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Porque o termo “Perder a Virgindade” desqualifica a mulher”?

Porque o termo “Perder a Virgindade” denigre a mulher”

                                     Virgem- Uma em si mesma.

Por Alíne Valencio.

Porque o termo “Perder a Virgindade” denigre a mulher”

Minha leitora amada. Musa! Mais uma semana que te encontro por aqui. Isso realmente me envaidece muito. Porém, não me envaidece o ego. E sim, a alma. Isso quer dizer, minha amiga, que estou me comunicando com você pelo coração e meu objetivo com esta coluna está sendo cumprido, uma vez que é somente pelo coração que as verdadeiras revoluções internas se dão. Ah! Quanta imensidão carrego no peito quando você volta para me ler. Ter você aqui me instiga a escrever cada vez mais e abordar temas mais polêmicos, intensos e profundos. E provocar um verdadeiro “motim” dentro de você. Mas, o intuito é ver você brilhar de verdade. Ou melhor, ver você deixar sua alma brilhar. Dito isto, estou certa de que é o momento propício para iniciar o assunto de hoje. E a respeito de que vamos conversar hoje?

O motivo deste bate papo é te trazer uma reflexão acerca do seguinte paradigma social: a virgindade feminina. Minha querida amiga, você já parou para pensar que a expressão “perder a virgindade” é irrevogavelmente degradante para a mulher? Isso nunca passou pela sua cabeça? Pois bem! Antes de entrar propriamente na problemática que intenciono debater hoje, farei uma contextualização histórica sobre o significado da palavra virgem, ok? Acompanhe meu raciocínio, por favor.

Há muito tempo atrás, antigas sacerdotisas da lua eram chamadas de virgens. E pasme! Virgem significava não- casada, não- pertencente a um homem. Olha que interessante! Virgem era a mulher “uma em si mesma”. A palavra deriva do latim e significa “força”, “habilidade”. Mais tarde, quando ela foi aplicada aos homens tomou o significado de “viril”. Deusas como Isthar, Diana, Astarte e Ísis eram todas chamadas de virgens, o que não se referia à sua castidade sexual, mas `a sua independência sexual. Lindo né? E tem mais: todos os grandes heróis de culturas passadas, fossem eles míticos ou históricos eram ditos seres nascidos de mães virgens! Veja bem o que isso significava minha amiga: eles eram nascidos de mulheres livres, independentes e donas de si. Heróis como Marduck, Buda,
Gilgamesh, Osíris, Dionísio, Genghis, Khan, e o próprio Jesus. Todos eram reconhecidos como filhos da Grande Mãe, a força original e os poderes que provinham dela. Quando os hebreus usaram a palavra, no original, em aramaico significava “mulher jovem”, “donzela”, mas sem conotação de castidade sexual.

Esse conceito moral e cristão correlacionando a virgindade feminina, à castidade surgiu quando não apenas tradutores cristãos, mas a própria igreja e a sociedade cristã jamais poderiam conceber a “virgem maria” como uma mulher sexualmente livre e independente. Você sabe o que isso quer dizer minha amiga? Isso indubitavelmente quer dizer que distorceram, inverteram completamente o
significado da palavra para sexualmente pura, intocada, casta. É isso! Revoltante não é mesmo? Posto isto, não há como se posicionar a favor de tamanha crueldade, violência e coersão para com as mulheres, durante tanto tempo. Não há como  se calar perante tanta canalhice. Em especial para com a sexualidade feminina. Portanto, minha querida leitora, estamos sendo enganadas há milênios com conceitos que nos degradam, nos oprimem, nos encaixotam e nos desqualificam como mulheres
em todos os sentidos. Mas toda essa estrutura social é embasada na sexualidade da mulher.

Ou melhor, na premissa de destituir a mulher de sua própria mestria, partindo do princípio moral de que não ser virgem é imoral, tornando a sexualidade feminina uma moeda de troca, um negócio rentável e negociável, relegando mulheres a joguetes, marionetes do poder patriarcal que enxerga o sexo feminino como fornecedor de prazer para o sexo masculino, desde que a mulher obedeça e
assim se comporte, porque se ela contestar, daí ela é mulher sem valor. Puta! É ou não é verdade? Até hoje é assim! E não apenas os conceitos nos rebaixam, como também os julgamentos, as exigências cruéis, as cartilhas, as doutrinas, o patriarcado, a misoginia e a igreja.

Feita essa contextualização histórica, meu desejo é que vire um gatilho na sua mente e você retire os véus sob os quais nós fomos vendadas. Você compreende a austeridade com que fomos mantidas todo esse tempo e como tal conjuntura vem impactando pejorativa e nocivamente a sexualidade feminina desde o início da implantação do cristianismo? Sim, porque antes da era cristã, as mulheres eram reconhecidas e valorizadas em todos os cantos.

