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DINÂMICAS DE PODER NO SET: A SOMBRA DO MANSPLAINING.

Mulheres navegando no mar da presunção masculina

              Mulheres navegando no mar da presunção masculina.

Por Vanessa Cançado.

-Vai som, vai câmera. Ação!

Mulheres navegando no mar da presunção masculina

Olá Amoras (es). Não sei vocês, mas eu perdi as contas das vezes que vi minhas falas
cerceadas, por ser mulher. Às vezes fico me perguntando o que assusta tanto os homens.
Será o poder de resiliência nata que nós mulheres carregamos? Sim, porque deve assustar conviver com seres que sangram todos os meses, e ainda assim, sobrevivem.

No cinema, um segmento muito masculino, como sabemos, e os números estão aí para confirmar. Um meio machista. É comum nos mais diversos setores, alguma mulher passar pela fatídica ação de algum homem pousando sua “gentileza” de explicar o óbvio, ou de questionar para testar ou, ainda, replicar a frase machista corriqueira:

– “Você está bem, você está de TPM”?

Total mansplaining, porque eles quase sempre pressupõem que a mulher está ali sem realmente entender sobre o assunto, ou o trabalho que está exercendo. Além disso, a explicação é básica, rasa, e pior, muitas vezes vem acompanhada pelo trejeito infantil.

Na área de produção, por exemplo, precisamos lidar com isso um dia sim, e outro também. E olha que a função de produtora é uma das funções “aceitáveis” dentro do meio, de ser exercida por uma mulher. Se estiver na direção do filme, aí o radar de alerta tem que estar afiado, porque é um teste atrás do outro. Uma sabotagem aqui e outra logo ali na frente. Mas pasmem, já vi ações assim serem aplaudidas por mulheres em set, o que acho muito pior –infelizmente mulheres machistas existem. Até porque, muitas vezes esse

Mulheres navegando no mar da presunção masculina-2

homem está numa posição de
hierarquia com essa mulher
condescendente.

Mansplaining não é apenas
uma palavra, mas todo um conceito
de quando somos subjugadas, e nossa liberdade é aceita até determinada função, ou espaço.
Estou falando do meio cinematográfico, mas sabemos que em outros setores não é diferente. No cinema, muitas das profissionais são ignoradas em suas funções, nas suas contribuições. Isso fica visível em reuniões criativas e técnicas. Já presenciei algumas vezes e já senti na pele.

Quando estamos realizando o projeto de um filme, estamos todos no mesmo barco e não dá para remar, e ainda cuidar do coleguinha que quer furar o casco do barco com a colher, só para tentar induzir-nos ao “erro” para entregar aos tubarões e depois poder dizer: – “Eu não disse”? Não homens! Sejam melhores, vocês podem melhorar. O equilíbrio nas relações, traz diversidade nas perspectivas, e isso é mola propulsora para projetos mais inclusivos, e para trazer frescor.

Uma vez estava numa reunião “cacete” de produção, dessas bem espinhosas, e após explanar alguns caminhos interessantes para a continuidade do projeto, além de ser ignorada em minhas ideias e colocações, fui interrompida e surrupiada por um colega que fez as mesmas colocações com palavras sinônimas e algumas frases iguais. Resultado? Acataram ao colega, que ainda
foi elogiado como se a ideia tivesse partido dele.

E vocês amoras, quantas vezes em seus trabalhos foram interrompidas por algum colega, ou receberam conselhos tolos de como fazer o básico em sua função? É cansativo!

Precisamos cada vez mais criar redes de apoio, e melhorar nossas composições de equipes, com mais equilíbrio da gangorra, para que não sejamos tachadas de “loucas” e “histéricas” cada vez que nos posicionarmos diante de homens hierarquicamente na mesma posição, ou abaixo da nossa função, mesmo que exerçamos uma direção, ou uma produção horizontal. Sem contar que recebemos esses singelos elogios quase sempre depois de exaustivas tentativas de sermos ouvidas. Fiquem bem atentas.

Até a próxima cena!

Abraço afetuoso,
Vanessa

CINE RECORTE

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Cine Recorte: Amoras (es), minha dica é para você que está querendo entrar no segmento
de cinema ou está começando a escrever para cinema e mesmo para quem já escreve
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“Como Escrever Séries”

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