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Maria Madalena, a inexorável marca de mulher sexualmente perigosa e a Igreja Católica.

         A misoginia religiosa escondida na mentira sobre a imagem de uma mulher livre.

Por Alíne Valencio.

Deusa,

Mais uma semana se passou e eu fiquei demasiado eufórica para te encontrar novamente. E embora minha semana seja abarrotada de compromissos, que vão desde ensaios para peças, gravações para filmes (sou atriz) até a tarefa de gerenciar toda a revista e ainda organizar a minha agenda com os atendimentos particulares para mulheres, com meu trabalho com o Sagrado Feminino, meus treinos na academia, escrever meu livro e tantos outros afazeres eu, ainda assim não esqueço de você e desta coluna. Eu amo essa revista, e em especial esta coluna. E é claro que você vai achar tendencioso né? Afinal eu sou a dona da revista. Mas, saiba que não é isso que me deslumbra. De jeito nenhum. O que me move é a história linda dessa mulher incrível que é Maria Madalena e seu legado para as mulheres. E minha missão de vida: transmitir seus ensinamentos e inspirar mulheres a serem livres e donas do seu nariz. E o objetivo de eu ter criado essa revista foi exatamente esse e atingir o maior número de mulheres possível para fortalecermos a egrégora feminina no mundo.

Tá vendo? Já me empolguei né? Foi um parágrafo só para expressar meu amor por tudo isso. E como eu sigo estudando muito, para não só alimentar minha alma feminina, mas também minha sexualidade, eu não posso me eximir de compartilhar todo meu conhecimento com você e cumprir minha missão nessa vida. Nem quero me abster disso. Pelo contrário! Quanto mais eu adquiro conhecimento, mais me dá vontade de transmiti-lo.

Por isso minha querida, vamos a mais uma matéria emocionante sobre Maria Madalena. E começo te fazendo uma pergunta: Você, em algum momento parou para refletir a respeito do motivo pelo qual uma mulher nunca ocupou um alto cargo eclesiástico dentro da igreja católica? Ou você já viu alguma mulher na incumbência de bispo, arcebispo ou até mesmo Papa? Eu nunca, em 47 anos de vida. Pois é! E se considerarmos o milenar histórico conservador e rechaçador dessa instituição, lamentavelmente não há como inferir em outra hipótese que não seja a misoginia e o medo. Medo de que? De perder o poder do reinado masculino dentro do catolicismo. E essa premissa não é um mero achismo meu tá? Veja o trecho do livro “Maria Madalena- A verdadeira História”, de Rodrigo Silva, o que diz nas páginas 9 e 10:

“A própria Igreja Católica, diga-se de passagem, reconheceu o erro histórico, mas era tarde demais. Aquela desastrosa homilia papal que hoje daria uma boa indenização por danos morais colou na teste de Maria Madalena a indelével marca de mulher sedutora, sexualmente perigosa.

A fama que ela tinha era tão controversa que sua canonização foi longamente adiada. Somente em 2016 o Papa Francisco, quebrando um silêncio de quase dois mil anos, tornou-a oficialmente santa para o catolicismo. Muitos chegaram a supor que a demora se deu por questões de misoginia, ou, pior ainda, pelo medo eclesiástico de que as mulheres descobrissem sua força através de Maria Madalena e reivindicassem sua devida relevância na hierarquia da Igreja. Será?”.

Amada leitora, tire suas próprias conclusões a respeito disso. Mas, considere o fato de que o máximo que uma mulher consegue trilhando uma trajetória profissional dentro da Igreja Católica é o que? Ser uma freira? Ou uma carola? Você já viu alguma freira no altar de uma igreja pregando a missiva? Eu também não. Pelo que sei, só padres (homens) é que podem celebrar uma missa. Ou não? Se eu estiver enganada me convença. Se você já presenciou, em algum lugar uma mulher à frente de uma missa aí eu até posso me redimir do que estou conversando com você. Do contrário, meterei ainda mais o dedo nessa ferida e o nariz bem metido onde tiver machismo e conservadorismo. E você até pode argumentar o seguinte: “É assim que as coisas funcionam”. E eu te diria: “Justamente. E porque”? “Qual a razão de as coisas funcionarem dessa maneira”? E não me venha meter Jesus Cristo no meio disso tudo, porque não há nenhuma ligação com ele essa forma de estruturação da Igreja, em primeiro lugar pela razão de que Jesus casou-se com uma mulher que a Igreja renegou por milênios e só reconheceu como santa porque já estava ficando complicado sustentar uma mentira tão nojenta como essa em pleno século 21. Não é porque a Igreja é boazinha não tá? Pronto falei. Em segundo lugar porque foi, justamente a ela que ele deu a missão de pregar sua palavra para o mundo. Então, isso não é coisa de Jesus, certo? Sendo assim, não seria lógico,  e mais que justo que uma mulher estivesse à frente de um altar numa Igreja pregando a palavra D’Ele? Portanto,  isso é coisa aqui da terra mesmo. De sede de poder e ganância desses eclesiastas machistas, isso sim. E uma mulher como ela era uma imensa ameaça a essa estrutura que vinha funcionando tão bem há tanto tempo. Não é à toa que ela nem é mencionada no Novo Testamento, exceto em algumas passagens bem específicas e propositalmente selecionadas.

