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Você está aspirando suas refeições?

As coisas que você perde quando não presta atenção no ato de comer.

Por Gabriela Chepluki de Almeida.

 

 

Hoje em dia, dá medo de falar certas coisas sobre as quais quem nos ouve nega o nosso direito de dissertar sobre, por estarmos longe da erudição do assunto. Em grande e generosa parte, eu discordo disto. A nossa época é a mais disponível em informação e seus respectivos recursos, mesmo que ainda tenha muito chão para que ela seja democraticamente acessível. Mas, é lógico, quanto mais mastigada for uma informação, mais distorcida e subentendida ela pode ser, daí vêm a prudência de certas pessoas em frear outras que falam demais. Porém, como eu costumo dizer (e você sabe disto), eu sou a pessoa que tem a prudência suficiente para não falar algo sobre o qual não sabe. E, se eu trago um assunto que não é domínio da nutrição, é porque uma interseção significativa com ela, o assunto tem.

Se alguém só me ouvisse falar de determinadas palavras chave ao longo de uma dissertação sobre as abrangências da nutrição e alimentação, poderia se perguntar “Até de meditação e mindfullness a nutricionista está querendo falar? O que tem a ver desaceleração na hora de cuidar dos hábitos alimentares? Ela não devia abrir a boca para falar só quando alguém perguntasse quantas calorias eu devo comer no almoço?”.

É nesta hora que eu, arregaçando as minhas mangas e estendendo o tapete vermelho do meu sublime argumento, eu responderia que absolutamente tudo que vá influenciar seu ato de comer, importa, e possui autoridade para ser dito pelo nutricionista, obviamente, dentro do que o regulamento e a abrangência dos estudos dele permita. Eu conheço meu regulamento e também, como pessoa, tenho meu direito à opinião e perspectiva pessoal. Quem já é da família e entende a premissa da coluna, não precisa de dissertações. Se você é nova aqui, sugiro que leia minhas matérias do início para que mal entendidos não aconteçam, porque um dos meus objetivos é esclarecer todas as suas dúvidas.

Eu sei, no meu coração, que meu jeitinho linear de deduzir seus questionamentos e de explicar minha tese em exemplos práticos não vão ser entendidos por você, leitora, como hábitos de uma pessoa que falta com a criatividade e com a inovação, e sim como o meu jeitinho autêntico de ser e de fazer as coisas. Dito isto, vamos para o singelo exemplo prático que é sempre chave de ouro para eu te fazer entender a reflexão do dia.

Imagine uma situação onde você está ansiosa porque está pensando no trabalho, no estudo, no espiritual, na alimentação, no exercício físico, na terapia, no desenvolvimento pessoal, na leitura, na maternidade, no auto cuidado, na sexualidade, no desfruto da vida, na conexão com a natureza, no aprendizado e na evolução gerais e contínuas, tentando conciliar em 24 horas coisas que levam de 48 a 72, mantendo cada minuto do seu dia preenchido com produção, execução e dinamismo, sem parar um segundo, sempre super estimulando sua cabeça, e dando graças a Deus quando duas atividades podem ser feitas ao mesmo tempo, por exemplo, comer e estudar.

E daí, o que acontece? Você come rápido. Não sente direito o gosto nem a textura do alimento, não está mentalmente presente nas percepções sensoriais porque está com a mente distraída em um livro ou qualquer outra fonte de informação, além de comer a comida inteira em grandes garfadas e, quando se dá conta, sua refeição foi finalizada, sem atenção plena e, o que na minha opinião é mais doloroso, você percebe que não pôde desfrutar do sabor da comida.

Sabe quando eu digo que entendo perfeitamente você? Eu não estou enchendo linguiça, é a mais pura verdade. O automatismo e a distração mental estão sempre presentes, seu domínio vai do poder que damos a eles ou não, e sim, ao longo de uma vida inteira onde estamos constantemente evoluindo, estamos também enfrentando frequentes fatores que nos fazem momentaneamente desviar e abaixar a guarda. É lógico que, muitas vezes, comendo uma fatia de bolo ou um sanduíche enquanto assistimos um filme, passamos pelo momento devastador no qual percebemos “Ué, o sanduíche já acabou?”, e a nossa mente só se volta ao ato de comer depois que o consumo automático acaba, depois que caímos na real que aquele prazer acabou sem nem mesmo ser desfrutado. Nisto, acabamos prometendo para nós mesmas que no próximo sanduíche nós vamos comer devagar e SABOREAR, frustradas pelo sanduíche que já não existe, mas que deveria ser mais prazeroso do que de fato foi, porque a mente não estava prestando atenção.

Este é só um dos nossos exemplos práticos. Claro que eu não quero dar a entender que só as nomeadas junk-foods, Comfort-foods ou fast-foods proporcionam prazer, ou que o prazer é a única coisa na qual poderíamos prestar atenção durante o ato de comer. A comida em geral precisa ser prazerosa, mesmo um prato com um feijão bem feito acompanhado um arroz fresquinho, e quem discorda é porque não comeu o feijão da minha mãe ou da minha sogra.

