“Então, como um fogo esquecido, uma infância sempre pode se acender de novo em nós”.
(Gaston Bachelard).
Por Alíne Valencio.
Deusa,
Espero te encontrar bem nessa sexta feira. Em especial depois da série de matérias que fiz sobre o livro “Nos Submundos da Antiguidade”, de Catherine Salles. Ou melhor, tão somente a respeito de um capítulo ou outro, pois a obra é enorme e é preciso muita dedicação, amor e disciplina para sorvê-la. Contudo, o conteúdo abordado nas matérias já foram suficiente para reforçar, mais uma vez, a importância de compreender a sexualidade feminina sagrada. Você que me lê toda semana e gosta do meu conteúdo, sabe e já atinou para o fato de que a premissa dessa coluna é te guiar pelos caminhos internos dentro de ti que te levem a se libertar, por ti mesma, dos grilhões que te aprisionam e que você tenha a coragem de sustentar até o fim a nova mulher que você vai encontrar quando retirar todos as algemas. Espero sincera e profundamente que você tenha gostado e que essas matérias representem para você uma luz, uma inspiração e um incentivo para ir até o fim em busca da sua essência e da sua verdade. Que elas se façam reflexo da certeza de que não estás sozinha nessa jornada.
Sendo assim, decidi fazer um texto que represente um fechamento de ciclo dessa série e o início de uma nova leva de assuntos fundamentais acerca do Sagrado Feminino. Aliás, é imprescindível lembrar que sim, estou ressignificando o conceito de Sagrado Feminino, contextualizando-o para a realidade material, física e concreta da mulher. E é claro que o seu lado espiritual é a base do entendimento dessa filosofia de vida. Mas, seria até grotesco acreditar que somente o viés do autoconhecimento é importante no sagrado feminino. Ora, estamos aqui vivas, vivendo a realidade de ser mulher em 2024, logo o sagrado feminino precisa acompanhar essa verdade. Por isso, minha querida, esse texto traz questionamentos a respeito do que você já foi capaz de superar e encarar sobre sua própria sexualidade.
fonte: @soyexpansion
E para endossar meus argumentos hoje, eu trouxe no título dessa matéria, um assunto muito dolorido mas que é um reflexo profundo e complexo da sexualidade feminina: como fomos amadas e como isso impacta na maneira como temos relações sexuais, incluindo as expectativas e as impressões que intencionamos nos nossos relacionamentos. O intuito é que, tendo trazido, nas matérias anteriores um contexto histórico milenar acerca dos nossos corpos, te possibilitar trazer à tona tudo que está no seu inconsciente e que ainda bloqueia seu prazer. Os pequenos prazeres e os grandes prazeres. O prazer de viver e o prazer sexual. Afinal, tudo é uma extensão da nossa vida interna. Então, vamos começar. Esse título dá uma coisa na gente né? Porque você deve estar pensando: “Meu Deus! O que tem a ver a maneira como eu fui amada, com a maneira com que eu faço sexo”? Bom, espero que você pelo menos tenha uma vaga ideia de como você foi amada na sua infância. Sim amiga, é disso que a epígrafe dessa matéria fala. Aposto que você pensou na maneira como foi amada por todos os homens que passaram na sua vida. E se pensou nisso, você está certa, afinal é natural analisar as coisas por esse ângulo. Entretanto, a maneira como fomos amadas pelos homens que passaram pelas nossas vidas afetivas, nada mais é do que o resultado da forma como nós nos amamos, uma vez que esses homens estavam apenas espelhando em nós a forma como a gente se enxergava e isso impactava a maneira pela qual acreditávamos que merecíamos ser amadas. Esse era o nosso modus operandi, que por sua vez, advinha do contexto familiar no qual estávamos inseridas e que ditou a visão que os outros tinham a nosso respeito e do qual nos apropriamos e passamos a “operar”. Ou seja, quando dizemos “Diz-me como foste amada…” , estamos nos referindo à maneira como fomos amadas pelos nossos pais. Isso mesmo!
E se por um acaso, não tenhamos sido amadas e correspondidas no amor que dedicamos aos nossos pais, com certeza essa dor afetou significativamente a maneira como conduzimos nossas relações sexuais e como enxergamos o amor. Isso quer dizer que, mesmo adultas, temos relações sexuais infantilizadas, porque aquela criança que não foi amada ainda impera dentro de nós e ela conduz nosso olhar inconsciente a respeito do sexo, da sexualidade e do amor. Logo, se você não se curar das dores daquela criança que não foi amada, você não será adulta no sexo, na sexualidade e no amor. E isso implica necessariamente em afirmar que seu comportamento nos relacionamentos amorosos e afetivos também será o da criança ferida que habita em você. Portanto, a maneira como você foi amada pelos seus pais, e considerando relacionamentos amorosos, a forma como seu pai demonstrou amor por você, é produto de como você permitiu ser amada pelos homens com quem você se relacionou, que por sua vez é uma extensão de como você faz sexo e lida com sua sexualidade. E mais ainda e mais importante: tudo isso é revérbero de como você se ama.
É muito compreensível portanto que por diversas vezes na vida, você tenha se sentido uma louca porque não entendia o que estava acontecendo com você e o motivo pelo qual estava se sentindo e tendo determinadas atitudes. Contudo, o que estava se passando com você era simplesmente seu inconsciente agindo dentro do padrão mental e comportamental no qual ele foi programado. Em vista disso, a forma como fazia sexo também era conduzida automaticamente pela programação mental na qual sua mente operava. Ufa! De certa forma, constatar isso é um alívio, primeiro porque você percebe que não estava louca, e em segundo lugar porque é possível mudar essa realidade.
Em suma, reflita se a sua criança interior ferida está liderando a sua vida, dominando suas decisões e afetando seu comportamento sexual. E leia-se “comportamento sexual”, não só na relação sexual, como também na sua sexualidade como um todo. Quer dizer, desde seu posicionamento na vida em geral, como nas suas decisões pessoais, profissionais e emocionais. E se você concluir que sim, lamentavelmente preciso te alertar de que essa é a razão pela qual sua vida não anda para frente, não prospera e não abunda. Compreenda o seguinte: criança não faz sexo, criança não tem independência, criança não gera dinheiro, criança não namora.
E por fim, gostaria de te pedir que se permita mergulhar dentro de ti, e a partir dos textos que eu escrevi nas matérias anteriores e esse, você faça uma auto análise e se pergunte se a visão que você ainda possui do sexo e da sexualidade são adultas de verdade ou são meramente sequelas relutantes da sua criança carente e machucada pelo sistema familiar no qual você cresceu e que ainda comandam sua vida e se você intenciona resolver sua vida de maneira adulta, ou pelo menos, saber como fazer isso como um adulto de verdade faria. Um adulto curado. Um adulto livre. Um adulto leve e espiritualmente evoluído.
Pense nisso e se prepare porque na semana que vem, abordaremos o Sagrado Feminino, Maria Madalena e seu legado ancestral. Será incrível e emocionante.
Até lá,
Com todo amor.
Alíne.