Por Cigana Carmem.
Minha amada leitora,
Nesta segunda feira de carnaval trago algumas reflexões, talvez, um tanto perturbadoras para quem segue à risca as cartilhas morais e doutrinárias de uma religião. Você já parou para pensar que a religião sustenta a lealdade dos seus fiéis na base do medo, criando a ilusão de um Deus que castiga somada à mentira de que existe inferno e uma figura tenebrosa que é o diabo? E que se você desobedecer ele você vai parar no inferno abraçada à Lucifer? Essa estratégia milenar de se valer do medo para doutrinar pessoas é responsável por milhares de infortúnios e a dizimação de milhares de mulheres ao longo da história. Mas, você sabe, não foram as mulheres boazinhas e obedientes. Eram as perigosas. E quem eram as mulheres consideradas perigosas? Aquelas que ameaçavam essa estrutura com suas ideias de liberdade e poder pessoal das mulheres.
Minha querida, compreenda por favor, religião é diferente de espiritualidade. Quem busca a espiritualidade intenta, justamente se libertar de dogmas, medos e cartilhas adestradoras. É por isso que quem se mete com espiritualidade conhece muito bem o que se entende por “inferno”. Não há como adentrar o universo da espiritualidade sem praticar o autoconhecimento. E o autoconhecimento é nada mais do que a liberdade da alma, que arrebenta os grilhões que a aprisionam, por meio da verdade. Aquela verdade que ninguém quer futricar, a verdade da essência primordial de cada ser. Essa é a verdade que liberta e a qual Jesus se referiu quando disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Não vou destrinchar essa frase de Jesus, porque já escrevi outras matérias a respeito.
O medo nos venda os olhos sob a ótica construída a partir das crenças morais que nos ensinaram e programaram nossa mente, que passou a “operar” dentro desses conceitos e sob a visão turva nos leva a agir de maneira subserviente, na certeza de que não estamos distraídas de nós mesmas e da nossa verdade. E essa façanha foi arquitetada de propósito, sabe porque? Porque o “inferno” também tem seus pré- requisitos. O principal deles é escarafunchar as nossas sombras internas, aceitá-las e ressignificá-las. Isso quer dizer que, para ir ao inferno a condição é a liberdade para ser quem se é sem represálias. Ah, e antes que você me julgue reforço que, como já mencionei em outras matérias, inferno só existe DENTRO DA GENTE. Assim, como o céu. Logo, para pertencer a si mesma de verdade é necessário enfrentar o inferno de si mesma. Pois só assim conhecerá seu próprio céu e dele será dona.
Já sob a ótica dos fundamentos religiosos a sua alma é da religião, mas eles te fazem crer piamente que não. Desde que você não ouse adentrar as portas do seu inferno interior. Cada um tem seu inferno e seu céu particular. E não há outro igual, saiba disso. E essa é outra falácia da religião, uma vez que o inferno que eles ensinam pra gente está fora de nós e em outro plano, onde chegaremos somente após nosso desencarne. Enfim, o que soa para nós é o inferno é igual para todos. Mais uma vez reafirmo, que essa estratégia é proposital. Ah! Um adendo antes de prosseguir com matéria: é bom lembrar que existe morte em vida. E ela começa exatamente quando confiamos que existe o medo, porque a pior morte que existe é aquela que acontece em vida. A morte física não paria para a morte em vida.
Porém, a morte em vida traz suas benesses. Ela nos faz renascer das cinzas. É para lá que a espiritualidade nos leva: para as trevas de nós mesmas, para depois nos fazer nascer A n novo, com uma nova versão de nós mesmas. A verdadeira versão repaginada, para viver tudo que viemos viver aqui. A nossa versão divina, alinhada com os propósitos de Deus. Não há como chegar ao verdadeiro Deus, sem passar pelo inferno e conhecer Lucifer pessoalmente.
Aproveitando o ensejo, te indago: você já ousou se perguntar se Lucifer é realmente essa figura demoníaca que a religião prega? Ora, para uma doutrina que se fundamenta no medo para catequizar seres humanos, é necessário criar uma personagem para validar suas premissas castradoras. Minha querida, você já pesquisou em fontes seguras sobre a verdadeira identidade de Lucifer? Se não, te convido a fazer um paralelo de um jeito bem simples de entender. Imagine que ele é apenas o lado negro de todas nós, seres humanos. O lado obscuro mais profundo de nós mesmas. Aquele do qual temos medo. Entende?
Então, isso implica em afirmar que a religião nos ensina a fugir do nosso lado sombra. Você acha mesmo que não trabalhar o nosso lado sombrio é bom? Por qual razão há cada vez mais violência? A explicação mais plausível é justamente a necessidade de lapidar nossas emoções negativas, mas isso não é estimulado, logo as consequências são desastrosas. Eu disse lapidar, não fingir que não existem. Há imensa diferença entre uma coisa e outra né? Mas, a religião nos ensina ter medo de nós mesmas e das nossas próprias dores. Acontece que a falta de cura e aprimoramento interior é a casa do ego e dos males da sociedade moderna.
Portanto, ao nos ensinarem que “ir para o inferno” é o maior mal que existe, estão nos adestrando para o despenhadeiro da moral e da ética, cujo ego reina soberano, acarretando resultados matérias e espirituais calamitosos.
O intuito da matéria de hoje é te instigar a pensar por si mesma e aguçar seu instinto de curiosidade a fim de que você se torne livre de qualquer amarra moral, mental, emocional ou espiritual.
Até a próxima semana.
Um afago carnavalesco para você.
Cigana Carmem.