Que corpo você habita?
Por Alíne Valencio.
Olá minha amiga mulher. Deusa maravilhosa! Essa é mais uma matéria dessa coluna que pretende desbancar o patriarcado, e eu estou extasiada de alegria pelo lançamento dessa nova revista no mercado feminino. E não porque sou colunista, nem tampouco pelo status que tal cargo me traz. De forma alguma! Isso, na verdade, é o que menos importa aqui.
Afinal, se você não for presença frequente, me lendo, me acompanhando, e até mesmo me seguindo nas redes sociais, nada fará jus a qualquer palavra impressa nesse espaço de fala. O que eu espero sinceramente, é, que esta coluna contribua para que todos os padrões arraigados na sua mente acerca da sexualidade feminina se desfaçam por completo e você se liberte de absolutamente tudo que te limita, te define, te enquadra, te encabresta. Bom, então vamos começar? Pode ser pelo subtítulo, que tal? É bastante diferente de tudo que você já ouviu, ou leu a respeito né? É! Eu sei. E fique tranquila minha deusa, porque não dispor de um conhecimento mais complexo e aprofundado sobre a vagina, não te torna menos merecedora ou menos sábia. Até porque, a sabedoria não advém de fora de nós, e sim de dentro. Ou seja, essa sabedoria está aí dentro de ti, o que te falta é saber acessá-la.
É o que pretendo te ajudar a fazer. Eu diria mesmo que todo esse conhecimento vem da vagina. A sapiência mora em nós e na nossa sexualidade, bem como na capacidade de exercê-la em sua plenitude. E exercer nossa sexualidade em sua plenitude passa por conhecer profundamente a vagina e sua função além da procriação, além do gozo, além dos prazeres físicos e de todo o tratado social. Não é disso que se trata esta matéria, e sim da função espiritual da vagina.
A vulva tem uma função muito mais ampla, complexa e transformadora do que o limitado encargo que lhe incumbiu a sociedade patriarcal, falocêntrica rasa, e o mundo material.
Acredite, a vagina é o órgão mais espiritual do corpo feminino. Sim, ela está imbuída de todo conhecimento espiritual guardado a sete chaves sobre nós, mulheres, há milênios, você sabia? Você nunca se perguntou a razão de tanto medo dela? Mas, te peço calma, minha amiga. Por favor, não pare de ler e você vai assimilar exatamente meu raciocínio. A questão é que estamos inseridas num contexto avassaladoramente desfavorável ao autoconhecimento íntimo, e mais ainda, porque nos encorajam a mantermos distância do pressuposto de que uma profunda intimidade com a vulva nos conduz à abertura da mais complexa, porém genuína virada de chave no tocante à alma feminina e mais especificamente à Deus. Ainda mais se formos mulheres, como é o nosso caso.
Nesse contexto cristão no qual se propaga a ideia de castigos e punições, não há a menor condição de nos estimularem a adentrar e mergulhar em nós mesmas, na nossa sexualidade, e mais aprofundadamente em nossa vagina. De jeito nenhum! Para a sociedade patriarcal, cristã, paladina dos bons costumes e da moral, jamais uma mulher que se dá o respeito, pode ser ousada o suficiente para ultrapassar a fronteira da sexualidade, além daquilo que dita a cartilha da moral religiosa.
É por isso que o autoconhecimento íntimo faz de nós desobedientes. Quando uma mulher arrebenta os grilhões da cegueira auto imposta, que é produto de uma sociedade manipuladora e opressora, ela tira os véus que cobrem sua mente, e consegue enxergar a própria invisibilidade diante de si mesma, alcançando, dessa forma, uma amplitude de consciência tão profunda, a ponto de ela conseguir se manter corajosa perante o massacre que se abate sobre ela, justamente por romper padrões. Ora, uma vez que temos acesso à nós mesmas, nossa alma e suas vontades, passamos a compreender de forma clara e indubitável que é através da intimidade com nossa vagina que se dá esse processo de libertação, cura e expansão.
Logo, passa muito longe da nossa realidade a mínima possibilidade de vislumbrar qualquer intimidade com nossa vagina. Pelo contrário! Ai de nós, se ousarmos esboçar o que pensamos em torno do assunto. Muitas vezes, aliás, em sua maciça maioria, nem para nós mesmas nos atrevemos a expressar um mínimo esboço que seja no que diz respeito à tão temida vagina. Posto isto minha amiga leitora, começo te perguntando: você já pegou um espelhinho e olhou para sua vagina? Aposto que você ruborizou só de pensar nisso. Ou, talvez, você esteja de boca aberta com tamanha desenvoltura da minha pessoa ao tocar nesse quesito. É provável que você esteja com palpitação, com o coração acelerado, ou algo do tipo. Aposto, talvez, que você nem tenha ideia do que estou falando.
