O moralismo social e estrategista que crucifica a sensualidade feminina é o mesmo que prega o “faz de conta” da aceitação da mulher livre.
Por Alíne Valencio.
Musa maravilhosa,
Nessa sexta feira que antecede o carnaval, é o momento propício para tratar do assunto da matéria de hoje. E abordar esse assunto me faz sentir no milênio passado, afinal, de contas estamos em 2025, mas não parece não é mesmo? Alguns equívocos violentos no que diz respeito à sexualidade, em especial à feminina, ainda pairam sob a sociedade como um bicho de sete cabeças. Para mim, é ainda pior: as pessoas se assemelham a crianças ingênuas que acreditam em tudo que lhes dizem. Poucas de nós ousam questionar os tabus sobre sexualidade, nem mesmo para si mesmas e saem por aí papagaiando o que escutam como um disco riscado. Especificamente, o disco riscado da moral religiosa e social. É raro quem faça de si mesma e do seu próprio corpo um Sherlock Holmes em busca do tesouro perdido de si. É por isso que eu sempre digo que o moralismo religioso, o conservadorismo machista e a sociedade misógina em que vivemos continuam galgando ainda mais fundo na premissa do medo para nos manter aprisionadas em conceitos ignóbeis com o intuito de nos impedir de sermos livres.
E o que tudo isso tem a ver com sexualidade e sensualidade? TUDO, Deusa! TUDOOOO. Quando falamos em sensualidade feminina, o que vem à sua cabeça? Posso apostar que sua imaginação foi povoada por imagens negativas de mulheres sensuais, “usando seus corpos” objetificados e de forma “vulgar” para se aparecer e se afirmar, vestidas com roupas justas e curtas ou decotes profundos e fendas de saias “indignas” e roupas extravagantes e chamativas. E, nesse momento pode te assaltar um riso fácil e furtivo que diz: “Nossa, que exagero!”. Será mesmo? Pode ter sido por segundos, mas seu cérebro fez conexões neurais compatíveis com os padrões morais sociais e religiosos que lamentavelmente persistem ainda hoje e infelizmente se consolidam cada vez mais de forma velada, iludindo pessoas.
Isso acontece pela simples razão de que aprendemos a associar, desacertadamente, sensualidade à vulgaridade. Aliás, é bom lembrar também que a palavra “vulgar” tem seu significado distorcido, que fique claro. Você já pesquisou o significado dela? Segundo o dicionário, é relativo ou pertencente à plebe, popular, comum. Concernente à algo que não se destaca, que é comum, corriqueiro e banal. Agora me diga, o que há de tão absurdo nesse conceito? Parte-se do princípio que uma mulher “vulgar” é uma mulher comum. E por acaso há diferença entre nós? Para a sociedade em que vivemos há, tanto é que essa distorção da palavra associa vulgaridade à “mau comportamento”. Está compreendendo onde quero chegar não é mesmo? Ao famigerado “recato” que nos é imposto, até hoje em 2025. E essa imposição está diretamente relacionada a aniquilar definitivamente a sensualidade feminina, por conta desses emaranhados repugnantes que nos encarceram mentalmente, e que atacam nossa subjetividade.
Musa maravilhosa, eu sempre digo que a mulher contemporânea, é dada à extremismos, pois, ou aniquila sua sensualidade devido à moral, ou porque não querem “objetificar” seus corpos. E isso se deve aos preceitos da modernidade que também dita como a mulher deve se comportar. Ainda que sejam conceitos modernos e arrojados. Ainda assim, apontam como a mulher de 2025 deve ser. Que chatice né? O que está adoecendo as mulheres, e eu afirmo isso, porque você sabe que faço atendimento particular para mulheres, é a falta de entendimento, e principalmente de aceitação de que sensualidade é inata e intrínseca à natureza feminina. Não há como fugir disso, e as mulheres fazem de tudo para dilacerar a sua sensualidade. Ela está ligada à natureza “selvagem”, ao instinto. A sensualidade é inerente ao que há de mais “animal” na natureza e remete ao primitivo. Você já ouviu falar em “cheiro de mulher”? Pois é, sensualidade advém desse algo invisível e selvagem que tanto atrai os homens e eles não sabem explicar.
