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Entrevista com Gabriela Alves.

Gabriela Alves- a mulher que aceitou correr com os lobos e encontrou a si mesma.

 Por Alíne Valencio.

Minhas deusas poderosas,

Hoje estou muito feliz, de verdade! Começar o ano entrevistando mulheres que vivenciam o Sagrado Feminino e a plenitude da sua sexualidade, além de me fazer sentir honrada em também ter ouvido o chamado da minha alma e da minha mestra Maria Madalena para me emaranhar na jornada rumo à mim mesma, também me assalta um delicioso orgulho dessa prática milenar feminina, cujo legado está sendo reavivado agora, após milênios de opressão, colonização e adestramento dos nossos corpos, e principalmente da nossa subjetividade e sexualidade.

Há muito tempo eu ansiava em trazer para essa coluna uma entrevista relevante, com uma mulher que nos daria orgulho de fazer parte dessa egrégora feminina, e principalmente, uma guardiã do feminino que vislumbrasse inspirar outras mulheres que ainda vivem reclusas no cárcere das cartilhas da moral, da submissão e da obediência a se imbuírem de coragem para irem em busca da sua verdade, essência e natureza selvagem. Aí, no ano passado cruzou o meu caminho uma bela mulher, que quando descobri que estava também nessa jornada me deixou com o coração grato. Todos já a conheciam da novela “Mulheres de Areia”. Lembram da Glorinha? A personagem da atriz Gabriela Alves? Pois é ela mesma a minha entrevistada de hoje.

Eu já intentava entrevistá-la desde o ano passado quando eu era colunista de outra revista, mas, hoje compreendo que o universo fez tudo direitinho (como sempre) porque ele sabia que eu seria a dona da minha própria revista e faria a primeira entrevista exclusiva na minha própria coluna. Ai, meu coração está tão feliz e grato.

Vamos à entrevista? Vivencie e se inspire.

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Fotos cedidas por Gabriela Alves.
  1. Mais minha do que nunca- Gabriela, em que momento você decidiu deixar a carreira de atriz para se dedicar ao Sagrado Feminino?

A busca por autoconhecimento se iniciou ainda menina. Desde cedo busquei compreender a mim mesma e o universo. Fui criada por minha avó, uma mulher muito religiosa, voltada para as questões sociais e à frente de seu tempo. Até que à certa altura da minha carreira de atriz comecei a questionar se o que estava fazendo contribuía com a sociedade. E senti que tinha algo mais. Então, um profundo processo de transformação se iniciou. Foi quando compreendi que todas as minhas dores existenciais estavam relacionadas a um feminino ferido. E que estas dores não eram só minhas, mas ancestrais e coletivas. Mergulhei neste estudo até que há 10 anos atrás, senti o chamado de compartilhar tudo o que vinha aprendendo e curando na minha jornada pessoal com outras mulheres.

  1. Mais minha do que nunca- Existe alguma relação entre a arte e o Sagrado Feminino? Onde é há intersecção entre eles?

Muita!! O feminino se relaciona com a dimensão da alma. As artes são a linguagem da alma. Enquanto o masculino é concreto e objetivo, o feminino é abstrato e subjetivo. Além destas características, o feminino está relacionado à capacidade de criar. Nós mulheres, como Guardiãs do Sagrado Feminino, também somos Guardiãs da Vida. Afinal, a vida se forma em nosso ventre, que é o centro de criatividade e poder feminino. Além disso, segundo a astrologia, o feminino é regido pela Deusa Vênus, deusa do amor, das artes e da Bbeleza.

