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Eu seguro sua mão na minha – O teatro e a roda.

Roda de teatro

Por Mônica Bonna.

Olá, maravilhosa! Que bom tê-la aqui mais uma vez! 

No teatro, é muito comum nos reunirmos em círculo, tanto em ensaios quanto em apresentações, para ouvir notas (feedbacks) de diretores, lembretes de produção, apontamentos e trocar informações.

Já parou pra pensar sobre as crenças, tradições e benefícios que a roda pode trazer para um grupo de teatro? No nosso encontro de hoje, trouxe algumas informações muito prazerosas e experiências pessoais sobre esse ritual artístico.

Por que nos reunimos em roda?

A roda é uma formação utilizada em agrupamentos sociais há milhares de anos, em diversas ocasiões como: cerimônias religiosas, danças e encontros sociais de partilha de informações e cirandas.

Quero iniciar esse bate-papo trazendo a opinião de mulheres, de diferentes áreas,  sobre se reunir em círculo:

  • Marilua Azevedo – indígena, mais conhecida como Lua Fulni-ô, percussionista e arte educadora: “No teatro de rua a gente também faz a roda, com a proposta de circular a informação que queremos transmitir, mas também para as pessoas se olharem, isso é muito interessante.”  (1) 
  • Profª. Ma. Daiana de Jesus Moreira – Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ateneu: Na perspectiva de Roda, dissolve-se a figura do mestre/líder como centro do processo e valoriza-se a fala do coletivo como expressão de valores, normas, aspectos culturais, práticas e discursos.” (2) 
  • Christina Baldwin e Ann Linnea – autoras americanas e fundadoras da PeerSpirit – uma organização voltada para o desenvolvimento de pessoas a partir dos princípios e da metodologia circulares. Em seu estudo elas afirmam que o objetivo do círculo é criar entendimentos comuns, ampliando os níveis de escuta e presença dos participantes(3) 
  • Laura Aidar – Arte-educadora, artista visual e fotógrafa: “O círculo está presente na história da humanidade como um símbolo bastante potente e carrega como maior significado a noção de totalidade, inclusive entre o ser humano e a natureza. Esse elemento se manifestou em rituais de adoração aos astros, em religiões primitivas e modernas, mitologias, projetos arquitetônicos (como planejamentos urbanos), e muitas outras situações. Sendo assim, a disposição em roda nesse tipo de dança facilita a circulação energética e sustenta essa simbologia psíquica e ancestral de completude”.  (4)

Eu e a roda.

A primeira vez que eu enxerguei “a roda” como forma de ensino pedagógico, foi quando comecei a dar aulas de inglês, em 2012. No treinamento de professores, o material apresentou diversas possibilidades de agrupamento da turma, de acordo com o objetivo final do exercício. A roda era indicada quando o objetivo era a troca livre e fluída de informações entre alunos e professores. A roda traz um senso de comunidade e acessibilidade, já que todos são capazes de se olhar – diferente de uma formação onde as cadeiras estão enfileiradas para o mesmo sentido. 

Na área da dança, tive contato com a biodança.  Um estilo de dança criado nos anos 60 pelo cientista e artista Rolando Toro, que aborda formações circulares. Participei de alguns encontros em São Paulo, ministrados por Karla Amadei, onde ela afirma que as diferentes formações (sozinhos, em dupla ou em círculo) permitem trabalhar a capacidade de se relacionar nas 3 dimensões de vinculação: 1. Eu comigo; 2. Eu com o outro; 3. Eu com a totalidade.

A roda no teatro.

 

Roda de teatro
espetáculo Maligna – A voz em cena 2019

 

No teatro, é um dos rituais fazermos a roda logo antes do início do espetáculo. Eu, particularmente, amo esse momento!

A roda é muito importante, pois é um momento de nos concentrarmos para fazer uma boa apresentação, fortalecemos a união do grupo, estabelecemos uma relação de cumplicidade e confiança, pois ao entrar em cena, não é possível dar pause, ou voltar atrás. 

Já participei de um grupo teatral em que os atores tinham uma relação bem complicada de rivalidade e isso refletia diretamente nas cenas. Começamos, então, a nos reunir mais em círculo, dar as mãos… Falar e escutar… Às vezes cantávamos um “sou alegre” ou falávamos algum outro mantra. A relação entre o grupo melhorou muito e o desempenho dos atores nas cenas, também!

Crenças, rituais e tradições.

 

Cada grupo tem sua forma de direcionar esse momento, mas alguns padrões são comuns:

→ Como segurar as mãos: Mão direita oferece (palma virada para frente), mão esquerda recebe (palma virada para trás). Acredita-se que segurar as mãos nessa configuração ajuda na circulação de energia do grupo, pois estarão todos na mesma direção.

→ Respeitar a vez de quem está falando:  Ouvir as notas dos diretores e as considerações dos colegas com atenção, em silêncio. Falar com respeito.

→ Algumas cantigas, orações e mantras são comumente conhecidos e repassados de gerações em gerações de artistas. Cantamos e declamamos esses mantras olhando nos olhos uns dos outros. 

→ Desejar “Merda” no final: Antigamente as pessoas iam aos teatros e óperas de carruagem, portanto, quando o chão tinha muita merda de cavalo, era sinal de que tinha bastante público.

Orações / mantras.

 

Existem algumas orações e mantras que os artistas falam enquanto estão em roda, antes de entrarem na apresentação. Alguns exemplos são:

  • Eu seguro sua mão na minha, para que juntos possamos fazer, aquilo não posso, não quero e não consigo fazer sozinho.
    Ou também:  Eu seguro minha mão à sua mão e uno o meu coração ao seu, para que juntos possamos fazer aquilo que sozinho eu não consigo. 
  • Sou perfeito, alegre e forte,
    Tenho amor e muita sorte!
    Sou feliz e inteligente,
    Vivo positivamente!
    Tenho paz, sou um sucesso,
    Tenho tudo o que eu peço!
    Acredito firmemente
    no poder da minha mente,
    Porque é Deus no meu subconsciente!
  • Anjo da guarda, doce companheiro,
    nos proteja de manhã, à tarde e à noite.
    Principalmente (de manhã/ à tarde / à noite – período que estiver),
    Principalmente agora
  • Alternando os pés (direito / esquerdo):
    12345678 / 12345678
    1234 / 1234
    12 / 12
    1 / 1
    Merda!
  • 1, 2, 3: “Merda!”

E você? O que acha sobre a roda? Gosta? Tem alguma experiência transformadora ou história inusitada? Conhece outra oração que não apareceu aqui?

Poste aqui nos comentários ou envie uma mensagem para mim que vou adorar trocar informações com você!

Obrigada pela companhia e até a próxima!

Mônica.


Referências:

(1) O que a cultura indígena nos ensina sobre estar em roda – por Camila Salmazio
https://aliancapelainfancia.org.br/inspiracoes/o-que-a-cultura-indigena-nos-ensina-sobre-estar-em-roda/

(2) Método da roda como ferramenta de facilitação de grupos – por Profª. Ma. Daiana de Jesus Moreira
https://universo.uniateneu.edu.br/metodo-da-roda-como-ferramenta-de-facilitacao-de-grupos/

(3) A metodologia ancestral do círculo – por Alex Bretas
https://alexbretas11.medium.com/a-metodologia-ancestral-do-c%C3%ADrculo-536a9f08d19a

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(4) Dança Circular: origem, benefícios e simbologia – por Laura Aidar
https://www.todamateria.com.br/danca-circular

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