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Máscaras – Uma reflexão sobre as renúncias da nossa profissão.

Mônica Bonna - Máscara - Educaramba 2023

Por Mônica Bonna.

Olá, minhas queridas! Que bom tê-las aqui de volta! Espero que estejam se sentindo bem!

Gostaria de trazer um assunto que é inerente à carreira de atuação: Renúncias.

Há coisas que esperamos ao iniciar na carreira de teatro: desenvolver nossas habilidades de expressão corporal e vocal, ficarmos mais desinibidas perante uma plateia, aprender técnicas de performance, memorização e etc. Porém, ninguém te prepara para o que temos que abrir mão e/ou aprender a dosar quando escolhemos ser artistas.

Todas as profissões têm suas particularidades. Algumas exigem que você se vista de roupa social estilo europeu, mesmo morando num país tropical.  Outras esperam que você mostre um caminho para alcançar a cura – acreditando que o poder da vida e da morte estão em suas mãos. Algumas demandam que você esteja numa escola, lidando, diariamente, com centenas de jovens e crianças.  E no teatro? Quais são as renúncias esperadas para quem escolhe (ou é escolhido) por esse ofício?

Antes de iniciar essa reflexão, quero adiantar que: ao falar sobre esse assunto, não estou dizendo que precisamos aceitar ou nos conformar com as coisas do jeito que são. Precisamos sim, constantemente, buscar melhorar nossas condições de trabalho e nossa vida como um todo. Quero apenas propor uma reflexão fria e aberta sobre o que ninguém te conta quando você decide ser artista, mas que, com certeza, vão esperar de você.

  1. Adaptações na convivência com família e amigos:
    Trabalhar com entretenimento significa que você trabalhará, principalmente, nos momentos que seus familiares e amigos estiverem de folga e vice-versa. Naturalmente, assim como disse o poeta: “O artista vai onde o povo está”. Para contornar esses desencontros sociais, será necessário encontrar meios e momentos de encontrar com as pessoas que você convive. 
  2. Capacidade de “mascarar” questões pessoais temporariamente:
    Quando entramos em cena, nos momentos em que a história está sendo contada, estamos vivendo uma outra personagem. Personagem essa, que tem suas próprias emoções, sua própria história (apesar de cada atriz carregar consigo sua bagagem de repertório, que ajuda na concepção de cada personagem, estar à mercê das próprias emoções na hora de uma apresentação ao vivo, pode ser arriscado). Com o tempo, aprendemos a deixar nossas emoções “assentando” enquanto estamos em cena. Para retomá-las quando o show acabar. Exemplo: Sua personagem é cômica, mas você está em luto, ou sofrendo por algum problema em sua família. Em alguns casos, acontece de você ter uma ‘stand-in’ (uma substituta). Mas e quando não tem? Haverão situações que você vai precisar silenciar momentaneamente sua dor para o show continuar. Essa é uma questão bem delicada. Entender os próprios processos, e lidar com cada emoção em determinado momento. Sintonizar, por um momento, na frequência de outra ‘persona’, e depois voltar. É muito importante, ter um momento para si mesma dentro da sua rotina. Um momento de se observar, se ouvir e se amar. É fundamental liberar nossas próprias emoções para encontrarmos equilíbrio em nossa vida pessoal e profissional. 
  3. Provas de valor:
    Muitas vezes, em conversas com não artistas, se faz necessário “provar nosso valor”. Quando falamos que somos artistas, ouvimos coisas do tipo: “Faz alguma coisa engraçada”, “Chora, para eu ver!”. Ou, às vezes, nos perguntam: “Mas você trabalha com o quê?”. Pode conversar com qualquer artista, todos já ouviram coisas desse tipo (inclusive, fazemos piadas sobre isso). Mas será que, lá no fundo, isso não gera em nós uma constante busca pela aprovação externa para validação pessoal? Outra prova de valor que enfrentamos é a negociação de cachês com clientes e produtores. As pessoas acreditam que, por trabalharmos com algo que amamos e por ser uma vocação nossa o ofício de atuar, parte do nosso retorno financeiro já está sendo pago em forma de satisfação. Para melhorar essa situação,  demanda criar uma cultura de valor entre os artistas e começar a estabelecer pisos e, de fato, seguí-los. (Não vou abordar nesse texto sobre piso salarial, sindicato e etc. Mas aguardem, pois em alguma semana ainda vamos levantar esse tapete).

Esses foram alguns pontos que trouxe para exemplificar,  porém existem outros que, com certeza, vocês vão lembrar (e gostaria até de instigá-las a refletir sobre isso e, quem se sentir à vontade, comentar aqui no post) Nos unindo, conseguiremos ir além!

Para deixar o coração de vocês mais quentinho depois de escancarar essa porta, digo que a colheita dessas renúncias, é algo transcendental. Pode envolver ganhos muito preciosos como: aprimoramento pessoal, equilíbrio pessoal e interpessoal, reconhecimento do próprio valor, capacidade de transmitir emoções, que geram sentimentos, que geram mudanças.

Agora, ao me despedir por hoje, quero deixar vocês com uma poesia autoral, que escrevi num momento de luto, que eu precisei entrar em cena tantas vezes, com o coração partido. Espero que essas palavras possam ressoar de uma forma leve e boa em cada uma de vocês!

Beijinhos e até logo!

~*~

Persona 

(Escrita por Mônica Bonna em 28/06/24)

É tipo aquela imagem do palhaço se maquiando.
Só eu sei o quanto eu sorrio, enquanto por dentro as lágrimas seguem rolando.
E eu nunca paro de entreter,
mesmo sabendo que a dor em mim continua a arder.

Não é que eu não goste… Não me entenda mal.
Até porque foi a arte que me livrou do “normal”.
Quantas vezes não foi no escuro, um farol?
Uma chama que aquece… Um norte… O Sol.

Quantas vezes não foi tudo o que restou?
Uma rocha firme quando tudo desmoronou.

Eu sigo sorrindo porque é o que me resta
e fazer sorrir… Quer melhor vocação do que esta?! 

E que sorte viver da minha vocação
e transformar isso numa profissão!
Mas… Não suponhas que eu não sofra, ou que me cegue pra solidão.
Eu choro até a última gota. Eu ando com a lupa na mão. 

E, ai de mim, se eu me descuidar,
porque a lupa tanto aumenta quanto faz queimar…
E às vezes queima – se eu me distrair
e o fogo teima em tudo consumir.

A vida, pra mim, é à flor da pele
Eu vivo assim pra que não congele.
E cada um sabe da “cruz” que carrega,
do sangue que escorre e o peito não nega.
E toda cruz tem alguém que traz,
sem terceirizar ou deixar pra trás.

E a vida se encarrega de te apresentar
pessoas que seu caminho vão cruzar
e que vão te fazer compreender
que toda cruz, na verdade, é uma chave
e o tesouro quem abre é você.

~*~

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Mônica.

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