As Mulheres Trans de Cinema e do Audiovisual Brasileiro.
Por Vanessa Cançado.
– Vai Som, Vai Câmera. Ação!
Olá Amoras (es),
Se pensarmos nas estatísticas levantadas pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), em que a expectativa de vida de uma pessoa trans em nosso país é de 35 anos, fico imaginando o quão difícil é destacar-se em um setor tão competitivo e machista como é o audiovisual brasileiro.
A primeira mulher trans de cinema a se destacar, só aconteceu em 2018 com a diretora e roteirista Julia Katharine, com o seu filme “Tea For Two”.
É necessário tanto respeito, visibilidade e reconhecimento quanto profissionais diversos do mercado brasileiro de cinema. É algo maior do que ser, mas estar nos lugares, ocupar os espaços nos diversos setores do audiovisual.
De 2018 pra cá, muitas outras mulheres trans se destacaram no mercado e duas ações ocorreram e que julgo importantes nessa contribuição: a criação do Tela Trans (em 2021), uma plataforma de divulgação de cineastas e seus trabalhos e a criação da APTA (Associação de Profissionais Trans do Audiovisual) em 2020.
Vou destacar algumas mulheres de cinema trans. A primeira é JULIA KATHARINE que já citei acima. Foi a primeira cineasta trans a conquistar espaço em circuito comercial. Julia foi uma das diretoras do longa na mostra oficial do Festival do Rio desse ano, recentemente apresentado – o “Insubmissas”. Tem na filmografia: “This Is Not Dancing Days” (2020); Lembro Mais dos Corvos (2019); Família Valente (2019); como atriz participa de “A Alegria é a Prova dos Nove” (2023) da diretora Helena Ignez; “Crime Delicado” (2005) de Beto Brant e “Três Tigres Tristes” (2022) de Gustavo Vinagre.
DANNY BARBOSA é uma paraibana, formada em letras e que vem se destacando no cinema como atriz e roteirista. Em sua filmografia de atuação: “Bacurau” (2019); “O Sertão Vai Vir Ao Mar” (2024); “Mais Pesado é o Céu” (2024); o curta “Adão, Eva e o Fruto Proibido (2021); “O Seu Amor de Volta (Mesmo Que Ele Não Queira) de 2022.
LUH MAZA é dramaturga, roteirista, atriz e diretora que começou a carreira no teatro. Autora de mais de 10 peças teatrais encenadas e premiadas. É considerada a 1ª roteirista trans da televisão brasileira. Na filmografia: “Insubmissas” (2024); primeira temporada “Da Ponte Pra Lá” (2024) da Max; temporada 1 da série “Os Quatro da Candelaria” (2024) da Netflix.
HELA SANTANA é roteirista, nascida em Jequié/BA e radicada em São Paulo, que teve seu ponto de virada com a participação no LANANI – Laboratório de Narrativas Negras e Indigenas para Audiovisual, na Festa Literária das Periferias. Sua filmografia: “Falas Negras – Histórias Impossiveis”; “Falas de Orgulho – Histórias Impossíveis”, ambas da Globoplay; roteirizou o quadro “Mulheres Fantásticas” do programa Fantástico; série “Encantados” da Globo; a série de animação “Os Pequenos Cronautas”.
Outros nomes de mulheres trans do cinema e audiovisual no Brasil valem ser citados: Danna Lisboa (SP); Caia Ryu (SP), mas mora atualmente em Toronto no Canadá); Dandara Luisa Alves (PE); Louise Xavier (RJ); Verônica Valente (PE); Leona Jhovs; Paulete LindaSelva (PE); Jane Beatriz (RJ); Sophi Saphira (RJ); Deborah Gomes (RJ); Victoria Helena (MG); Sani Est (PE).
E você, conhece alguma mulher trans do cinema que não foi citada? Indique nos comentários, adoraria saber mais.
Mesmo depois de apresentar essas mulheres incríveis aqui na coluna, vamos deixar claro que a visibilidade e a valorização das profissionais trans está longe de ser a ideal, pois ainda há uma luta a ser travada. Não só pela sobrevivência. Essas, os números apontam, mas a de não se calarem ou serem caladas diante desse mundo cisgênero idealizado em nossa sociedade patriarcal e que transpassa para o mercado audiovisual. O cinema vem tendo avanços, mas ainda foca muito nos corpos e não no conteúdo, dentro e fora da grande tela.
Até a próxima cena!
Abraço afetuoso,
Vanessa
Cine-Recorte: Minhas dicas hoje é os filmes da cineasta Julia Katharine citados aqui e filmes disponíveis na Tela Trans, visitem a plataforma: https://telatrans.com.br/filmes/