Um convite para abandonar as expectativas alheias e construir sua própria identidade.
Por Daniela Jerônimo.
Minhas perfumadas, como vocês estão? uma honra estar aqui com vocês.
Minhas perfumadas, hoje quero compartilhar com vocês uma reflexão profunda sobre a liberdade de ser. Ao longo da minha jornada, percebi como é fundamental nos libertarmos das expectativas alheias e abraçarmos nossa verdadeira essência, sem culpa.
Por muito tempo, carreguei o peso do que os outros esperavam de mim, mas descobri que a verdadeira liberdade está em ser quem realmente somos. E eu desejo que você, minha querida, também se conceda essa liberdade.
Desde pequenas, fomos ensinadas a amenizar nossa luz para sermos aceitas. Nos fizeram acreditar que ser forte era uma obrigação e que demonstrar vulnerabilidade era um luxo. Mas eu lhe pergunto: até quando vamos caber em moldes que não foram feitos para nós? Se passamos uma vida tentando nos tornar o que acham que deveríamos ser, será que realmente sabemos quem somos?
A liberdade começa quando nos olhamos com amor e acolhimento. Quando nos permitimos ser inteiras, sem medo de desagradar. Bell Hooks nos ensina que a mulheridade das mulheres negras sempre foi negada, como se precisássemos provar o tempo todo que também somos dignas de cuidado e afeto. Mas, minha querida perfumada, nós não precisamos provar nada. Nossa existência já é resistência.
Desde que minha filha nasceu, esse sentimento se tornou ainda mais forte dentro de mim. Quero que ela cresça sabendo quem é, reconhecendo sua identidade negra e afro-brasileira com orgulho. Porque identidade é um espaço de luta, mas também de amor e pertencimento.
E aqui lhe deixo um convite à reflexão: quem resiste e quem oprime? Ter identidade exige coragem para derrubar máscaras, para parar de fugir. Quem é você depois que as luzes se apagam? O que resta quando todos os papéis que lhe impuseram caem por terra?
Minha querida, a construção da nossa identidade passa por esse reconhecimento. Audre Lorde nos lembra que amar a si mesma é um ato de resistência. O mundo sempre tentará nos silenciar, mas quanto mais nos enxergarmos com verdade e afeto, mais fortes nos tornamos. Não precisamos nos moldar ao que esperam de nós. Precisamos apenas nos permitir ser, na nossa inteireza, na nossa potência, na nossa doçura.
Eu não quero ser boazinha e nem forte. Não quero suprir expectativas de ninguém. Não quero ser quem fui ensinada a ser. Não quero ser o que esperam de mim. Sei que minhas ancestrais precisaram ser imbatíveis para sobreviver ao racismo. Mas quero ter o direito de questionar esses ensinamentos e construir uma nova possibilidade para mim. Não quero ceder ao cerceamento do corpo e do sentimento das mulheres, que nos diz quem devemos ser. Isso não me serve mais. Quero ousar. Quero ser desagradável. Quero dizer quantos “nãos” couberem na minha boca. Quero descobrir as minhas urgências e escolher quais são elas. Quero, acima de tudo, existir sem culpa.
Se em algum momento você sentiu que precisou se esconder para ser aceita, respire fundo e se olhe com carinho. Você não precisa caber em espaços que não te acolhem. Você não precisa dizer “sim” quando seu coração grita “não”. O maior ato de amor que você pode oferecer a si mesma é se libertar das expectativas que não são suas.
E é nesse caminho de libertação que encontrei a espiritualidade, como uma forma de conexão mais profunda comigo mesma e com meus ancestrais. A bruxaria natural me tem ensinado a ouvir os ciclos da terra, a respeitar os elementos e a magia presente no cotidiano, trazendo mais harmonia à minha vida. Ela me lembra da importância de respeitar minha intuição e de me conectar com minha essência mais pura. Ao mesmo tempo, a Umbanda tem sido uma fonte de luz, guiando-me através dos ensinamentos dos orixás e espíritos ancestrais.
Ambos os caminhos me ensinam que sou parte de algo maior e que a minha liberdade vem da conexão com o sagrado dentro de mim e ao meu redor. Eu posso honrar a minha história, sem culpa, sem medo de ser julgada. Eu posso ser a mulher que escolho ser, sem precisar me justificar.
E então, minha perfumada, que tal começar essa jornada agora? O convite está feito: ouse ser quem você realmente é, sem culpas, sem julgamentos. A liberdade está à sua espera.
“Antes de exigir que os outros me ouvissem, precisei ouvir a mim mesma, para descobrir minha identidade”. Bell Hooks
Com amor,
Dani.