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                         Tem juizeco chacrete do patriarcado por aí.

                                     O prazo de validade do sexo masculino.

Por Alíne Valencio.

Musas,

Quem me conhece sabe que quando se trata de determinados tipos de (“homens”?) eu sou extremamente debochada ou irônica. Talvez porque seja a única maneira de encarar tanta nojeira, ou de me defender e resistir em nome de todas nós. Mas agora tenho essa revista, que é minha, portanto, me permito a liberdade de escrever a hora que eu bem entender, sem censura, nem tampouco papa na língua. E eu não vou ser boazinha, aliás, isso eu nunca fui mesmo. Graças a Deus! E eu estou aqui fazendo essa introdução minha amiga, para preparar o meu, e o seu estômago para as próximas linhas, porque o tranco é pesado. E que venha o chumbo. Então vamos lá! Ah, fique alerta para o tom debochado de algumas passagens dessa matéria ok?

Não sei se você chegou a saber que no Paraná, um desembargador, veja bem, condenando por feminicídio, está à frente do julgamento de um caso de assédio a uma menina de doze anos. Antes de continuar, preciso desentalar e te perguntar: “Dá para levar a sério um país, ou, mais especificamente um estado que permite que um desembargador condenado por feminicídio julgue um caso de assédio a uma menina de doze anos”? Tal senhor, no último dia 3 de julho proferiu a seguinte frase: “As mulheres estão loucas atrás de homens”.  Ahahahahahaha. É impressionante como alguns homens ainda enxergam as mulheres como seres que vivem apenas em função de falo, como se uma menina de doze anos fosse uma predadora perversa e o sexo masculino fosse vítima de devassas sexuais que os desviam dos caminhos do bem. E mais, como se o mundo de uma mulher, e nesse caso, de uma menina, girasse em torno de um órgão sexual masculino. Ah me poupe! Me poupe muito né? Que patético! O que as mulheres menos pensam hoje em dia é num falo. Esse senhor além de totalmente desatualizado a respeito de mulheres, ainda deve estar projetando na figura feminina a sua impotência né minhas amigas, visto que este senhor já é senil e certas partes do corpo me parecem totalmente gastas, murchas, e incapazes de cumprir com determinadas obrigações de homem. Talvez a sua ira proceda desse pequeno fato: a de que homens tem prazo de validade. Mulheres não! Realmente acredito que no momento em que alguns homens se dão conta disso, a ira tome conta mesmo. Contudo, a culpa não é nossa. Ele que vá tirar satisfações com a natureza. Mas enfim, continuemos porque nem cheguei na metade.

Mas, o mais impressionante mesmo é que, a partir de momento em que ele vai numa audiência e profere tais atrocidades, além de expor essa menina, mais do que ela já está sendo exposta, está, além disso pressupondo que uma menina de doze anos tem malícia e entendimento suficiente acerca de artimanhas de sedução tão certeiras a ponto de um homem assediá-la. Ou seja, a velha e famigerada premissa de que a culpa é da mulher, ainda que essa mulher seja tão somente uma menina de doze anos de idade. Esse senhor, chacrete da justiça, faz da condição feminina um escárnio social. Mas, sabe o que acho mais burlesco? É que sem uma mulher, nenhum homem viria ao mundo, e eles agem como se não precisassem de nós para nascer, ou existir. Mas, infelizmente, o nascimento dessa espécime de representante do sexo masculino deveria ser um pedido de desculpas à humanidade, e não pela pobre da mãe dessa criatura, porque ela fez o seu papel divino e pariu esse ser, mas pela capacidade involutiva e desletrada desse senhor. E essa matéria, não se refere ou é direcionada `a este senhorzinho em específico. Pelo contrário, esse caso me serve tão somente como pano de fundo para um engenharia muito maior, que é o machismo estrutural.

E nós sabemos que a misoginia e o machismo estrutural se servem de artifícios baixos para permear o universo feminino, e dar seus palpites inúteis sobre nós mulheres. Afinal de contas, homens não tem vagina para dizer, opinar ou expressar qualquer palavra que seja a respeito de “ser mulher”. Contudo, seres do sexo masculino que pelo fato de possuírem um falo, acreditam que isso lhes dá o direito de afirmar se uma mulher “corre ou não atrás de homem”. Isso é problema nosso, não deles. O que a gente faz ou deixa de fazer é problema nosso. Até porque, o corpo, a vontade e os desejos também e ninguém tem nada a ver com isso. Entretanto, quando se trata de homens, muita gente tem sempre que meter o nariz a respeito do que nós devemos fazer e nos julgar pelo que fizemos. Mas, ninguém mete o nariz, que devia ser bem metido, no fato desse “tiozinho” que se encontra no cargo desembargador, estar julgando um caso de assédio, sendo ele mesmo um acusado de feminicidio. Porque nesse fato ninguém mete o nariz? Porque isso não vira a pauta  da mídia??

