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Minha Vó Maria: Raízes de força e amor.

Uma homenagem à ancestralidade de uma mulher negra, que com fé e coragem construiu um legado de sabedoria e cura para sua família.

No mês da Consciência Negra, senti que era o momento de falar sobre minha avó, Maria de Lourdes Jesio. Ela virou uma Estrela, mas se transformou em uma ancestral que ainda me acompanha, com todo o amor que ela me deu em vida. Hoje, lembro dela não mais com dor, mas com carinho profundo e saudade, um sentimento que me ensina a cada dia.

Vovó, como chamávamos com tanto afeto, foi uma mulher negra, simples, de Três Corações, lá em Minas Gerais, e com um coração tão nobre que parecia brilhar. Casada com um homem branco, meu avô, ela, em sua própria insegurança, se sentia inferiorizada pelos brancos. Me pego refletindo sobre o que ela viveu, o que ouviu, o que sentiu. Nunca soube muito da história dela, e isso me pesa. Não sabia, por exemplo, se o casamento dela foi por amor, ou se ela teve sonhos que não conseguiu realizar. Tudo o que conheci de sua história, ela mesma me contou — e muitas vezes repetia, como quem tenta se manter viva nas palavras.

Mas o que sei é que minha avó, mesmo nos momentos mais difíceis, foi uma mulher cheia de força e amor.

Ela foi deixada sozinha pelo meu avô, com nove filhos, em uma casa simples, isolada lá nos confins de Caraguatatuba. Imagine o que era viver naquela época, em um lugar longe da cidade, com poucas opções, sem os recursos que temos hoje. Mas ela, com as suas ervas, sua fé e sua espiritualidade, foi, sem saber, uma curandeira. Perdeu dois filhos pequenos, Joana e Armando, tios que não conheci, mas manteve a família unida e saudável o suficiente para dar conta dos desafios. Filhos adultos ela perdeu dois, tio Cacique e minha Madrinha Elena. Dores que agora, eu sendo mãe, tenho certeza de que a dilacerou por dentro.

Minha avó era a matriarca da família. Todos a reverenciavam, com o respeito que ela merecia. Quando eu era criança, passei muito tempo com ela. Minha mãe, tão dedicada ao trabalho para nos sustentar, confiava a ela muitas das minhas memórias de crescimento. Era com a vovó que eu ia nas reuniões de escola, nas festas, nos eventos. E, confesso, ia mais para estar com ela do que para prestar atenção no que acontecia ao meu redor. Para minha avó, sempre era importante estar arrumada, não importava o que ela estivesse sentindo, porque, na cabeça dela, os brancos precisavam nos ver sempre bem.

E, por mais que eu questionasse isso, me peguei entendendo a carga que ela carregava, o quanto deve ter sido difícil ser mulher, negra e submissa às pressões de uma sociedade tão dura.

Eu me lembro de quando ela não estava bem, com a bronquite que a fazia sofrer, e mesmo assim, ela se arrumava para ir ao hospital. Eu estava ali, cuidando dela, ajeitando seu cabelo, tentando acalmá-la. Como eu sentia esse amor, ainda que ela nunca tenha falado abertamente sobre tudo o que viveu. Para ela, era importante passar essa imagem de perfeição, e eu a respeitava por isso. Era a forma que ela sabia de se proteger.

E assim, fui crescendo ao lado dela, ouvindo suas histórias, suas memórias. E o tempo foi passando, mas minha saudade ficou. A nossa história juntas se repete nos dias de hoje, na comida simples, no arroz, feijão e ovo mexido que comíamos, cada uma com sua colher, olho no olho, compartilhando mais do que comida, compartilhando vida. Hoje, faço esse ritual com minha filha, chamamos esse prato de “Comida da Vó Maria”. Ela floresceu em meio à dor.

Mas a dor, mais uma vez, chegou. Vovó nos deixou, após uma luta contra um câncer agressivo no esôfago. Vi ela definhar, sem conseguir engolir, e foi um processo muito difícil. Eu sabia que havia muita mágoa, muitas palavras guardadas. E essa dor, me parece, foi para dentro de seu corpo. O câncer ficou ali, no lugar onde ela mais guardava, no esôfago. Eu me questiono até hoje sobre quantos sentimentos ela não conseguiu expressar, sobre quantas palavras não ditas a acompanharam até o final.

Após a partida dela, eu senti que parte de mim também se foi. O Natal, que sempre foi uma época de grande significado, para mim perdeu quase todo encanto. Mas foi com o nascimento de minha filha, Sophia, que comecei a me abrir mais para a espiritualidade. Inicialmente, eu buscava entender tudo para entender a minha filha. Mas, conforme fui me aprofundando, comecei a perceber que a espiritualidade é uma jornada minha.

Foi então que minha avó, com sua energia amorosa, se fez presente. No curso de xamanismo, onde comecei a sentir as primeiras presenças espirituais, foi ela que se aproximou de mim, mostrando que nossos guias estão sempre conosco, independente de religião.

