Como comer com atenção plena e desenvolver nossa percepção interior.
Por Gabriela Chepluki de Almeida.
Comer, ao meu ver, tem duas finalidades fundamentais: proporcionar prazer e promover saúde. O prazer é acessível no alimento em sua abundância, desde uma guloseima, considerada fonte de calorias vazias e inimiga de emagrecimento pela ciência tradicional, até um feijão bem temperado, ancestralidade alimentar brasileira, considerada superalimento, rico em excelentes substâncias benéficas ao organismo. E a saúde, nós sabemos que vai além dos aspectos estéticos e bioquímicos, apesar deste último ser um pilar fundamental do nosso bem estar e excelência funcional.
Carregando dualmente o potencial da manutenção e do sentido da vida, este afazer diário precisa ser tratado com sacralidade, quer seja através de um viés energético religioso, quer apenas filosófico. Comer precisa ser um ato praticado com gratidão, respeito e consciência. Isto não significa, contudo, que precise ser praticado com a nossa cabeça cheia de disciplinas e demandas interiores auto impostas. O nosso objetivo maior é que este exercício se torne minimamente forçoso, promovido a um hábito natural nosso.
Que as próximas vezes que formos nos alimentar, isto seja feito com a plenitude da nossa atenção.
Sabe como você vai começar fazendo isto?
Eu não estou dizendo que ler livros, ver televisão, rolar feeds e ouvir música por si só sejam hábitos ruins. Mas, quando você for comer, primeiro passo: dispense todos eles, ou qualquer um de proposta semelhante. Desvincule-se de telas, de distrações, de qualquer estímulo mental que incentive o seu modo automático dissociado do agora. Faça com que os únicos presentes neste momento sejam você, leitora, e o seu alimento. Mesmo os seus próprios pensamentos, enquanto você puder discipliná-los em sua exaltação, desligue-os.
Segundo: eu já te disse isso em outro momento, mas mesmo que pareça “encheção” de linguiça, traga a sua percepção a tudo que o alimento possa te fazer sentir. Sinta e analise a sua temperatura, as texturas que se formam e se perdem ao longo da sua mastigação, os sabores que surgem com o tempo e os que vão embora, a durabilidade do gosto ou qualquer sensação física que ele possa te causar. Perceba também quais emoções e sensações físicas este alimento lhe traz, se ele te dá estufamento, se ele te dá relaxamento, se as emoções que ele desperta são de tensão ou alívio, culpa ou satisfação, mas principalmente se o consumo com atenção plena deste alimento te deixa FELIZ. Permita-se observar a própria reatividade ao alimento. E mais, se você começar a prática do exercício de atenção plena com a comida, tente com alimentos diferentes em textura, sabor, temperatura, combinações, que em todos os aspectos sua percepção irá se ampliar. Este é um exercício chave para você saber identificar como são engatilhadas muitas das suas reações mentais involuntárias, na maioria das vezes, baseadas em demasiadas crenças.
Na faculdade, ouvi uma história de uma moça que amava comer um determinado tipo de chocolate, a ponto de ser seu favorito, sabe? Mas, quando ela foi incentivada a comer mais lentamente para fazer este experimento sensorial, ela percebeu que naquele chocolate surgia um forte gosto de manteiga, que não lhe agradava o paladar, já não era mais o favorito. Resumidamente, estar plenamente ciente dos fatos fez a moça estar plenamente ciente de si e de suas escolhas.
Profundo, né?
Se você quiser treinar o Mindfullness antes de tentar o Mindful Eating, ou se preferir aplicar o procedimento diretamente com a alimentação, de qualquer forma, será perfeito! O que está correto, leitora amada, é a forma como a coisa vai funcionar para ti! O importante é que você desenvolva este hábito como uma potencial estratégia na sua alimentação, até que ele se torne tão natural a ponto de você não precisar disciplinar-se e vigiar-se constantemente para mantê-lo em execução.
Parece sem sentido ouvir falar em atenção plena enquanto se está comendo, afinal, não é só comer? Não basta que tenhamos a ingesta de todos os grupos alimentares, em qualidade e quantidade suficiente, obedecendo a lei da harmonia dos mesmos e a adequação a cada fase da nossa vida? Não basta o cuidado sanitário de armazenar, higienizar e cozinhar a comida?
Certamente. Este exercício pode parecer totalmente desprovido de propósito quando você não sabe que benefícios ele pode proporcionar, ou que tipo de disfunção na alimentação ele é capaz de tratar.
Se você se vê como uma pessoa que precisa começar a se conhecer melhor em seus gostos e aprendizados alimentares, desacelerar a alimentação e seus pensamentos, criar sensibilidade e vínculo com o seu próprio corpo, comece.
O mindful eating pode proporcionar melhor controle da sua fome e saciedade, mais harmonia na sua alimentação, maior percepção e sensibilidade interoceptiva (dos sinais internos do corpo), saúde mental, mas principalmente, te deixa sentir o verdadeiro prazer da comida. Para mim, por si só, isto já me convence, leitora amada. Espero que a ti, também. Eu estou sempre aqui para sanar qualquer dúvida de qualquer dinâmica que você sinta no seu interior de iniciar e desenvolver.
Com amor, Gabi.