem, que recebe a encomenda, e na embalagem está escrito: “Olá, seu tesão chegou”. E o cidadão, nem sequer vai ligar para agradecer, dada a facilidade com ele consegue ser servido, abastecido e suprido nas suas necessidades, sejam elas quais forem. E pior, muitas mulheres vão se intitular empoeiradas viu? Deplorável realidade não é? Pois é. Afinal, muita mulher se orgulha de sair com um homem e ter ido buscar o bendito em casa, pagado o jantar, o motel e a gasolina para depois levar ele de volta pra casa. Não tem alguma coisa errada nisso tudo? Pra mim tem, e muito errada. É a mulher se depreciando e o patriarcado se esbaldando. Isso sim!
Deusa poderosa, vamos conversar um instante aqui acerca do que é ser uma mulher empoderada? É claro que esse é meu ponto de vista e falo para quem se identifica com meu pensamento. Porém, esta coluna é para todas, mesmo para as mulheres que não concordem comigo. Então, siga meu raciocínio. Deusa, perceba o seguinte: você tem valor, amiga, você é um diamante, uma rainha, logo, para ele FICAR com você requer esforço, empenho e dedicação, ainda que seja um simples ficante.
Isso mesmo. E tem mais: É VOCÊ QUE ESCOLHE ELE e não o contrário! É você que impõe as regras, e não ele. E se ele não gostar amiga, isso não é problema seu, você me entende? Por acaso você é depósito de esperma para ele se esvaziar e ir embora? Por acaso você é terreno baldio, onde ele vai lá, se alivia e nem olha pra trás? Por acaso você é delivery onde ele, sem nem ao menos sair de casa, recebe o que deseja pelo celular? Daqui a pouco haverá uma variada cartela de opções num cardápio com todas os serviços que você oferece, aí você envia para ele por mensagem de whatsap, ele nem pergunta se você está disposta a realizar aquele tipo de “serviço”, mas mesmo assim ele escolhe, porque afinal de contas, toda a facilidade está lá nas mãos dele, literalmente, uma vez que ele usa as mãos para escolher o que ele quer de você e depois para ele mesmo resolver o problema dele com as próprias mãos, olhando para sua foto pelo whatsap e gozando minha amiga.
E você??? Você propiciou para ele toda essa facilidade, e acredita que ele vai, um dia te chamar pra sair, te tratar como uma rainha e vocês vão casar e ser felizes para sempre. Não amiga, isso não é empoderamento. Musa. Com esse tipo de comportamento estamos reforçando, validando e consolidando ainda mais o patriarcado, porque assinamos um atestado de disponíveis, submissas e subservientes. Quer dizer, estamos literalmente enviando a mensagem de que “estamos aqui para servi-los”, mesmo que eles não precisem se aplicar na tarefa da conquista. Não amiga! Esse pensamento é completamente equivocado. Homem, tem instinto caçador, sendo assim, eles gostam, amam, adoram a mulher que se impõe e diz NÃO!
Portanto, quando nos submetemos à sexo virtual estamos literalmente mostrando a eles como toleramos e permitimos sermos tratadas. Percebe? E talvez você me diga: “Tá, mas e se eu quiser, se for uma escolha minha fazer sexo virtual com ele”? Ok! Você é dona do seu nariz, dona da sua vida e das suas vontades, e se for você que não está com a mínima vontade sair de casa e quer gozar mesmo assim?
Amiga. Os vibradores estão aí para isso mesmo. O vibrador não vai te tratar como um objeto que está lá para servi-lo. Ao contrário ne? Bem o contrário! Todavia deusa, se ainda assim você está disposta a se colocar nessa situação, tenha consciência da mensagem que você está transmitindo para ele ok? Eu sei que o que ele pensa, pouco importa. Concordo plenamente, porém, ainda, assim estamos reforçando ainda mais as premissas do patriarcado. E não espere nada mais além de inúmeras outras vezes em que ele vai te procurar para satisfazê-lo. Eu, Alíne, defendo a premissa de que se ele quiser transar com você minha amiga, que levante a bunda cadeira, tome um banho, coloque uma roupa decente e venha te buscar, pague o jantar, e te leve a algum lugar digno para que vocês tenham relações sexuais. E isso amiga, é o mínimo. Isso mesmo, o mínimo que ele deve fazer por ti. Mesmo que seja para uma noite apenas. Não estamos falando aqui de relacionamento sério, porque aí o buraco é bem mais embaixo né? Isso tudo, é o que teu ficante deve fazer por ti se quiser uma noite amor contigo, compreende? E eu, como sexóloga te afirmo: você não deveria se submeter a esse tipo de cenário.
Minha amiga. Talvez, hoje, tenha sido uma conversa difícil pra você. Entretanto, ser dona do seu
nariz dói muito. E Para isso acontecer, é primordial, aceitar nossos erros e nos comprometermos com afinco e generosidade para mudar. E, você mais do que ninguém, saiba que pode contar sempre comigo. De verdade. Inclusive, sempre que precisar me procure no instagram, @alinevalenchioatriz, e nós vamos bater um papo em particular e eu vou te auxiliar a enxergar o valor que você tem, e parar de aceitar qualquer coisa de um ser do sexo masculino. Vamos juntas? Espero seu contato.
Até a próxima semana.
Um beijo.
Alíne Valencio.