Os mistérios em torno da origem da Maria Madalena construída pelo imaginário popular.
Por Alíne Valencio.
Deusa,
Sua maravilhosa, não sei você, mas eu, quando leio sobre mulheres revolucionárias, conheço alguma ou alguém me conta a respeito dos feitos de outra, nossa! Eu me sinto tão grandiosa, tão poderosa, como se fosse eu a mulher a ter realizado aquilo. E me invade uma felicidade, uma força, uma vontade continuar lutando. E continuo em frente. Para mim é um combustível. Isso se chama sororidade, empatia e conexão. Afinal, estamos todas ligadas, embora isso possa parecer uma grande balela. E quem não acredita nisso, paciência. Mas isso é um fato, queiram ou não e nós não temos controle a respeito disso, porque é assim que o universo funciona e não é porque alguns não concordam que a terra vai mudar sua rotação para atender as crenças do ego humano né minha linda?
Mulheres como Maria Madalena e tantas outras que revolucionaram a história, principalmente a história da mulher, impactam expressivamente nossa vida ainda hoje, por mais que, aparentemente não exista a menor correlação no nosso cotidiano, de maneira concreta. Ou melhor, pensando bem tem sim. Quer ver? Quando uma mulher se casa, ainda hoje, em 2024, o que acontece com seu nome? Ele passa a incorporar o sobrenome do marido não é mesmo? Pois é! E quantas mulheres você conhece que mesmo casadas optam por não agregar ao seu sobrenome o do marido? Quantas de nós temos coragem de fazer isso sem temer o julgamento alheio? E você já parou para pensar o que isso significa? Musa, há por trás disso, pairando no inconsciente coletivo, a premissa de que nós somos propriedade dos homens e que estamos atreladas a eles. E olha que já estamos no século 21. Você compreende?
É um despropósito ou não é, em pleno século 21 ainda sermos rechaçadas por não queremos colocar o sobrenome do marido ao nosso? Você sabia que na época de Maria Madalena as mulheres costumavam ser definidas em relação ao pai, ao marido ou até mesmo aos filhos? Dá até um engodo na gente. No Evangelho de Lucas (Lc 8:2-3) ele se refere a determinadas mulheres da seguinte forma: Joana como esposa de Cuza, Salomé é descrita por Mateus como a mãe de Tiago e João ou a esposa de Zebedeu ( Mt 20:20; 27:56) Até Maria, a mãe de Jesus é simplesmente chamada de Maria mãe de Jesus, mas nunca Maria de Nazaré. Um absurdo que se repete ainda hoje. Você reparou que nenhuma foi reconhecida tão somente por suas próprias identidades? Ou você nunca viu alguém dizer assim: “Sabe a fulana, mulher do cicrano”? Muito difícil alguém se referir à uma mulher casada identificando-a meramente por ser quem é. O que as pessoas lembram primeiro, é do homem com quem elas estão casadas.
Sabe minha linda, é perdulariamente exaustivo para nós mulheres sermos sempre rebaixadas à “aba”de um homem e a gente passar a vida tentando nos desvencilhar dessa alcunha ignóbil. Cansa muito né? porque tal percalço nos obriga a, constantemente termos que provar nossa competência e nossa capacidade.
Eu discorri sobre essas circunstâncias para te perguntar se você atinou para o fato de que Maria Madalena, é “Maria de Ninguém”? ou seja, ninguém se refere à ela como “Maria Madalena esposa do fulano, mãe do cicrano ou filha de beltrano”. E essa distinção, por si só, a define como uma mulher independente, sem conexão com um homem. Está vendo como uma mulher livre pode inspirar outras? Amiga querida, aquela era uma época em que jamais uma mulher poderia ser independente de um homem em nenhum aspecto. Mas ela era e não há como negar que isso é inspirador. Pois se naqueles tempos existiu uma mulher independente, o que nos impede de, em 2024 sermos também? Ela era uma mulher “incomum”, e quantas mulheres atualmente são também e não tem coragem de assumir sua identidade?
