Search
Close this search box.

        Maria Madalena e os apóstolos de Jesus, machistas e misóginos.

           Maria Madalena- A irritante mulher que desbancou o machismo estrutural com o aval de Jesus!

 

Por Alíne Valencio.

Deusa,

Chegou o momento tão esperado. Pelo menos para mim. Na semana passada terminamos uma série de matérias para contextualizar o corpo feminino ao longo da história antes de Cristo, tendo como base o livro de Catherine Salles, “Nos submundos da Antiguidade”. Nessa série de matérias pudemos esclarecer como o corpo feminino foi rebaixado e adestrado para atender um sistema machista, estruturado na premissa de que mulher existe tão somente para servir o homem, com seu corpo.  Tudo isso para compreendermos as razões de muitos acontecimentos relativos ao universo feminino ainda se darem em 2024, tais como feminicídio e suas ramificações. Essa contextualização é necessária e é um ponto de partida também, para desmistificar histórias mal contadas e fantasiosas a respeito da vida de uma das mulheres mais misteriosas, mas também mais poderosas da história da humanidade: Maria Madalena. Estou discorrendo sobre isso porque ela foi tachada pela igreja cristã como prostituta porque era mais fácil desviar o foco do que realmente estava acontecendo (o fato de que existia uma mulher irritante e abusada tentando desobedecer as regras que os homens criaram- Ah! isso é demais para o sistema religioso e patriarcal)  e justificar  que  mulheres como ela deveriam servir de exemplo para outras. Você deve se lembrar das matérias anteriores onde eu comentei que apenas as mulheres obedientes eram mulheres dignas e consideradas pertencentes à sociedade grega não é mesmo? Pois é! Ah, só para lembrar que Maria Madalena nunca foi prostituta tá?

Caso contrário, o destino da mulher estava fadado à prostituição. Contudo, é bom lembrar que prostitutas são consideradas mulheres à margem da sociedade porque exercem sua sexualidade de forma livre, ou seja, não seguem normas e não obedecem ninguém. Elas são donas de si. Logo, qualquer mulher que ousasse seguir suas próprias vontades era uma puta! Ah, agora fica mais fácil compreender a verdade acerca de Maria Madalena não é mesmo? Vejam esse trecho do Evangelho de Maria Madalena (pág. 15) :

“Quem puder, compreenda”

“Não somente Myriam de Magdala é uma mulher, mas é uma mulher que teria acesso ao “conhecimento”. E é nesse sentido, que na época de Yeshua, considerada como “pecadora”, ela não SE CONFORMA com as leis de uma sociedade onde o conhecimento é coisa para homens e na qual mulheres não tem direito de estudar os segredos da Torá NEM DE INTERROGAR os caracteres claros ou obscuros das suas letras quadradas”.

Minha querida, está claro aqui que ela foi chamada de pecadora, vulgo, puta, porque ousou querer ter acesso ao ‘conhecimento’. E que bendito conhecimento é esse? Amiga, estamos nos referindo não somente ao conhecimento científico, aos livros, ao direito de estudar e obter conhecimento intelectual. Até porque, isso não significa quase nada, em se tratando de liberdade e poder pessoal. Ou seja, há tanta gente letrada mas engavetada dentro de normas sociais conservadoras e retrógradas. O ‘conhecimento’ ao qual o trecho se refere é também o autoconhecimento, inclusive o sexual. Esses sim, eram perigosos. Ou melhor, ainda são. E o conhecimento intelectual conduz ao autoconhecimento. E quando alguém adentra esse caminho, não tem mais volta, porque a pessoa se empodera de si, e ninguém mais manda nela. Ninguém!

Você compreende agora qual a verdade sobre Maria Madalena que ninguém conta? Porque revelar essa verdade a seu respeito é o mesmo que endossar a liberdade feminina por completo. Mas, e daí como o patriarcado, o machismo estrutural e a misoginia representados pela sociedade  e pela igreja se sustentariam, não é mesmo? Está captando o quanto Maria Madalena era irritante? Inclusive para os próprios apóstolos de Jesus, que eram uns machistas egocêntricos. E eu vou te provar isso, citando mais um trecho do Evangelho de Maria Madalena, onde os próprios apóstolos questionam a atitude de Jesus, ao escolher uma mulher e não eles, para pregar seus ensinamentos após sua ressurreição. Observe: (pág. 9)

André então tomou a palavra e dirigiu-se a seus irmãos:

“O que pensais vós do que ela acaba de contar? De minha parte, eu não acredito que o Mestre tenha falado assim. Esses pensamentos diferem daqueles que nós conhecemos”.

Pedro ajuntou:

“Será possível que o Mestre tenha conversado assim com uma mulher, sobre segredos que nós mesmos ignoramos? Devemos mudar nossos hábitos, e escutarmos essa mulher?

Será que ELE verdadeiramente escolheu-a e preferiu-a nós?”.

Deusa, este trecho está claríssimo. Os apóstolos desqualificam Maria Madalena quando duvidam que Jesus “tenha falado assim”. Quer dizer, é óbvio que eles consideraram que ela não entendeu direito as palavras de Jesus. Isso significa que eles não acreditavam na capacidade intelectual dela. E mais claro ainda está quando Pedro questiona as atitudes de Jesus desacreditando que ele tenha dito a ela coisas que para eles não foi dito. Isso implica em dizer que eles, de certo modo, estavam raivosos com Jesus por ele ter considerado a habilidade intelectual e de comunicação de uma mulher, ainda mais de uma puta! O subtexto é esse: “Como assim Jesus preferiu dizer para uma mulher o que nós homens devemos fazer”?  Imagine a ira desses homens amiga Deusa. Imagine só.