Outra coisa, estudos apontam hipóteses muito precisas de que ela tenha sofrido abuso sexual na infância, cometido por algum membro da sua família. Hummmmm! Estranho que isso ninguém menciona né? A Igreja só enfatiza e reforça que ela era uma prostituta. Mas e porque ninguém menciona esse fato sobre a vida pessoal dela ainda que sejam apenas conjecturas? Porque ninguém fala do HOMEM que cometeu esse ato nefasto com ela e o impacto que isso teve na sua vida inteira? Não se faz mais que óbvio sua sede de liberdade e sua força para libertar mulheres dos grilhões machistas da moral religiosa tenha causa nesse episódio de sua vida? O fato de nunca terem trazido tal contexto à tona, diz muita coisa a respeito da faceta misógina da Igreja. Entretanto, para mais uma vez fazer valer a máscara de benfeitora, tentaram santifica-la usando o discurso de que ela era “Madalena arrependida e foi perdoada”. Não me parece lógico que ela tenha se arrependido de algo, até porque não há nada do que ela precise se arrepender, uma vez que ela só desejava ter liberdade para ir e vir e tomar o lugar que era nosso por direito no mundo: o lugar de mulher. E ela pretendia que todas as outras mulheres também fizessem o mesmo sem pesar. Por acaso há algum crime nisso?

Para a sociedade castradora que ela vivia sim. E parece que a nossa também continua articulando os mesmos padrões. Está compreendendo porque Maria Madalena e seus ensinamentos ainda são fundamentais para a causa feminista? Está clara a razão pela qual se faz urgente trazer à luz do mundo seus ensinamentos e suas palavras? A não ser que você ache normal ainda em 2024  tantos assédios, tanta violência contra a mulher, tanto preconceito, tanta culpa, tanto dedo apontado para nós tão somente por sermos mulheres. Do contrário não existe possibilidade negacionista acerca da fundamental necessidade de reconexão com ela e sua força feminina. Seu legado de amor é imprescindível para a união das mulheres. O Sagrado Feminino nunca esteve tão atual e nunca foi tão necessário. Somente quando as mulheres, todas elas, se conscientizarem de que é primordial se reconectarem consigo mesmas descobrindo sua força primitiva e que é essa força a agente transformadora da realidade da mulher, essa sociedade vai mudar. Caso contrário, essa peleja vai muito longe ainda, por séculos, ou talvez, por mais alguns milênios. Porém, tenho absoluta certeza de que você quer realizar seus sonhos, ainda que eles sejam “ousados”. Pois bem, se sua resposta é “sim, eu quero”, não há como negligenciar tudo isso, uma vez que isso seria negligenciar a si mesma e aos seus sonhos mais profundos.

Deusa maravilhosa, você já sabe que não pretendo nem tenho a  arrogância de acreditar ou de querer que concordem com o que eu escrevo ou penso. Até porque isso seria um peso. E dos pesos que não são meus eu já venho me livrando há muito tempo. Se ir à Igreja te faz feliz e você encontra lá o alento que sua alma busca e as respostas que sua razão precisa, vá em frente. Apenas te convido a questionar tantas proibições, tanto julgamento, tanta culpa. Somente atente para o fato de que nada disso é normal.  Ou você acha que viver apreensiva com medo de “pecar” é normal?  Consulte seu coração para analisar se é normal você viver ouvindo que “Isso não é coisa para mulher”, ou que você não pode isso, ou você não pode aquilo. Consulte sua alma para confirmar se é normal você ir contra a vontade dela e ser feliz, muito feliz. Pergunte a si mesma se é normal você viver para suprir as expectativas alheias e agir da maneira que os outros acham que é certo? E isso não tem nada a ver com a Bíblia ou com a palavra de Deus ok? Até porque, os livros que compõem o Novo Testamento foram precisamente escolhidos pela Igreja Católica. Logo, há muito mais coisas escondidas sobre a palavra de Deus que não estão lá, porque seguem essa mesma linha de raciocínio do nosso bate papo. E isso nunca interessou nem vai interessar para o catolicismo. Isso tem a ver com você, e somente com você. Tem a ver com o que você pensa a respeito disso tudo por si mesma.

Até porque, como já falei em outras matérias, você não precisa que ninguém te diga como pensar, ou precisa? Você tem sabedoria interior e inteligência suficiente para traçar sua própria linha de raciocínio sobre qualquer coisa e sua decisão deve ser soberana na sua vida. Sendo assim, se você concluir que tem sentido toda essa nossa conversa, eu ficarei muito feliz de ter plantado a sementinha da liberdade no seu coração. E se você, ainda assim discordar de mim, tá tudo certo também. Eu só quero te ver muito feliz com suas escolhas e que elas sejam feitas por você e não pelos outros, porque o corpo é seu e de mais ninguém. E teu corpo é teu templo sagrado.

Com todo amor, te espero na semana que vem.

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Alíne.

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