Desafios da equidade de gênero no mercado cinematográfico brasileiro.
Por Vanessa Cançado.
– Vai Som, Vai Câmera. Ação!
Olá Amoras (es), estava aqui pensando no cotidiano de nós mulheres, sejam de cinema ou não, que a cada dia temos um enfrentamento e do que falaria com vocês, por onde começar essas nossas conversas sobre mulheres e
sobre cinema e não poderia iniciar de outra forma, senão pelo protagonismo nos filmes.
Não é de hoje que há uma necessidade do protagonismo feminino de fato na frente das telas, e por detrás
delas. Mas essa necessidade é para quem? Por nós mulheres, e as razões são óbvias: a pressão do gênero
dominante em nossa sociedade como um todo.
Apesar dos avanços nos últimos
10 anos, ainda fazem da nossa
representatividade, uma partícula nesse
universo cinematográfico brasileiro. Se olharmos para os números divulgados pela ANCINE (Agência Nacional de Cinema), só em janeiro desse ano a receita gerada pelos filmes nacionais chegaram a quase 60 milhões. E quantos desses filmes, podemos dizer que tem uma representatividade da figura feminina? Só em 2023 tivemos 271 longas-metragens exibidos nas salas de cinema comercial, com porcentagem ainda em números baixos no que tange as mulheres como realizadoras ou com equipes em equidade.
Nós vivemos em um país constituído de um público de mais de 51% de mulheres, o que já seria suficiente para alavancarmos o universo feminino. Mas há um fato significativo: as mulheres veem pouco as mulheres, ou seja, as mulheres não enxergam umas às outras dentro do universo cinematográfico, e também veem pouco cinema nacional. Precisamos refletir o porquê desvalorizamos nossas realizadoras.
Diga aí no seu íntimo, quando, numa roda de conversa surge o papo sobre o cinema brasileiro, com relação ao cineasta, você logo cita o nome de um homem ou de uma mulher? Dos filmes que assistiu nos últimos tempos, quantos são de realizadoras? Não me espantaria se respondesse, nenhum ou um, porque são paradigmas relacionados à constituição cultural, histórica e social da nossa sociedade onde a credibilidade feminina é colocada à prova, antes mesmo de saber quem é essa ou aquela cineasta, somente pelo fato de ser mulher.
Os corpos femininos ainda são objetificados, seja na grande tela, seja no set dos filmes, e isso vilipendia a função da mulher dentro das equipes nos filmes, mas esse é outro detalhe. A equidade de gênero, está tão longe de ser uma realidade, que vale um texto somente sobre o assunto.
Os números estão aí para mostrar que nos últimos 5 anos, os filmes brasileiros que tiveram mulheres na liderança, tem um índice baixo de 20,9% segundo pesquisa realizada pelo site portal do exibidor.
A trajetória participativa das mulheres nos mais diversos setores da nossa cinematografia existe, elas estão aí, nós estamos por aqui. O que ocorre é que há um desequilíbrio enorme na composição das equipes e com um ambiente de trabalho, muitas das vezes, psicologicamente insalubre para nós mulheres, como quem diz:
–” Desista”!
Mas nós não desistimos! É urgente a necessidade de união feminina dentro do cenário cinematográfico brasileiro, cada vez maior, porque juntas somos mais fortes. Então, vamos assistir mais filmes realizados por mulheres nos cinemas e nas plataformas?
Até a próxima cena!
Abraço Afetuoso,
Vanessa.
Cine-Recorte: Amoras (es), vou deixar uma dica de leitura para quem
quiser saber um pouco mais sobre cinema realizado por
mulheres, sobre mulheres diretoras em diversos lugares
do mundo.
O livro “Mulheres de Cinema”, por Karla Holanda (org.).