Até porque ela não era a “pecadora” da qual nos relatam os evangelhos. Ela era também amiga íntima  de Yeshua ( Jesus) , a “iniciada” que  transmite seus ensinamentos mais sutis. E leia-se por ensinamentos mais “sutis”, a inclinação humana para a intuição aflorada, a mediunidade, e leis universais que regem os mandamentos de Jesus. Porém, não da maneira que eles são ensinados. Mas, o mais importante que eu faço questão de enfatizar  aqui é a limitada capacidade de raciocínio dos apóstolos, vulgo, homens misóginos, que, com sua limitadíssima competência de argumentação não compreenderam NADA sobre os ensinamentos de seu mestre, e Jesus teve que “desenhar” para eles entenderem.  Num trecho da página 12 do Evangelho de Maria Madalena consta o seguinte:

“ Yeshua não amava João e Pedro “mais” que a Judas, mas os amava de modo diferente.  Ele os amava a todos com um amor universal e incondicional, mas ELE amava também cada um de um modo único e particular. Por exemplo, é nesse aspecto “particular” de sua relação com Myriam de Magdala – Maria Madalena) que o Evangelho de Felipe insistirá, no qual Myrian de Magdala é a companheira de Jesus.

Pode-se amar “divinamente” todos os seres e mesmo seus inimigos, segundo o exercício proposto por Yeshua. O amor é feito de preferências, quer dizer, de afinidades, de ressonâncias, de intimidades, que não são possíveis com todos:

“O MESTRE amava Maria Madalena mais que a todos os discípulos e a beijava na boca frequentemente. Os outros discípulos viram-no amando Maria Madalena e dissera : “Porque a amas mais do que  a todos nós”? O Salvador respondeu dizendo: “Como é possível que eu não vos ame tanto quanto a ela?”

Musa, perceba que a cegueira do egoísmo falocentrico desses cidadãos, os fazia não compreender a diferença entre o amor de irmãos que Jesus sentia pelos apóstolos, do amor de um homem para uma mulher,  que ele sentia por Maria Madalena. Jesus não os amava menos, mas de forma diferente. Não é óbvio? Contudo, ainda assim seu egocentrismo e ira para com a figura de uma mulher que tinha mais acesso a Jesus os deixava possessos. Aqui cito mais um trecho que confirma essa raiva:

Na página 16 do Evangelho de Maria Madalena, encontramos a seguinte passagem:

“As conversas que ela tem com os discípulos não podem senão irritá-los. Por quem ela se toma? Não lhe é suficiente ser amada pelo Mestre, é preciso ainda se apropriar de Seu ensinamento e bancar a “iniciada”. Ela emprega as mesmas palavras que Yeshua quando ELE se encontrava em presença de inteligências “não preparadas”, mais ou menos limitadas, tomando por real aquilo que elas percebiam no campo estreito das suas percepções: “Compreenda quem puder”.

Deusa, esse fragmento deixa visível a cólera que ela impunha sobre eles, porque ela os lembrava dos limites da sua compreensão, ou seja, ela tinha dons que, talvez, naquela época eram considerados apenas dádivas do espírito masculino. Trata-se de um conhecimento do tipo visionário ou profético que não era considerado próprio das mulheres, mas que pertence certamente à dimensão feminina. Pode-se dizer que os discípulos de Jesus acreditavam ser digno usurpar de Maria Madalena o direito ao conhecimento espiritual e a dons mediúnicos. Em outras palavras, essa mulher era muito atrevida, ousada e intrometida. E isso dispara no inconsciente masculino um gatilho de perigo, onde seu poder de controle corre sérios riscos e seu reinado começa a ser desestabilizado. Esse é o verdadeiro motivo pelo qual até hoje Maria Madalena é considerada puta! Embora a igreja católica a tenha reconhecido como Santa alguns anos atrás. Contudo, isso não absolve a igreja de todo o mal que causou à humanidade, em especial, à nós mulheres durante os milênios de mentiras e manipulações em cima do nome dela e da sua figura, porque o estrago já está consolidado e até hoje nós arcamos com as consequências dessa violência. A mim, a igreja não engana. Não mesmo.

Destarte, vou finalizando por aqui essa primeira de uma série de matérias a respeito da Mãe do Sagrado Feminino, que burlou leis machistas, foi suficientemente atrevida a ponto de meter o nariz onde não foi chamada por um homem e encará-lo de frente com dignidade e coragem por uma vida inteira. E foi a escolhida por Jesus para ser sua companheira de vida, e além dela. Então, minha querida leitora, te instigo a refletir a respeito do quanto você tem sido corajosa, atrevida e ousada para “desobedecer” o status quo e “bancar suas escolhas até o fim”. Se você está trilhando o caminho da sua liberdade em todos os sentidos, saiba que eu te admiro e tenho muito orgulho de você, pois eu já percorri essa estrada e ainda me encontro nela, portanto, sei bem os percalços que nós mulheres nos deparamos e gostaria de te dizer, de mulher destemida, para mulher destemida, que você não está sozinha e você pode contar comigo sempre pois o massacre que recai sobre nós é devastador, mas nada se compara a liberdade de sermos donas do nosso nariz. Evoé!

Te encontro na semana que vem.

Com todo amor feminino,

Anúncio
Anuncio305x404

Alíne.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *