Por Alíne Valencio.
Ah, minha querida,
Mais uma sexta feira incrível, com um conteúdo subversivo para você. Se não for assim, para mim nem vale a pena. Ou revoluciona ou não me interessa. E ser mulher é revolucionar. Você já parou para pensar nisso? Em primeiro lugar porque o portal da vida está conosco. Só nós podemos gerar vida. Se não fosse por nós nenhum homem existiria, afinal, é a nós que foi dado o dom de parir e isso já é motivo suficiente para revolucionar o mundo. Sim, dar à luz é um ato revolucionário e eu não estou me referindo somente a conceber um filho, mas a qualquer sonho, meta, ou objetivo que arda em sua alma. E Jesus em sua infinita bondade e sabedoria estampou na cara da sociedade essa verdade até hoje. Não fosse assim, nós mulheres não incomodaríamos tanto essa sociedade machista e misógina em que vivemos. Tanto é verdade, que, para que não nos tornássemos donas de nossas próprias vidas era preciso impedir que isso acontecesse a todo custo. Somos tão poderosas que metemos medo, muito medo!
Contudo, fomos condicionadas a desacreditar na nossa força feminina e esse fato contribuiu significativamente para o crescimento e estabelecimento do machismo estrutural, que acertadamente se apropriou, inclusive dos próprios ensinamentos D’Ele, distorcendo propositadamente suas palavras com o intuito de nos colonizar e encabrestar. Além, claro, de usá-las a seu favor para justificar atitudes e comportamentos misóginos e machistas, como, por exemplo, o fato de termos sido tratadas como objetos e propriedade de homens por milênios, até hoje. E o próprio Jesus ensinou o contrário em seu legado. Observe o que diz no Evangelho de Maria Madalena ( pág. 54) :
“……É neste sentido, por exemplo que Yeshua, em outros Evangelhos, nos pede para não olhar uma mulher com cobiça, porque então não seria mais olhar uma mulher, mas olhar um objeto de prazer e gozo possível, passando ao lado do Sujeito que ela é da relação- infinitamente mais rica que aquela de uma possessão- que poderia se estabelecer com ela”.
Amiga deusa, de que maneira o sexo masculino olha para nós, em sua maioria? Com desejo ou cobiça? Saiba que há diferença. Na cobiça, como citado no trecho acima, há possessão, controle e cerceamento. No desejo, ao contrário, há exaltação da beleza e do desejo do coração e do corpo. A cobiça do corpo torna o prazer aviltante e degradante. O desejo, por sua vez, enaltece o gozo como liberdade de escolha. Portanto, quando Jesus escolheu Maria Madalena para pregar o Evangelho e propagar seus ensinamentos ele consolidou definitivamente o poder da mulher para o mundo. Isso implica em afirmar que nada, nem ninguém, tem o poder de desbancar o feminino na terra.
Isso torna nossa sexualidade sagrada em sua essência. E por mais que as civilizações machistas se tornem artífices em adestrar e comandar o corpo feminino, ainda assim, não tomarão nosso trono, porque este reinado tem ao seu lado D’Ele, na figura de sua amada, Maria Madalena. O trono que foi endossado pelo próprio Jesus. Logo, quem pode conosco?
O legado de Maria Madalena é o do próprio Yeshua, uma vez que ele mesmo o consolidou dando a ela autonomia para ir e pregar o Evangelho, porque no fundo o próprio Jesus reconhecia seus discípulos como fracos a ponto de não serem hábeis em suportar adversidades severas e avassaladoras. Mas, observou nela o contrário.
Analise este trecho do Evangelho de Maria Madalena ( pág. 89, 90):
“Estas perseguições, na óptica “pneumática” ou espiritual à qual Yeshua quis convidá-los, são uma ocasião de crescimento em constância e em amor. É esta oportunidade que parece escapar aos discípulos e que não escapa àquela que eles terão tendência a considerar como uma “mulher fraca”: Miryam de Mágdala, que na hora da adversidade já se revelou mais forte que eles, fiel até o fim”, e capaz de aguentar, não sem sofrer, mas pelo menos sem desesperar, a crucifixão de seu Mestre e amigo.
Marcos, Mateus e outros evangelistas, têm o cuidado de lembrar esta presença das mulheres no Gólgota, quando os homens já tinham fugido:
“Havia lá numerosas mulheres que olhavam à distância, aquelas mesmas que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram, entre outras Maria de Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”( mt, 27,55)
Os homens são menos corajosos que as mulheres? Têm eles menos medo de morrer e temem, antes, o sofrimento? Sem dúvida, isso não é assim tão simples…
Entretanto, pode-se notar que ao pé da cruz, como à cabeceira daqueles que estão muito doentes e no nascimento de crianças, os homens e os pais estão geralmente ausentes; isto não é, sem dúvida, por causa desta covardia da qual por vezes os acusam, mas da dificuldade que tem o espírito masculino (nos dois sexos) em assistir a um sofrimento no qual ele é impotente, onde não é preciso fazer ou combater, porque não nada há a fazer….Se ainda fosse preciso “fazer” qualquer coisa, pegar uma arma, levantar uma cadeira, acionar um instrumento…o espírito masculino saberia se tornar útil e eficaz.
O espírito feminino (de novo nos dois sexos) é sem dúvida mais capaz de aguentar esta impotência e esta inutilidade diante de certos sofrimentos. Mas estar lá, ser testemunha na compaixão e na paciência, restabelece uma outra eficácia e uma outra utilidade, mais próxima certamente do mundo “pneumático” do qual o próprio Yeshua foi o testemunho”.
Precisa dizer mais alguma coisa a respeito da decisão de Jesus de delegar a uma mulher a tarefa de propagar seus mandamentos? Está claro que seus discípulos não tinham habilidade emocional e Inteligência interior para assumir tais incumbências e Ele sabia disso. Entretanto, justamente o fato de Jesus ter reconhecido este “gargalo” em sua equipe, é que instigou nos apóstolos a raiva contra ela. E é até hoje, motivo de determinadas atitudes masculinas, como por exemplo, abandonar uma mulher grávida por não saber lidar com o medo que o assola. E a engenharia do patriarcado é feita para validar esse comportamento, e pior, como normal. Ou seja, eles preferem ser egoístas e olhar para o próprio umbigo fugindo, ao invés de enfrentarem aquilo de que tem medo. São fracos e duvidosos no caráter minha Deusa. Não confiáveis para executar tarefas que lhes exijam autocontrole e fortaleza interior. Ora, posto isto, eu te pergunto: “Se você fosse Jesus, você delegaria a eles uma missão tão importante e de tamanha responsabilidade”? Reflita e responda a si.
Esse modus operandi masculino se configura até hoje como premissa para atenuar atitudes fracas. Dito isto, Maria Madalena representa, certamente, a personificação da fortaleza interior necessária para seguir em frente apesar dos cruéis percalços que se enfrenta no caminho. E Maria Madalena era essa mulher. E o fato de ser uma mulher, empodera e potencializa ainda mais todo o legado de Jesus sobre a humanidade.
E que tudo isso tem a ver com sexualidade feminina? Ora, minha linda…absolutamente tudo. Sexualidade também é exercitar a habilidade interior de resiliência e perseverança. E há quem é mais evidente tal virtude? A Quem, de uma forma ou de outra, por gerações e gerações, há milênios, é ensinada essa capacidade de caráter? Quem, hoje em dia, que você conhece aí na sua casa, na sua família, no seu bairro, que na hora de encarar de verdade uma situação difícil vai até o fim, rearranjando toda a estrutura familiar para dar conta da demanda que se apresenta, e consegue, com amor manter toda essa mecânica funcionando? De verdade, me responda: quantos homens estão presentes em todos os momentos difíceis e se mostram úteis e parceiros?
Se, ao sexo masculino é perdulariamente árduo se mostrarem prestativos em situações simples e corriqueiras num ambiente familiar, por exemplo, quem dirá assumir um compromisso tão grandioso como preconizar e consolidar os ensinamentos de Yeshua para o mundo? Seria um tiro no pé.
Um encargo tão majestoso como esse tem como premissa a necessidade de pupilos corajosos e capazes de colocar diante do medo o amor e fé. Uma mulher, seja ela quem for, de que cultura, raça, classe social pertencer, tem inerente dentro de si esse conhecimento, essa sabedoria ancestral que nos conecta com Deus. Toda mulher sabe, de forma inexplicável acionar essa força no momento mais desafiador.
Por hoje é só minha deusa,
Com amor,
Alíne.