Por Carol El Agha.
A ginecologia natural é uma maneira vislumbrar nossa saúde entendendo-nos como o centro dela e encontrando caminhos mais harmônicos para o nosso corpo, que nada mais é do que a natureza. Nós somos a natureza manifestada em um corpo humano. Na ginecologia natural compreendemos que tudo que se manifesta no nosso corpo físico, tem a ver com múltiplos fatores. Então, passamos a adquirir um olhar mais integrativo para nossa saúde, diferente da medicina ocidental, que indica a medicação baseada no sintoma, ignorando o contexto de vida, o cotidiano, e as emoções.
Muitas vezes as nossas dores têm relação com nossas emoções, nosso espírito/alma, nossa história de vida, bem como contexto social, experiências de vida e a maneira como a gente se relaciona com o nosso corpo. Essa é a saúde integral, que representa os infinitos fatores que não podemos ver, mas que estão presentes em nossa vida. A autonomia é uma das bases da ginecologia natural, pois sempre partimos da nossa própria experiência com o corpo, percebendo que cada corpo é singular e especial. Somos responsáveis por nossa própria saúde, e não é sobre seguir receitas, mas sim, entender o que está se passando e ter esse olhar de cuidado. Há séculos somos moldadas em relação ao que é ser mulher, por uma sociedade machista, que condena o nosso corpo, nossas ideias e vontades, fazendo com que nossa referência do que é ser mulher perpasse por esse rolo compressor social.
A ginecologia natural é um chamado para viver a espontaneidade de cultivar a saúde e não a doença.
As mulheres foram as primeiras médicas e enfermeiras da história da humanidade. Elas eram parteiras, curandeiras, raizeiras e detinham os saberes necessários para proporcionar saúde para as pessoas. Você conhece suas ancestrais? Elas plantavam, colhiam e sabiam exatamente para quê cada planta deveria ser utilizada. Um dos motivos de estarmos reunidas nesse movimento, é para recuperar esses saberes, que ao longo de muitos milênios vêm vivendo um processo de desapropriação. Quando surgiram as universidades, os homens se apropriaram desse conhecimento que as mulheres carregavam e vinham compartilhando há milhares de anos.
Eles levaram todos os saberes para as academias e excluíram completamente as mulheres desse contexto. Portanto, todo o conhecimento não foi somente roubado, mas também distorcido, pois, diferentemente de um médico que recebe um diploma, as curandeiras e parteiras não possuíam um documento para legitimar todo o conhecimento adquirido com a prática. Para que os homens permanecessem no domínio, as mulheres que possuíam esse conhecimento, passaram a ser perseguidas e massacradas. Foram chamadas de bruxas. É importante reiterar que essa é uma perspectiva eurocêntrica, porque para além do que acontecia na Europa e o peso que tal contexto possui nos dias atuais, os saberes ancestrais sobre a saúde sobreviveram por séculos em diferentes culturas ao redor do mundo.
A ginecologia natural não é contra a medicina. Muito pelo contrário! Somos ALIADAS de uma prática médica integrativa e respeitosa. É fundamental resgatar a autonomia para entendermos o que nosso corpo está falando para podermos escolher nossos caminhos. Ao longo da história da humanidade foram as mulheres as responsáveis pela resistência de todos esses saberes. Nada mais justo do que o empoderamento, a gratidão e a força de todas essas nossas ancestrais para fazer um bom uso do conhecimento.
Carol El Agha.