Hoje, sigo com a sua energia em meu caminho. Quando comecei a me iniciar no benzimento, foi a imagem dela, com as ervas nas mãos, que apareceu para mim. Ela, que foi tão simples em vida, continua me guiando de uma forma que eu jamais imaginei. Estamos quebrando ciclos que ela não conseguiu romper, acessando os guardiões da nossa ancestralidade e permitindo que nossa família se cure, dia após dia. Todos os dias, colocamos café para os meus ancestrais, como forma de honrar a memória e a energia de todos que vieram antes de mim.

 

Vovó sempre me contava uma história…

Algumas vezes, entrava uma cobra coral em sua casa. Quando isso acontecia, ela colocava algumas crianças dentro do guarda-roupa e outras em cima dele. E começava a sua saga em busca de espantar a cobra. Nunca a encontrava; vovó contava que isso já ocorreu algumas vezes. Confesso que havia esquecido dessa história.

Estava eu em um curso de Ervas e o professor canta a seguinte música:

“O caçador na beira do caminho
Oh, não me mate essa coral na estrada
Ela abandonou sua choupana, caçador
Foi no romper da madrugada.”

Eu literalmente me remeti à cena de minha avó, foi instantâneo, e percebi a coincidência, pois o caboclo Cobra Coral é um dos meus protetores.

A cobra que minha avó comentava era um protetor, que estava junto com ela quando estava sozinha no meio do nada com seus filhos. Estava lá para fazer a limpeza e proteção.

E assim, eu sigo. Com amor, com saudade, mas também com gratidão. Vovó, eu te amo de verdade. Sua filha Valdira te cultua, e eu sigo o seu exemplo.

Deixo aqui um trecho de um registro akáshico que ela se apresentou para mim, um convite para todos nós nos conectarmos com a energia de nossos ancestrais. Tome um café e sinta a força dessa conexão.

 

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O desabrochar de uma rosa, nem sempre é tão simples como as pessoas imaginam.

É fácil observar a beleza no desenvolvimento de uma flor que traz pela sua própria existência, a beleza atemporal aos olhos de quem observa.

Mas uma das percepções que as pessoas encontram em relação a essa flor, é que a sua beleza é regada também pelo poder dos seus espinhos.

Mas a Rosa não se preocupa se esses espinhos estão ferindo os outros, afinal, isso é parte da essência de quem ela é.

Os espinhos não são para Rosa , armas, objetos de dor,  ou sofrimento. Mas sim, uma extensão da beleza que constitui o seu corpo.

Assim como a Rosa, é importante que você compreenda, que, para ser quem você é, e desabrochar a sua história. Você não deve se preocupar com aquilo com que as pessoas percebem como sendo espinhos.

É diferente de observar e trabalhar a sua personalidade, para que isso se adeque, para que te torne alguém melhor. Mas outra coisa é quando as pessoas tentam enxergar espinhos naquilo que de fato é parte da sua essência.

Esses espinhos, assim como a Rosa, servem para algo, servem para alertar, que há espaços e/ou locais que não devem ser acessados por terceiros e por pessoas do exterior.

Essa permissividade parte desse lugar da beleza da observação. De compreender, assim como olhar para uma Rosa, ainda que tão frágil, possui nessa fragilidade uma complexidade.

É importante você olhar para você, com um desabrochar contínuo de crescimento, de consciência, e de felicidade.

Crescer dentro de tantos lugares, de situações com diferentes perspectivas e visões, tornam muitas vezes a existência por si só desafiadora. Mas esse desafio, não é nem de longe o responsável ou o problema que vai interferir e/ou atrapalhar seu crescimento.

Não é a primeira vez que você tem que trazer mais força para transpor. Mas essa força não é para ser aquilo que te bloqueia, ou aquilo que castra o seu crescimento.

Na verdade, essa força vem, porque você se tornou mais forte, não porque as coisas precisam ser necessariamente mais difíceis.

A vida, possui sim seus obstáculos, e que vai possuir para todos.  Alguns mais, para outros menos. Mas não são esses obstáculos que vão tirar o sabor do feijão.

Assim como as pedras que precisam ser tiradas para que você fique com o melhor, algumas circunstâncias e situações na sua vida precisam ser escolhidas.

E o escolher é perceber que você PRECISA ficar com o melhor.

E esse melhor é uma escolha, e você tem a possibilidade de uma escolha consciente.

Não é fácil cuidar das flores no jardim, mas a nossa parte é plantar é cuidar, para que os galhos se tornem roseiras firmes.

O maior presente será a beleza das flores, que estão aí por elas, não somente pelo cuidado. Mas desabrochar é o destino da rosa, perfumar é o destino dela.

Você muitas vezes apagou o seu brilho para poder caber nos lugares, para poder ser aceita, não falo nem dessa vida, falo de muitas outras.

Mas chegou a hora de entender o valor do seu brilho, entender que você não precisa encaixar para ser notada.

De que você será notada por ser quem você é.

Saiba que aceitar a sua ancestralidade não é necessariamente viver na dor, ou abraçar a dor.

É um direito seu, um direito do seu sangue ser feliz.

Então vá minha menina, siga a estrada.

Vá porque o que você precisa está com você, agora isso precisa ser extraído de você, vivendo com autenticidade e com verdade.

Com amor, Vó Maria.

 

Com muito amor,
Dani Jerônimo.

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