Deusa, se você tem em casa uma cachorrinha, já deve ter percebido que, quando ela está no cio, os cães não param de rodeá-la né? Pois é, é como se ela exalasse um cheiro NATURAL, e que faz parte da sua natureza de fêmea e esse odor deixa os cães, vamos dizer assim, ensandecidos. Pois bem, podemos aqui fazer uma comparação com nossa natureza humana. O mesmo se dá com a gente. Nós mulheres temos “cheiro de mulher”, quer queiramos ou não. E isso faz parte da nossa natureza. Ora, isso quer dizer então, que somos ensinadas a aniquilar nossa sensualidade para não despertar nos homens a “falta de controle”, percebe? Como se nós fôssemos as responsáveis por controlar os instintos masculinos. Até hoje, isso é cobrado de nós quando nos julgam ou nos culpam pela roupa que usamos. Quer dizer, somos cerceadas no nosso direito de exercer nossa natureza tão somente porque um homem não aprendeu a educar-se. Tem cabimento um negócio desse? Não tem, mas é assim que a banda toca na nossa sociedade. Contudo, não é nossa responsabilidade, nem tampouco obrigação, corresponder às expectativas de uma sociedade colonizada e adestradora. Não mesmo. Compreenda isso e se liberte.
Porém, o que eu quero enfatizar de uma vez por todas é que não há como negar essa natureza sensual da mulher, e quanto mais tentamos suprimi-la a todo custo, seja por qual motivo for, desde reacionarismos, ou modernismos, mais adoeceremos. Até porque, a maior prova de que exalamos sensualidade, vulgo, “cheiro de mulher”, é que se saírmos de casa cobertas até a cabeça, ainda assim, um homem se sentirá no direito de desferir contra nós galanteios baixos e sujos, e se retrucarmos a “culpa” será nossa. É ou não é? E por que isso ocorre? Porque somos animais que ainda cultivam instintos primitivos. E pelo amor de Deus, esqueça os clichês a respeito do que significa ser “primitivo”, ok?
Mas então, o que fazer, se quando vivemos encaixotadas dentro de um moralismo autoritário e doutrinário adoecemos, e quando nos deixamos levar por modernismos equivocados também. Minha Deusa, a alternativa mais inteligente e íntegra que você pode escolher, é aceitar essa verdade, acolher a sua essência sensual e deixar que, quem não conseguir lidar com esse fato, que vá procurar resolver seu problema. Mas, o foco aqui não são os outros, e sim você. O aprendizado mais árduo é vencer à nós mesmas. Logo, se você anda lidando e brigando com sua natureza feminina, tentando, à todo custo, massacrá-la, sinto te dizer que não vai adiantar. Essa é você. Essa somos nós. E é isso que nos torna poderosas: ACEITAR QUEM SOMOS DE VERDADE. Não é a roupa linda que você trabalhou o mês inteiro para comprar, nem o mega hair, nem tampouco suas unhas de gel, ou mesmo seu aplique. Nada disso vai resolver e desbloquear a sua vida. A não ser quando você decidir ter coragem de ser quem você é, apesar do massacre que se abaterá sobre ti. Isso é sensual. Isso é poder pessoal. Isso é sobre o que você tem feito com a sua vida. Sensualidade não tem relação direta com o externo, mas sim com a relação verdadeira e ética que assumimos com a gente mesma. Enquanto você “empurrar para debaixo do tapete” a aceitação de quem você é de verdade, você vai ficar insatisfeita, infeliz e achando que felicidade não é para você.
Um beijo sensual para você.
Alíne.