Oceano – Uma reflexão sobre rotina!

Por Mônica Bonna.

Olá, maravilhosas! Espero que estejam bem! Obrigada pela companhia em mais uma reflexão artística da coluna M.Atriz. 

Estava essa semana assistindo novamente o curta metragem “Soul: uma aventura com alma”, da Disney e  decidi escrever sobre algo que há muito tempo permeia minha mente: rotina.

Essa animação retrata a vida de um músico de jazz que sonha em trabalhar como artista, mas devido a percalços da vida, nunca consegue uma oportunidade. Até que ele, enfim, consegue e percebe que o dia-a-dia é muito diferente do que ele idealizava. Então, chega minha parte preferida da história – o diálogo que ele tem com uma cantora após um ensaio.

Dorothea Williams (cantora) diz para o músico novato: 

“Tem uma história sobre um peixe que foi até um ancião e disse”:
– “Tô procurando um negócio. Um tal oceano.”
– “O oceano? Você está no oceano”, respondeu o ancião.
– “Isso?’, disse o peixinho, “Isso aqui é água. O que eu quero é o oceano.”’

Esse trecho, tão curtinho e ao mesmo tempo tão profundo quanto o próprio oceano, me chamou a atenção desde a primeira vez que assisti ao filme, pois me levou a pensar sobre as expectativas que criamos em nossas mentes, quando o “viver de arte” é apenas um sonho.

Claro que cada pessoa cria uma expectativa, baseada em suas aspirações pessoais, influências externas (coisas que vemos em filmes, séries e etc). Essas expectativas nos levam a idealizar uma rotina, muitas vezes, bem diferente do que é a realidade.

Falar sobre ser ARTISTA, num primeiro momento, pode soar bem glamuroso e até um ato de rebeldia – não vou negar que há momentos de glamour e ativismo. Mas em se tratando de atuação para teatro – que é onde está o holofote aqui da coluna M.Atriz – a realidade da maioria esmagadora não é sempre tão florida.

O intuito hoje, não é focar nas situações cotidianas que provam que nossa vida não é sempre um mar de rosas, mas sim, procurar formas de lidar com a rotina e com as expectativas pessoais e alheias.

Sempre me considerei uma pessoa que não se dá muito bem com rotinas, esse é até um dos atrativos que a carreira de atriz me apresentou. Essa ideia de estar cada dia em um lugar diferente, fazendo ou ensaiando uma peça diferente, com pessoas diferentes, apresentando para uma plateia nova a cada vez. De fato, isso acontece, mas, a grosso modo, não me exime de viver uma rotina.

Os trabalhos mudam, mas as atividades cotidianas básicas para um bom desempenho artístico devem ser seguidas com esmero, para que consigamos trabalhar com saúde e qualidade: Aquecimento corporal e vocal, estudo de personagens, memorização de roteiros/scripts, ensaios, ensaios e mais ensaios. 

Em dias de apresentação, dependendo do porte da produção, além dessas tarefas corriqueiras, algumas outras incubencias são somadas: carregar e descarregar o material (cenário, figurinos, equipamentos técnicos e etc), montar cenário e organizar objetos cênicos, passar cena / “bater texto”, se caracterizar (maquiagem, cabelo/peruca, figurino), entre outras coisas.

Com o passar do tempo, é natural que essas tarefas ofusquem a beleza do ofício e nos façam enxergar esse vasto oceano que é o teatro como apenas ‘água’. Corremos o risco de perder o encantamento inicial quando nos deparamos com a rotina. O problema é que isso influencia não só em nossa performance, mas em nosso bem-estar como um todo.

Cabe a cada uma de nós, dentro do nosso dia-a-dia, amadurecer esse encantamento e transformá-lo em algo duradouro. Como fazer isso? Trouxe aqui algumas provocações e dicas que podem ajudar a reacender essa chama e retomar o brilho nos olhos:

• Conheça seu propósito: Você já parou para pensar qual é o seu propósito? Qual sua função como pessoa no mundo e como você pretende atingir seu objetivo através da arte? Ser capaz de responder essas perguntas e, esporadicamente, relembrar essas respostas, nos ajuda a criar uma motivação para os dias em que nossa visão fica turva.
• Estabeleça metas: Onde você pretende chegar? Que desafios gostaria de superar? Quais são os passos que você precisa dar para alcançar suas metas? Em quanto tempo você planeja atingir cada etapa? 
• Gerencie seu tempo: Determine, dentro das suas possibilidades, um momento do seu dia para focar no aprimoramento profissional e manutenção da sua saúde como artista – estudos, aquecimento de corpo e voz e etc. É fundamental, também, destinar, conscientemente, um tempo para o autocuidado – realizar atividades de descompressão como hobbies, meditação, diário e etc. Isso ajudará a equilibrar as demandas externas e pessoais.
• Busque melhorias: Encontrar formas de otimizar as tarefas cotidianas pode fazer o trabalho da equipe ficar mais fácil de ser realizado, diminuindo a demanda de tempo e energia dispensados nas atividades. Isso resultará em um ambiente mais tranquilo e organizado. 

Outras coisas que me ajudam quando preciso de uma solução rápida para algum descontentamento é lembrar que:

• Para mim, teatro é corriqueiro, mas para a plateia, não. Procurar fazer um trabalho de qualidade, é respeitar o público que se dispôs a sair de casa para viver essa experiência (alguns nunca, sequer, foram ao teatro).
  
• Teatro é uma atividade social, portanto, sempre estaremos lidando com pessoas (público, elenco, produtores e etc). Relações interpessoais podem ser desgastantes, por isso, ao se deparar com alguma saia justa, procure o ponto de convergência de interesses para encontrar um caminho. O que você e a outra pessoa buscam em comum? Como cumprir o objetivo final em parceria com essa pessoa?
• Por último, mas não menos importante: Assim como o oceano é água, teatro é ensaio, é aquecimento, é memorização, é estudo, é cumprir horários, é repetição, é se maquiar e etc. Toda essa ‘água’ que tratamos, às vezes, como banalidade, é justamente o que faz a arte ser o que é. 

Que possamos encontrar tanta beleza nas coisas simples e rotineiras quanto nas extraordinárias e exuberantes.

E você, me diz nos comentários o que você faz para manter a chama da arte sempre forte e brilhante?

Beijinhos e até a próxima!

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Mônica.