A julgar pelas grandes deusas da história, que eram adoradas, veneradas pela sua competência, sua verdade, e sua inteligência. Foi tão somente quando se consolidou a imposição à adoração a um só Deus, que a figura da mulher foi rebaixada à ser virgem ou não, e a sexualidade feminina passou a configurar como a sentença negativa da vida da mulher. Minha amiga, o que eu julgo fundamental te dizer é a verdade sobre as mentiras que nos contam há milênios, sobre as verdades distorcidas, as histórias mal contadas que subestimam a nossa inteligência e nossa capacidade de pensar e discernir a vida por nós mesmas. E tudo isso vem da nossa liberdade sexual. Ou melhor, do simples fato de que nós podemos minimamente vislumbrar sermos sexualmente livres. Porém, isso a sociedade não vai aceitar, nem tampouco permitir de jeito nenhum, dada a conjuntura atual, onde ainda impera o conservadorismo misógino e falocêntrico.

Mas, trouxe toda essa polêmica para afirmar minha amiga, que eu não vou parar até que todas as mulheres compreendam a verdade sobre a famigerada expressão “perder a virgindade” e suas conotações sexuais equivocadas e mentirosas. Você já atinou para a ideia que quando a mulher tem sua primeira relação sexual, na verdade ela ganha o acesso à sua sexualidade? Nunca? Pois então, comece a refletir querida amiga. Ela ganha o acesso ao fato de que se tornou uma mulher. E se tornar mulher, significa exatamente o que? Inexoravelmente significa ganhar o acesso à ser livre,
dona do próprio corpo e das próprias vontades. É isso que significa minha deusa.

Ora, se você leu bem o que eu expliquei algumas linhas acima, onde as deusas da história eram consideradas seres divinos e os grandes heróis, homens, nasceram da divindade que era a Grande Mãe, então podemos inferir no seguinte: o fato de uma mulher, ou menina, perder sua virgindade, é algo sagrado. Logo, ao perder a virgindade a menina se torna uma deusa, divina. Um ser absolutamente elevado espiritualmente. Um ser que, a partir da sua primeira relação sexual ganhou acesso ao próprio Deus, e à própria alma. E se considerarmos o fato de que é através da alma que nos avizinhamos de Deus, então perder a virgindade é um acontecimento altamente sagrado, mas que foi distorcido pelo patriarcado para distanciar a mulher, cada vez mais, de si e da sua sexualidade, relegando-a à condição de submissão e subserviência.

E se levarmos em conta, o que eu já comentei em outra matéria, que é a triste realidade de que ninguém ensina a uma mulher a beleza sacra que é cultivar e aprender a buscar intimidade com sua própria vagina, aí então é que tudo se torna ainda mais obscuro, endemonizado e crítico para uma simples adolescente que apenas deseja ter sua primeira relação sexual. E quando adulta, essa menina se apresenta como uma completa desconhecida para sua vagina e vice- versa. E mais ainda, para tudo que venha a se passar com sua região íntima. Estamos longe de uma sociedade que leva uma garota ao ginecologista e esse profissional dialoga abertamente sobre o quão fundamental é essa familiaridade com sua vulva.

E digo mais, na minha humilde opinião de sexóloga holística, deveria ser distribuído pelo SUS, um pequeno kit contendo um espelhinho anatômico, onde a menina pudesse ver sua vagina de maneira bem avantajada para conseguir um panorama geral sobre a sua saúde íntima, bem como conhecer o aspecto físico dela. Além de absorventes de pano e um tutorial completo explicando que a região íntima nada mais é que um conjunto de músculos que, como qualquer outro, no corpo, precisam ser exercitados, evitando assim, incômodos como incontinência urinária e tantos outros embaraços como cândida, coceiras e afins. Contudo, eu como espiritualista que sou, e tendo a consciência que tenho em relação ao fato de que a vagina é um portal espiritual de cura e libertação para a mulher, defendo ainda que junto com isso é uma obrigação do Ministério da Mulher e do Ministério da Saúde, adquirir estudos científicos (que já existem) e que comprovam essa tese e preconizar essa premissa para toda população. Porém, estamos muito longe desse entendimento, logo, como resultado
disso, vivemos numa sociedade absolutamente alheia para o que significa de fato “ser mulher”.

Minha querida leitora, chegou a hora de terminar nosso bate papo por aqui e deixar para a próxima semana novas confabulações a respeito do universo sexual da mulher. Desejo profundamente que esse conteúdo te inspire a questionar, a partir de agora, tudo que te ensinaram até hoje sobre mulheres, e principalmente que te impulsione a mergulhar intensamente para dentro de si e arrebentar todos os grilhões que te limitam e te diminuem.

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Um beijo.
Alíne Valencio.

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