As Incríveis Mulheres Que tecem a Montagem no Cinema Brasileiro.
Por Vanessa Cançado.
– Vai Som, Vai Câmera.
Olá Amoras (es), hoje quero falar sobre uma área do cinema que me chama muito atenção, a montagem. A grosso modo o conceito de montagem consiste na seleção, organização, combinação de imagens e sons em uma sequência com objetivo de alcançar um determinado resultado. Mas na verdade é muito mais que isso.
No início quando o cinema era realizado em película, tínhamos o corte e a colagem manuais. Era uma função realizada pelos diretores e com o tempo foram delegando e como achavam chato, delegavam as mulheres. Isso muito imbuídos do olhar machista e simplista de que o trabalho se assemelhava ao de costura, que era de cunho “feminino” e, então, seria uma função bem executada por elas – as mulheres.
Já faz algum tempo que o profissional de montagem passou a ser uma função de grande importância para a direção de um filme e a montagem vai além desses conceitos reducionistas que relegam como algo em segundo plano ou automático, muito pela invisibilidade dada aos profissionais e quando falamos de mulheres mais ainda.
O olhar de uma montadora é único, perspicaz, sensível e são profissionais essenciais ao filme e para determinados temas, diria que é imprescindível que seja uma mulher para dar o encadeamento necessário como se tecesse uma teia a prender o espectador.
Dentro do nosso cinema temos muitas profissionais de destaque e trago aqui algumas para vocês. Começo pela montadora homenageada na 6ª edição do Festival Cabíria em São Paulo, no inicio desse mês – CRISTINA AMARAL, uma referência na área por toda contribuição dada ao cinema e por seu olhar ímpar. Assinou a montagem de filmes como: Dois Corregos(1999), Person(2007), Bodas de Papel(2008) e no recente filme de Juliana Rojas Cidade;Campo que poderá ser conferido agora em agosto no Festival de Gramado.
Formada na USP em cinema iniciou na função na década de 70 e de lá pra cá foram muitos os filmes em que Cristina colocou “a bola no chão e começou o jogo novamente, junto com todo trabalho que veio anteriormente”, conforme a cineasta define a montagem numa entrevista.
Sua filmografia vai da assistência de montagem no filme de Babenco O Beijo da Mulher Aranha(1986), passando pelas montagens de Alma Corsário(1993); Bens Confiscados(2004); Abaixo a Gravidade(2018); Mato Seco em Chamas(2022) de Joana Pimenta e Adirley Queirós, assinando como montadora-chefe e outros tantos.
KAREN HARLEY, é uma montadora de Pernambuco que é também diretora e consultora. Assinou a direção junto com Lucy Walker e João Jardim do premiado filme Lixo Imaginário, sobre o trabalho do artista plástico Vik Muniz num dos maiores aterros sanitários do mundo. Tem uma filmografia incrível assinando a montagem de filmes como Cinema, Aspirinas e Urubus(2005); o recente filme de Anna Muylaert O Clube das Mulheres de Negócios(2024); Estou Me Guardando Para Quando Carnaval Chegar(2019); Amores Vermelhos(2017); Que Horas Ela Volta?(2015); Janela da Alma(2001); Tieta do Agreste(1996); O Quatrilho(1995); Era Uma Vez Eu, Verônica(2012) e muitos outros.
IDÊ LACRETA, uma premiada montadora de São Paulo que iniciou na década de 80 com o longa-metragem Cabaret Mineiro(1980), que lhe rendeu um kikito no Festival de Gramado e fez assistência de montagem no filme de Eduardo Coutinho Cabra Marcado Para Morrer(1984). E já se foram muito filmes montados: A Hora da Estrela(1985); Ópera do Malandro(1986); Ed Mort(1997); o sensacional Um Copo de Cólera(1999); Latitude Zero(2000); Antonia(2006); O Animal Cordial(2017); Diário de Viagem(2021) e outros da extensa filmografia.
