Sua mente está sob opressão, ou em liberdade?
Por Gabriela Chepluki de Almeida.
Olá, minha amiga leitora! Bom tê-la novamente aqui nestas conversas ao mesmo tempo acolhedoras, difíceis e libertadoras! Neste processo de descobrimento na relação com o corpo, o alimento e a saúde física, mental e emocional, temos muitos pontos a tratar.
O passo inicial, para nossa cura e desenvolvimento, é a descoberta do que nos compõe, para assim sabermos por onde devemos começar! É por isto que, antes de escrever sobre qualquer intervenção ou mudança, tenho o primeiro propósito de te fazer entender alguns processos, e identificá-los. Mais para frente, vamos tratando sobre as formas de agir quanto a eles!
Neste momento, vou trazer um assunto profundo no meio da nossa tratativa sobre o comportamento alimentar: a fome emocional.
No começo do primeiro texto, Comida e Afeto, fiz uma citação da seguinte frase: “Você come as suas emoções.” Sim, esta frase descreve a fome emocional perfeitamente, por mais que, no primeiro momento, a intenção fosse falar da alimentação como um elemento promotor de afeto, e daí sua menção. Falamos da forma como a comida está sempre presente nos momentos positivos, satisfatórios, nas comemorações, no afeto familiar, na alegria íntima. Resumidamente, falamos da associação do ato de comer aos sentimentos bons.
Porém, acabou ficando uma lacuna importante por preencher: “Ok, Gabi, e quando temos emoções ruins, e acabamos descontando na comida? Nós temos tanto costume de fazer isto, que acabamos nem percebendo a nossa sujeição a esta atitude inconsciente e automática?”
Bingo, leitora! É chegada a vez de falar das emoções negativas, e sobre como elas também afetam nossa alimentação. Porém, ao invés de ser um ato de prazer e consciente, é um ato impulsivo e transtornado. Eu já tinha a intenção de mostrar este lado da moeda para você, é isto que vou fazer agora! A fome emocional é diferente da fome biológica. Ela é uma sensação física, mas de origem psicológica, com o objetivo de se obter distração ou consolação momentaneamente, através do ato de comer. Ela não visa suprir, mas saborear. O intuito deste mecanismo é o de preencher alguma sensação de vazio ou pendência, causada por alguma emoção negativa, como tristeza, ansiedade, tédio ou frustração. Basicamente, ela é o uso da comida como válvula de escape quando se está enfrentando alguma emoção incômoda.
Quem nunca foi comer um biscoito, bombom ou fatia de bolo por se sentir frustrado, triste ou entediado, que atire a primeira pedra! Vendo de forma detalhada, todos nós temos episódios de fome emocional em algum momento, mesmo que ela se manifeste de maneira sutil!
A fome biológica, por sua vez, é involuntária. É a forma de o nosso corpo pedir por seu suprimento nutricional e energético. Nesta situação natural, você não vai necessariamente sentir fome de “uma porção disto” ,“uma fatia daquilo”, tudo que você precisa é comer. Você já deve ter tido uma situação onde passou uma tarde inteira sem se alimentar e, ao final do dia, comeu o que estava mais perto de você, por impulso biológico.
Na fome emocional, é diferente. Ela pode se instaurar mesmo quando nosso corpo está biologicamente saciado. Mas neste caso, a probabilidade maior é a de se selecionar um alimento, ou tipo de alimento em especial. Isto se dá porque, na fome emocional, não estamos impulsionados a suprir necessidades nutricionais e energéticas, mas a obter prazer momentâneo. Este mecanismo acaba se associando diretamente com a escolha das guloseimas.
Deixando brevemente esta explicação de lado, vamos retomar uma informação: um dos objetivos do profissional de nutrição é te guiar a desenvolver sua autonomia alimentar, a te libertar de crenças ao redor da comida, que possam te sujeitar a medo, ou a culpa, causados por ela. Você não precisa abandonar para sempre sua pizza ou seu chocolate, se o seu contexto alimentar é saudável e consciente. Existir os alimentos prazerosos que você gosta e usufruir do prazer por eles proporcionado, não caracteriza fome emocional. Uma coisa é bem diferente da outra! E achei valer muito a pena deixar este pequeno adendo para evitar confusões de interpretação.
O fator diferencial de uma situação para a outra é a consciência. Grave com muito carinho este nome. Uma pessoa com uma autonomia alimentar bem desenvolvida está consciente dos seus hábitos alimentares, de suas escolhas constantes, da sua relação harmoniosa com a comida, e do seu direito a comer aquilo que gosta, desfrutando disto com pleno prazer, sem carregar frustrações consequentes. Já episódios de fome emocional, são atos impulsivos, muitas vezes praticados sem ao menos se perceber. Geralmente, eles são impulsionados por uma emoção negativa, você se vê sujeito a atitude de comer, e não há domínio das emoções presentes, não há autonomia ou autoridade. São características de um “Comer Transtornado” (falaremos melhor dele em breve). Além disto, há uma característica que se correlaciona com os distúrbios alimentares: a fome emocional não se dá, necessariamente, em um episódio de exagero alimentar, mas ele pode acontecer desta forma! E quando investigamos os transtornos alimentares, como a compulsão, por exemplo, encontramos este sintoma de exagero alimentar em comum.
Caso você se identifique com a situação, minha amiga, gostaria de deixar uma coisa clara para você. O objetivo primordial de toda nossa tratativa não é julgá-la, muito menos te culpar do que, ou o quanto você está comendo, mas te ajudar a pontuar qual a causa destas vontades. É por autonomia e vontade consciente? Ou frustração, ansiedade, ou sentimento semelhante? Convido a um exercício, tanto diário quanto para a ocasião de estes acontecimentos se darem novamente: passe a praticar sua auto-observação. Dê atenção ao que está sentindo, ao tipo de emoções que estão permeando você neste momento, o que você está com vontade de comer, se está com fome ou vontade de comer! Ainda vou lhe dar um exercício secundário: reflita se comer
aquele alimento, do qual você está sentindo vontade, vai fazer sua emoção negativa se dissipar, ou se ela é que será alimentada. Se comer aquilo que você gosta e deseja vai ser um ato consciente de acolhimento, ou um ato impulsivo gerado por ansiedade, que desencadeará mais ansiedade. Você tem autonomia para desejar, mas qual está sendo a causa dos seus desejos?
Como este processo é contínuo, longo, diário, é claro que eu não vou vir aqui, te explicar um termo da ciência e da psicologia, dar algumas breves palavras de conforto e sumir, sem nem mesmo te dizer como mudar tudo isto! Meu comprometimento é estar com você sempre, te acompanhando e te ajudando a evoluir! Por isto, estarei aqui novamente, continuando com as
nossas reflexões e descobertas pessoais. Do fundo do coração, espero que você não desista de si mesma, que enxergue dentro de si a mesma força que eu enxergo em ti, e que você venha me acompanhar nas próximas conversas.
Acredite em mim, amada, ainda temos muito, mas muito a conversar.
Até breve!
Gabriela.