  1. Mais minha do que nunca- Aliás, como aconteceu seu encontro com o Sagrado Feminino, seu despertar espiritual?

Como disse, estava num momento de muitas reflexões. Lidando com algumas dores que não conseguia curar. Ao fazer um profundo mergulho interno, dentro de um trabalho espiritual, perguntei ao universo no que consistia a minha cura, e a resposta não poderia ter sido mais clara e precisa: “em curar o feminino”. E foi então que recebi um verdadeiro download de informações sobre o Sagrado Feminino. Sobre o feminino ancestral, universal, individual e coletivo. Foi, realmente, muito profundo e surpreendente. Não sabia NADA sobre o Sagrado Feminino. Embora o livro Mulheres que Correm com os Lobos já tivesse sido traduzido para o português, não se falava abertamente sobre o Sagrado Feminino. Ao menos não como se fala agora. Isto faz quase 20 anos. A partir daí, compreendi que fazia parte do meu caminho servir a este despertar e, assim, resolvi estudar sobre a importância de equilibrar esta energia dentro e fora de nós, compreendendo que a cura do planeta está no resgate do equilíbrio entre as polaridades yin (feminino) e yang (masculino). Algo que vai além das mulheres, mas que engloba toda a humanidade. Afinal, feminino e masculino estão dentro de todos nós. Resgatar o feminino se refere a resgatar valores que nos tornam HUMANOS como empatia, amorosidade, sensibilidade, espírito de comunidade etc.

  1. Mais minha do que nunca- Qual a relação do Sagrado Feminino com a sexualidade feminina?

Há uma relação profunda, espiritual e energética que podemos compreender pelo estudo do Yoga e da cultura hinduísta. A Kundalini, energia vital que se encontra enroscada na base da coluna, é a energia que está relacionada à sexualidade, bem como à criatividade, prazer, vitalidade e despertar espiritual. É esta energia que uma vez despertada sobe pela coluna até o sétimo chakra permitindo que alcancemos a Iluminação. Cada chakra tem sua polaridade yin ou yang. Entretanto, o sétimo chakra se refere à (re)união destas duas energias em nós. Em outras palavras, quando alcançamos o despertar espiritual, saímos da dualidade para realizar a unidade, que também podemos compreender como consciência Búdica ou Crística. Segundo o Hinduísmo, o universo foi criado por Shiva, o princípio masculino, o absoluto, que se expandiu criando uma contraparte feminina chamada, Shakti-kundalini, ou Prakriti que quer dizer matéria ou natureza. E assim, nasceu a dualidade, que se refere ao nosso mundo, bem como o amor, que é a busca de voltarmos à unidade, nossa verdadeira natureza. Assim, podemos compreender a vida como uma jornada da dualidade de volta à unidade. O casamento de Shiva e Shakti dentro de nós. Por tudo isto, ressacralizar a mulher, a sexualidade, o prazer e a vida é fundamental para que possamos alcançar a unidade, Deus em nós. O feminino é o Religare.

  1. Mais minha do que nunca- Você acredita que a libertação da mulher começa com a libertação e cura da sua sexualidade? Porque?

Para mim a libertação da mulher começa com a cura do feminino que é o seu maior poder. Isto engloba não apenas sua sexualidade, mas sua independência emocional, uma vez que devido a muitos paradigmas sociais criados por uma cultura fálica de exclusão do feminino, nos foi introjetada a ideia de que somos “incompletas” fazendo com que busquemos nossa completude no outro. A tal chamada “cara metade” ou “metade da laranja.” E isto é uma grande cilada! Pois faz com que nos relacionemos com o outro a partir da falta, da carência, da insegurança. Portas de entrada para relações de co-dependência. Sei que parece paradoxal ao dizer que a vida é uma jornada da dualidade à unidade. Mas precisamos compreender que para chegarmos à unidade precisamos encontrá-la primeiramente em nós. Equilibrando nossas polaridades. Desta forma não apenas nos sentimos mais completas como podemos criar relações mais plenas e maduras. Afinal, tudo começa dentro de nós.

  1. Mais minha do que nunca- Como você considera que o Sagrado Feminino pode impactar positivamente a sexualidade da mulher de 2025?

Por meio da compreensão do que significa o Sagrado Feminino. Sua importância dentro deste grande jogo cósmico que é a vida. Desta forma podemos, como mulheres, ocupar o nosso lugar na vida e no mundo. Sem mais projetar em nossa sexualidade nossas dores e faltas.

  1. Mais minha do que nunca- Na sua opinião, o despertar espiritual da mulher passa necessariamente pela quebra de paradigmas relacionados à sexualidade feminina? Qual o primeiro passo para o despertar espiritual da mulher?

Certamente, quando compreendemos o nosso papel como Guardiãs da Vida e transmutadoras energéticas, algo que se dá, a princípio, por meio do nosso ciclo menstrual, de forma inconsciente, felizmente, passamos a honrar mais o nosso corpo-templo, o nosso sangue sagrado, e nossa própria existência. O resgate da espiritualidade é fundamental a toda a humanidade. Entretanto, nós mulheres, como Guardiãs da Vida, somos um portal para o mistério. Afinal, a vida não se faz apenas a partir do encontro de um homem e uma mulher. Mas o homem, a mulher e o mistério, que também podemos chamar de Deus. Acredito que o primeiro passo é compreender este papel a fim de se olhar além dos filtros que a cultura patriarcal coloca sobre nós há milhares de anos.

  1. Mais minha do que nunca- Para você quem é a mulher mais significativa e símbolo do Sagrado Feminino? Porque?

Todas as mulheres são mulheres-medicina, uma vez que temos esta capacidade transmutadora e criadora. Mas vejo Clarissa Pinkola Estes como uma matriarca que, por meio do livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, nos convida a nos reconectar com a Sacralidade feminina e a” Mulher Selvagem em nós”. Arquétipo essencial à mulher que busca autonomia. Como digo, há em toda mulher Selvagem uma mulher sagrada. E há em toda mulher sagrada, uma mulher que não teve medo de sua natureza selvagem.

  1. Mais minha do que nunca- Qual legado o Sagrado Feminino carrega consigo até hoje e no que esse legado contribui para a sexualidade feminina?

Poder se olhar com os olhos do amor, honrando minha caminhada, minhas descobertas, meus erros e acertos, o meu corpo, minha sexualidade, minha alma é realmente liberta-a-dor!! Entender e honrar minha experiência nesta terra num corpo de mulher. O profundo significado disto, é uma virada de chave, certamente. Tudo isto me permitiu me relacionar com minha sexualidade de um lugar muito mais consciente e sagrado.

  1. Mais minha do que Nunca- Qual a importância da conexão com a ancestralidade para a sexualidade feminina e como o Sagrado Feminino consolida essa relação?

É muito importante compreendermos que muitas das nossas dores foram herdadas de nossas ancestrais. Hoje, o que chamamos de “relações abusivas”, por muito tempo foi algo naturalizado e comum às mulheres que vieram antes de nós. Mulheres que não eram donas de seus corpos, e que não tinham nem mesmo permissão ao prazer. Quando ressignificamos a nossa relação com nossos corpos, prazer e sexualidade, em um nível profundo estamos libertando também nossas ancestrais. É como se disséssemos à nossa linhagem feminina: “Nada foi em vão. Por causa de vocês, por tudo o que viveram e sacrificaram, agora posso viver e desfrutar da minha liberdade. E vivo isto por vocês também”.

Uau! Fiquei a arrepiada com essa entrevista, e você? Espero que a Gabriela tenha te cutucado a mergulhar para dentro de si e a deixar para trás a mulher que os outros acreditam que você deve ser e passar a não abrir mão daquela que você é de verdade, mas em especial, que você tenha compreendido que é preciso percorrer uma longa e dolorosa jornada até você mesma. Mas, que vai valer a pena quando for plenamente dona da sua vida e que você tenha disposição e entusiasmo para não desistir de você durante o trajeto.

E você já sabe né? Conte sempre comigo.

Com amor,

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Alíne Valencio.

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