KAREN AKERMAN, montadora do Rio de Janeiro que é também roteirista, diretora e produtora com mais de 50 filmes que assina a montagem. Iniciou em 2005 com o filme Gaijn – Ama-me Como Sou da diretora Tizuka Yamasaki. Também atua como professora, consultora em laboratório de montagem e curadoria para festivais de cinema. Tem uma filmografia muito significativa: Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei(2007); O Lobo Atrás da Porta(2013); o premiado filme de Maria Augusta Ramos – O Processo(2018); os excelentes Espero Que Esta Te Encontre e Que Estejas Bem(2020) e Mulher Oceano(2020); Lilith(2022) e As Filhas do Pescador(2023).
NATARA NEY, é uma diretora, roteirista e montadora e que já citei em outras ocasiões. Sou admiradora de suas montagens e de sua filmografia. Ela é de Pernambuco e mora atualmente no Rio de Janeiro. Iniciou como montadora em 2000 assinando filmes como: A Maquina(2005); O Guerreiro Didi e a Ninja Lili(2008); Desenrola(2011); Dores de Amores(2012); Tainá – A Origem(2015); Divinas Divas(2016); Cafi(2019); Pluft, O Fantasminha(2022) e o recente Porto Príncipe da diretora Maria Emília de Azevedo.
MARIA REZENDE é montadora, poeta e performer que iniciou na montagem em 2013 com o longa Meu Passado Me Condena – O Filme. Tem 4 livros publicados, além de participações em Antologias. Como montadora assinou os filmes: De Pernas Pro Ar 3(2018); Um Tio Quase Perfeito(2016); O Jardim Secreto de Mariana(2021); A Porta Ao Lado(2021); Eike – Tudo ou Nada(2022) e outros tantos, além de assinar a montagem de diversas séries brasileiras para canais de TV.
Poderia ficar aqui citando inúmeras mulheres fantásticas da montagem, porque temos muitas e portanto deixo mais alguns nomes para pesquisarem e que valem a pena conhecerem: JULIA BERNSTEIN (Então Morri, 2016…); JOANA COLLIER (Pacarrete, 2019; Fim de Semana no Paraíso Selvagem, 2022…); VANIA DEBS (Durval Discos, 2002; Marighella, 2012; Saudade, 2017…); JORDANA BERG (Jogo de Cena, 2007; Cine Marrocos, 2021…); LÍVIA SERPA (Linha de Passe, 2007; Divino Amor, 2017; Benzinho, 2018…); MARILIA MORAES (Disparos, 2012…).
Essas são algumas das mulheres de cinema e montadoras de olhar especial. Hoje a profissional de montagem é escolhida com muito cuidado pelos diretores porque elas somam, preenchem com algo a mais, ao contrário de complementar um filme. Pelo menos é assim que enxergo a montagem.
Até a próxima cena!
Abraço Afetuoso,
Vanessa
Cine Recorte: Minhas dicas hoje são os filmes de duas montadoras.
Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar(2021) de Ana Maria Magalhães, com montagem assinada por PAULA SANCIER.
Jonas e o Circo Sem Lona(2015) de Paula Gomes, com montagem assinada por ANDREA KLEINMAN
Créditos das Fotos das Montadoras:
– Montadora Cristina Amaral. Foto: Laura Del Rey – reproduzida no artigo da ABC, 2018
https://abcine.org.br/artigos/elas-por-tras-e-na-frente-das-cameras-representacoes-no-audiovisual-brasileiro/
– Montadora Karen Harley – Reprodução do site Conde+
https://www.condemais.com.br/artistas/karen-harley/
– Montadora Idê Lacreta – reprodução do MUBI
https://mubi.com/pt/cast/ide-lacreta
– Montadora Karen Akerman – Reprodução do site Adoro Cinema
https://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-601022/
– Montadora Natara Ney – Foto Divulgação em matéria no site Mundo Negro
https://mundonegro.inf.br/minha-expectativa-e-mostrar-para-as-mulheres-negras-que-podemos-romper-silenciamentos-seculares-diz-premiada-cineasta-natara-ney/
– Montadora Maria Rezende – Foto reprodução da pagina do LinkdIn