Você percebeu que num trecho de um dos parágrafos acima eu mencionei que mulheres eram DEFINIDAS em relação `a um homem? Percebe? Sempre querem nos definir. Sobretudo em relação à um homem, ou ao nosso comportamento em relação a um homem, ou ao nosso futuro em relação à um homem. Sempre enfiam um homem na nossa vida guela abaixo mesmo que a gente não queria. E ai de nós se recusarmos. Nesse aspecto muito pouca coisa mudou. Para começar, pessoas nunca deveriam ser DEFINIDAS. Mulheres muito menos. E para mim, inclusive, esse é um dos aspectos pelos quais ela não foi muito citada no Novo Testamento, além de outros inúmeros motivos relacionados a ela ser uma mulher livre e independente. E isso a tornou a “prostituta” construída pelo imaginário popular. Quer dizer, a meretriz perigosa construída pela igreja para manipular o imaginário popular.
Portanto, o legado de Maria Madalena é importantíssimo para mulher atual e merece ser difundido, ensinado, aprendido e aplicado. Não é à toa que justamente agora, no contexto político e social em que estamos vivendo, onde o conservadorismo e o retrocesso moral religioso vem crescendo de forma assustadora, cada vez mais mulheres estejam tomando conhecimento de quem ela era e dos seus ensinamentos. Mas, o que mais é digno de ser mencionado é a sua personalidade, a sua essência vanguardista, que no fundo é igual a de todas nós. E você, nesse instante talvez esteja aí cogitando me dizer que não há em sua trajetória nada de surpreendente que você tenha feito por alguém. Ou, você queira me contar que não cometeu nenhum ato heroico em favor da sociedade ou até mesmo para com outra mulher. Então, eu te digo que, se você busca seu autoconhecimento, você tem ido ao encontro de si mesma e está comprometida com sua própria evolução, você já está praticando “revoluções”. Em suma, quanta gente nem começa? Quantos arrumam desculpas e justificativas para procrastinar sua própria cura interior?
Tomar consciência disso e colocar em prática pode até não impactar na sua realidade, pois talvez você viva em um ambiente tóxico onde as pessoas com quem você convive estejam “dormindo” ou não queiram mudar suas vidas pelo fato de que isso é muito trabalhoso e difícil, mas, eu te garanto que você está contribuindo para a evolução do planeta. E isso é MUITA coisa tá?
O resgate da conexão com nossa sexualidade e nossa energia feminina, com a nossa essência e nossa ancestralidade é um dos pilares da nossa liberdade, da nossa independência e do retorno ao comando das nossas vidas. E é uma das bases do ensinamento de Maria Madalena. Sua total independência e autonomia sobre si mesma, faz dela a maior ícone feminista da história, preconizando a supremacia e autonomia da mulher sobre sua própria vida. E se tem legado maior que esse eu desconheço, uma vez que, a concreta e real necessidade de quebrar os paradigmas que, na atualidade, ainda recaem sobre nós, é um reflexo de toda uma história de adestramento moral e religioso que ela combateu desde aquela época e que teve respaldo de Jesus.
Deusa poderosa, termino essa matéria hoje, com sentimento de missão cumprida por estar sendo suficientemente corajosa como ela foi e botando a boca no mundo, sem medo das consequências que possam recair sobre mim. E você, como anda a sua coragem de ser você mesma? Você tem sido consideravelmente audaz a ponto de defender seu posicionamento até o fim? Você vem sendo íntegra e leal à si mesma para bancar suas decisões perante julgamentos alheios? Saiba que essa personalidade já existe aí dentro de você, a questão é que ela te é estranha e precisa ser encontrada, desconstruída e resgatada para que sua verdadeira identidade emerja para você e depois para o mundo.
Pense nisso e na semana que vem a gente se encontra novamente.
Com amor,
Alíne.