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Gozar – A volta para casa!

Gozar- A volta para casa

                                 Você é ansiosa para gozar?

Por Alíne Valencio.

Olá minha leitora preferida. Musa. Depois de ler, nas semanas que se passaram, nesta coluna, tantas atrocidades cometidas contra nossos corpos, durante séculos, e inúmeras barbaridades validadas pelo machismo estrutural, fiquei pensando se traria essa matéria, assim, já em seguida. Foi aí que percebi que sim, estava na hora, justamente por tudo que conversamos. É o momento, de cada vez mais, nos conhecermos mais e mais para, não nos deixarmos dominar por ninguém. E sim, a mais primária libertação, é a sexual. A primeira de todas, porque, é nela que está contido o princípio da natureza humana. A repressão sexual, é mãe de todas as outras repressões que carregamos ao longo da vida, portanto, se você não curar sua sexualidade ferida, você não cura suas outras feridas. Logo, é como se este texto fosse um bálsamo, o apontamento de um caminho para o resgate de si mesma.

Contudo, de forma alguma, pretendo que ele seja um manual. De jeito nenhum! Afinal, é justamente deles que fugimos não é mesmo? Das cartilhas, dos manuais, das regras, dos dogmas, das doutrinas. Minha intenção, portanto, é propor, por meio deste texto, uma reflexão, para que você, por conta
própria, avalie se faz sentido para você. E se fizer, e considerar pertinente, que você vá em busca da sua cura através da sua sexualidade e do gozo. Antes de iniciar o conteúdo dessa matéria, gostaria de lembrar, que sexualidade não é somente a respeito de sexo. Aliás, o ato sexual é meramente, um dos prazeres que compreendem a sexualidade.

Na verdade, minha amiga deusa, a sexualidade é vivida todos os dias, a partir do momento em
que nos permitimos viver prazerosamente, diariamente, usufruindo de pequenos “gozos” rotineiros, até finalmente o gozo sexual, uma vez que o prazer na cama, ou na masturbação, está diretamente relacionado com sua vida fora da cama, sendo, tão somente, uma extensão da sua maneira de conduzir a vida. Eu já fiz outras matérias acerca desse assunto, portanto, não vou me estender aqui, porém, retomar brevemente este tema, se fez necessário para você assimilar o restante do conteúdo.

Sendo assim, vamos do início: Você é ansiosa para gozar? Se sua resposta foi sim, eu que te pergunto agora: por qual razão isso acontece com você? Quais são os gatilhos que acionam a ansiedade em ti na hora de gozar? Talvez você não faça a mínima ideia, ou, até o momento não tenha encontrado resposta plausível. Vou, portanto, especificar alguns pontos que, ocasionalmente, de alguma forma, pareçam coerentes para você. A primeira hipótese é que, possivelmente você tenha sido sempre ignorada no sexo, e talvez você diga, convicta, que não.

Mas, eu te convido a refletir comigo. Nós mulheres fomos ensinadas indiretamente, que é feio
ter prazer. Entretanto, o que quero enfatizar mesmo, é que fomos instruídas, que “mulher não pode incomodar”. É ou não é? Fomos educadas para sermos a princesa recatada que não chama a atenção de ninguém para “não atrapalhar”. Até para rir fomos doutrinadas: tem que ser baixo, com a mão na boca, caso contrário, você é indecente e “quer chamar atenção”. E pode estar passando, nesse exato momento pela sua cabeça: “Mas e o que isso tem a ver com ansiedade para gozar?” Tudo! Amiga. Tudo!

Acredite se quiser, mas, muitas vezes uma mulher goza rápido para não ser um incômodo. Chocada? É claro que tudo isso é inconsciente. Fruto das incontáveis castrações que sofremos durante a vida. Veja bem! Ás vezes, considerando inúmeros fatores, demoramos para atingir o orgasmo, ou seja, o cara com quem você está transando precisa “esperar” você chegar lá.

Isso pode ocasionar algum gatilho inconsciente em ti, causando uma auto cobrança automática para que você apresse seu gozo para não deixar o homem irritado. É o famoso “mulher está para servir o homem”. Contudo, esse paradigma está tão profundamente arraigado no nosso inconsciente que assim, num relance de palavras pode soar sem nenhum sentido. Desta forma, te convido a não concluir nada agora. Apenas siga com a leitura, por favor.