Nisto, você pensa que a sua nutricionista vai jogar a responsabilidade disciplinadora nas suas mãos e fazer você se virar, né? Que ela vai te “mandar” comer devagar porque, se você comer rápido demais, você pode ter problemas digestivos, inchaço e sentir fome mais rápido, o que é certamente verdade, mas vai muito além, como eu costumo dizer, das calorias a mais que podem ser consumidas, e dos efeitos estéticos.

Pensou né, danada, que eu não levaria a sua maior dificuldade em conta, ou que eu faria de conta que não a estava vendo?

Por mais que as atividades de prestar atenção ao momento presente, e de desacelerar os pensamentos disparados pareça maçante, são elas que fazem a nossa relação com a comida finalmente melhorar. E eu vou te explicar como isto acontece, em breve, mas antes de tudo vou te fazer entender a partir de quê.

Hoje em dia a ciência descobriu e nomeou um filho de ouro que sempre esteve presente nas práticas de meditação, muito antigas, valiosas e praticadas pela humanidade: Mindfulness. É a prática contínua na qual você exercita a sua mente através da atenção plena no momento atual, basicamente (isto é meu entendimento PESSOAL, com o qual grande popularidade concorda) o mesmo tipo de exercício feito nas meditações, sejam elas de foco ou de esvaziamento mental, havendo o ponto comum de conterem o nosso Eu consciente plenamente presente. Dito isto, as ciências da nutrição, principalmente da Nutrição Comportamental, possuem um exercício interventivo poderoso, que não só ajuda na sua própria saúde mental e representa uma forma de exercitar o próprio mindfulness, como vai ser intermediador fundamental da sua reeducação alimentar, e do desenvolvimento do seu autocontrole e autonomia e, principalmente, da sua relação harmoniosa com a comida: Mindful Eating.

Eis o queridinho.

Mindful Eating não consiste em nada mais do que você estar com sua consciência plenamente presente no ato de comer. Isto vale tanto para uma refeição rotineira, como para um momento especial como um aniversário ou happy hour. Eu sempre falo, a comida precisa ser prazerosa, apesar de que para muitos, por exemplo, é impossível uma berinjela ser saborosa, mas daí a gente entra em termos de relatividade e gosto pessoal, que não é o foco da nossa conversa.

É uma promessa. Na minha próxima visita à sua casa, eu vou te falar mais do próprio Mindful Eating, vou te explicar como ele funciona, e como ele pode ser praticado por você, leitora fantástica, apesar de que eu já deva lhe falar que esta é uma prática ridiculamente isenta de complexidades. A maior dificuldade, na verdade, é o nosso comprometimento em continuá-la ao longo dos nossos dias, até que os exercícios disciplinadamente praticados se tornem um hábito natural, ao invés de uma forçosa tentativa.

Meu objetivo hoje, foi abrir seus olhos para mais um daqueles tantos pontos que passam despercebidos na nossa relação com a alimentação. Mas, quer uma dica breve de como você começa esta prática?

Ao comer, não faça nada além de comer, tente não pensar nos seus problemas. Esvazie sua mente e foque no sabor e na textura que está sentindo, mastigue sua comida, preste atenção nos aspectos sensoriais que você descobre ao longo desta experiência, explore se alguma emoção está presente com determinado tipo de alimento com você. É assim que se começa.

Não posso deixar de te dar uma singela pincelada do que o Mindful Eating pode fazer por você. Em termos nutricionais e objetivos, vai melhorar a sensorialidade do seu paladar, a sua percepção de fome e saciedade (pilares do Comer Intuitivo, sobre o qual você ainda vai me ouvir falar), vai otimizar a sua digestão (babado: digestão de carboidrato começa na boca) e lógico, é um ótimo exercício de disciplina. Mas, o melhor de tudo, é que você vai desfrutar com a máxima excelência do prazer de comer, que é, na minha singela opinião, um dos maiores sentidos da vida.

A tendência é que ele deixe de ser um exercício de disciplina, para se tornar elemento natural e indispensável dos seus hábitos.

Hoje, eu quis apresentar uma perspectiva a você, algo pelo qual você já passou ou, talvez, ainda esteja passando, e não sabe que nisto há uma pendência a ser resolvida, um hábito a ser implementado, um detalhe no qual deve ser prestado atenção.

Se você me disser que esta prática parece “encheção” de linguiça, eu vou concordar, parece mesmo. Mas se você me disser que, na prática, ela de fato É “encheção” de linguiça, eu vou ser obrigada a discordar, e a te fazer ver como este seu pensamento é mais uma manifestação daquele automatismo mental que te impede de sentir e experienciar. Te convido a enxergar este procedimento de outra perspectiva mesmo que, no começo, pareça forçoso. Sair da zona de conforto é um processo sempre acompanhado de dor. Mas depois da dor, sempre vem alegria.

Com consciência plena do amor e boa vontade que tenho por ti, leitora,

Gabi.

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