Alguma vez você imaginou que tal ato de camaradagem para com sua vulva é a cura para tantos padrões limitantes e crenças infundadas incutidas no nosso inconsciente desde sempre? Crenças essas que nos conduzem por irrealidades e ilusões, ou até mesmo inverdades sobre a vagina? Nunca nenhum desses questionamentos percorreu seus neurônios minha amiga? Pois então, está na hora de você começar a questionar tudo que você aprendeu sobre o universo da sexualidade feminina. Vou te amparar nessa jornada, te trazendo algumas reflexões. Tenho certeza que o que vou comentar aqui é óbvio para todas nós: a mulher é o único passaporte para a vida. Quer dizer, é só através de uma mulher que a vida acontece.
E não há outro lugar por onde saia um bebê, salvo se por cesariana, senão pela vagina. Certo? E sendo a vida algo divino, um privilégio concedido por Deus, e a vagina, por sua vez, o único meio pelo qual a vida se dá de fato, podemos afirmar que a vagina é um portal. Ou melhor, o único portal pelo qual se manifesta toda a sexualidade feminina e a cura para todas as feridas emocionais e espirituais que acometem uma mulher. Eu ouso afirmar: a humanidade. E é, ao mesmo tempo, toda libertação! Você deve estar se perguntando o seguinte: A Alíne está querendo dizer que para eu ser dona do meu nariz e ser completamente livre em termos de sexualidade eu preciso conhecer minha vagina a ponto de pegar um espelho e olhar para ela? Isso mesmo amiga leitora. Ser dona de si, não abrange somente o mundo da matéria. Ser uma mulher livre implica, necessariamente ser livre de alma. De nada adianta, ser uma mulher independente financeira e emocionalmente, se sua alma continua aguilhoada à padrões e cartilhas.
Desse jeito, a única coisa que vai te restar é uma incessante trajetória pela busca por algo que preencha um vazio que nunca cessa e você não saberá explicar o motivo de, mesmo tendo alcançado tudo que sempre sonhou, o tal vazio não passa. Enquanto sua alma não for livre, nada resolverá a eterna lacuna de abandono que habita em você. E esse processo se inicia com uma imensa permissão concedida por você, para você, para abrir as portas da cura e da libertação da sua alma. E a vagina é o princípio de todo esse percurso. Entretanto, estou querendo dizer muito mais que isso. A vagina é a entrada principal para alcançar a sua alma. A verdade da alma. Mas, só se alcança o espírito por meio do autoconhecimento íntimo.
E não existe autoconhecimento desligado do corpo como um todo: físico, emocional, e espiritual e necessariamente o sexual. O autoconhecimento íntimo perpassa todos eles. Estou, com isto, evidenciando um único axioma: vagina não é somente sobre gozar, não é sobre sentir prazer, não é sobre penetração e não é sobre agradar um homem. Vagina é sobre encontrar a si mesma, é sobre o gozo do encontro consigo mesma. Aquele encontro que seu âmago vem buscando por todas as encarnações, e que você não se permitiu ser quem você é de verdade. E quando você se entrega e se permite o auto toque, você compreende que tudo que sempre buscou estava ali mesmo. Em você mesma. Dentro de si mesma (vagina). É sobre não estar mais perdida, `a deriva de si mesma. Vagina é a porta para a expansão de si. O auto toque mais ainda. A vagina se torna nossa mais verdadeira amiga por meio da masturbação, que por sua vez nos leva à expansão da consciência. É uma expansão que nos transporta para a verdade da vida a respeito de nós mesmas. Está a aí a kundalini que não me deixa mentir.
Minha amiga leitora. Poderosa! Agora você compreende porque não precisamos delegar nosso prazer `a alguém? O prazer consiste no simples ato de se proporcionar prazer, de ser capaz de preencher a alma através da vagina e da masturbação. Você compreende agora que estou abordando esferas absurdamente mais complexas do que as limitadas admoestações que incutem na nossa cabeça aqui no plano material? E que isso é frustrante? Limitador? Violento? Castrador? Você consegue ampliar sua consciência e capacidade de raciocínio para um entendimento muito mais elevado, a ponto de correlacionar esse órgão do corpo `a responsabilidade de evoluir a alma? Se, depois de todo esse nosso bate papo, você se ressignificou e se desconstruiu, então cumpri minha missão, e termino essa matéria grata e extremamente feliz.
A gente se encontra na semana que vem.
Um beijo.
Alíne Valencio.