Aprendemos a negar nosso protagonismo no sexo. Até porque algumas mulheres nem sabem que isso existe, uma vez que nosso gozo foi adestrado para agradar o homem, que por sua vez, na maioria das vezes, ignora nossa natureza feminina, que precisa de estímulos antes do gozo. Quer dizer, preliminares, carinhos, e tantas outras formas de excitação, como uma rotina diária de comportamentos, por parte do parceiro que se instaure um contexto sexual favorável para te levar ao gozo na cama. É claro que não dependemos de um homem para gozar, porém, se temos um parceiro fixo, o ambiente afetivo que nos cerca, faz toda a diferença na hora de atingir o orgasmo sem ansiedade. E, a coisa fica ainda pior, se você não conhece seu corpo e não sabe o que te faz sentir prazer, ou não. Juntando todos esses fatos, lamento te dizer, você foi sim ignorada no sexo. Contudo, você não está sozinha. Acredito que todas nós, fomos, em algum momento da vida, justamente por conta do condicionamento ao qual fomos submetidas, ignoradas no ato sexual, por um homem. E talvez, você, infelizmente, tenha se culpado por isso, ainda que não diretamente. Viu como toda a engrenagem do patriarcado funciona?

Gozar- A volta para casa
Fonte: soy expansion

 

Logo, pode-se dizer que você faz sexo para agradar o parceiro. E que toda a sua sexualidade está engendrada ao princípio da subserviência feminina. Dessa forma, algo inconsciente te faz desejar acabar rapidamente com aquilo, ou melhor, com o sexo. Existem inúmeros outros paradigmas sociais que desencadeiam ansiedade sexual. Por exemplo, mulheres que se sentem responsáveis por fazer o homem gozar. Que é estigmatizada como frígida, sendo que na maioria das vezes o problema está no parceiro, mas a mulher assume a responsabilidade para que ele não encare os fatos e permite que ele a culpe por ele não ser suficientemente viril e “macho”. E eu poderia citar aqui tantos outros dogmas para te exemplificar a causa dessa ansiedade, mas você já entendeu a minha linha de raciocínio. Tudo isso porque nem considerei um outro aspecto de toda essa conversa: todas as pessoas que levamos para a cama com a gente. Nossa! Como assim?? Sendo mais clara, nossos pais, professores, amigas, ex namorados, padre, pastor, sociedade, nossos medos, traumas e outras inúmeras circunstâncias que compõem nosso cenário psíquico, emocional e físico, porque todos esses
aspectos nos foram ensinados desde muito cedo. E todos estão lá com a gente na hora do sexo.

É como se a gente estivesse num tribunal em pleno ato sexual, onde todos estão apresentando dados concretos que nos convencem de que se gozarmos sem culpa, seremos condenadas por isso, por que vamos desobedecer a cartilha social que dita as regras sobre nosso corpo e nosso gozo. Ora, se isso não gera ansiedade, não conheço algo mais violento que possa acionar tais gatilhos. Daí eu te pergunto: com toda essa multidão povoando nosso momento de intimidade, seja com ou sem um parceiro, como é que a gente consegue gozar sem ansiedade não é mesmo? Sem culpa, sem auto julgamento ou auto flagelamento? Estamos olhando para fora, para todas essas pessoas e situações que se configuram como voyeurs, porém algozes para confiscar toda e qualquer possibilidade de gozo livre, profundo, e transformador. Transgressor. Gozo tem que ser assim, subversivo, revolucionário. Caso contrário não foi gozo, foi tarefa, obrigação, lição de casa.

Sendo, assim, quero terminar esta matéria enfatizando que, todo esse compêndio de regras que carregamos a vida inteira acerca do gozo feminino, acontece de forma muito subliminar, para controlar nosso corpo, nossos desejos, nossas vontades, nossa mente, sentimentos e tudo o mais que o machismo estrutural puder usurpar. E a tática mais eficaz é criar fundamentos de “Como gozar corretamente”, como se todo corpo feminino gozasse do mesmo jeito. Isso gera culpa, ansiedade e stress, obrigando a mulher a desviar o foco do seu próprio prazer e focar na culpa por não “ser capaz de gozar como manda o “roteiro”, ou seja, tornar o gozo feminino protocolar, tedioso e chato, e assim, fazer com que a mulher, além de dedicar sua performance sexual ao gozo masculino, ainda anule o próprio, sublimando as causas da sua inquietação, passando por cima disso. Pense nisso minha querida leitora e continuamos nosso papo na semana que vem. Já estou aqui pulsando de alegria para te encontrar.

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Até semana que vem.
Beijos.
Aline Valencio.

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