Isso sim deveria vir à tona como debate para o qual quero levantar com esta matéria. Porque não se discute o fato de a nossa sociedade permitir que um homem acusado de feminicídio ainda tenha permissão para exercer um cargo tão importante? Para isso ninguém volta sua atenção. Agora para “as mulheres que correm atrás de homens”, todo mundo tem uma opinião para dar. O que é fundamental estar em foco aqui é a permissividade da sociedade, e a camaradagem social machista que endossa e valida que o machismo continue agindo livremente pelo nosso universo, que diga-se de passagem não compreende somente nosso corpo, mas tudo que envolve nosso mundo mental, emocional, espiritual e físico. Porque essa é questão aqui minhas amadas leitoras, o quanto nossa sociedade ainda dá esofo para a misoginia, a desqualificação e o rebaixamento de mulheres se configurem o centro das atenções sociais.

Você está compreendendo minha querida? O caso é muito mais grave do que parece, afinal, essa nossa condição minoritária, que nos classifica como inferiores não é de hoje, uma vez que a história está aí para nos contar a trajetória de luta das mulheres por dignidade. Sendo assim, este caso nada mais é do que mais um atestado social falocentrico. Ou seja, quando se tem um falo, tudo pode aqui nessa terra. Agora, se você não tem um falo para chamar de seu, ai a gente vira um joguete social que é obrigada a sentir na pele a violação da nossa dignidade, por todos lados, desde as nossas entranhas até nossa alma.

Esse caso aconteceu dia 3 de julho, e até hoje eu estava entalada, e inclusive, passei dias aprimorando meu raciocínio para escrever essa matéria. Parei várias vezes, pensei em desistir porque não estava conseguindo elaborar meu raciocínio e minha destreza debochada. E ainda acho que estou sendo boazinha nos adjetivos que proferi. Além disso, para escrever acerca desse tipo de assunto, eu me preparo biologicamente, porque me dá embrulho no estômago, e me assalta um sentimento de justiça, e ao mesmo tempo, me dá forças para me fortalecer de coragem e vir aqui dividir com você acontecimentos tão jurássicos. Tenho para mim que na idade da pedra, alguns seres do sexo masculino possuíam mais cérebro que os de hoje. Sabe porque? Porque até homens naquela época tinham massa encefálica suficientemente ativa para saber que de nada adianta ir na mídia pedir desculpas e achar que está tudo bem. E isso virou praxe entre os abusadores não é mesmo? A tática é  ir na mídia chorar, se desculpar, fazer um drama no instagram, se mostrando arrependido e dizer que não foi a intenção, porque nunca é né minhas amigas (deboche)? Afinal isso não É NADA perto da estrutura machista que o mantém no cargo de juiz, que o qualifica e valida para julgar um caso como o dessa menina, mesmo com o histórico pessoal que ele tem. E para terminar esta matéria, gostaria de te convidar a uma reflexão comigo. O escárnio com o universo feminino é tão escrachado que quando um abusador vai até as redes sociais e se coloca como arrependido, ele está nos chamando de idiotas por tabela e nos considerando intelectualmente tão inferiores que não possuímos capacidade de discernimento significativo a ponto de acreditarmos mesmo que uma “choradinha” na mídia, e umas aulas de interpretação sejam hábeis em nos fazer engolir essas desculpas. Na verdade o que eles pretendem com isso é nos calar, ou nos fazer continuar propagando o seguinte tipo de pensamento: “Ah, mas olha lá, ele está arrependido, pediu desculpas”. E novamente, voltamos `a roda de sansara social que acredita que quem assedia homens somos nós mulheres. Sim, porque foi isso mesmo que este senhor disse numa audiência minha amiga. Você acredita nisso? Minha nossa senhora, como alguns homens gostam de pagar mico né? O mico nesse caso é o fato de alguns homens, como é o caso desse senhor, anuir que a  genTe vive e morre  por  conta da falta de um órgão sexual masculino em nossas vidas como se essa fosse a causa da nossa ruína.  Dá muita preguiça não dá?

Veja bem! Um homem desclassificado como esse, que se comporta de maneira tão deselegante e desagradável numa audiência, está lá, minha amiga, julgando nosso comportamento. Quer dizer, para começo de conversa, eu adoraria saber o que é que se aprende num curso de direito. Será que ninguém ensina `a eles que determinados tipos de comportamento não deveriam fazer parte da etiqueta jurídica? Quem sabe se ele frequentasse algumas aulinhas de etiqueta o cérebro dele pegaria no tranco e finalmente ele tivesse um pouco de educação. Entretanto, como saber se comportar educadamente se nem massa encefálica se tem não é mesmo? Um cérebro inócuo não tem condições de reconhecer uma informação que não foi dada.

Enfim, minha querida, eu vou terminando por aqui com a esperança de que você tenha compreendido a importância de estar ao lado das mulheres e fortalecer a causa feminina para que cada vez mais, mais mulheres estejam com sua inteligência, percepção e capacidade de raciocínio tão afiados afim de enxergar o que há por trás das artimanhas da sociedade machista e não se permitir engambelar por historinhas tão mal contadas.

Estamos juntas sempre, nunca esqueça disso. Conte sempre comigo para o que precisar.

Um grande beijo,

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Alíne Valencio.

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