Quando a carência veste a fantasia do amor.
Por Andreza Justino.
Quantas vezes você se pegou justificando a ausência de atenção, o silêncio prolongado ou as mensagens frias com a frase: “mas ele é assim mesmo”? Quantas vezes você insistiu em um relacionamento que mal te oferecia o básico, dizendo para si mesma que era amor da sua vida? Pois é. O problema é que, muitas vezes, o que chamamos de amor é apenas carência disfarçada.
A Deusa que se contenta com pouco, que aguenta desrespeito, que finge não ver a falta de reciprocidade, não está apaixonada. Ela está carente. E isso é um sinal importante, não de fraqueza, mas de urgência em olhar para dentro.
A diferença entre afeto genuíno e necessidade emocional.
Atenção genuína é escolha. É estar com alguém por completo, sem precisar se anular para isso. Em contra partida, a necessidade emocional é aquela dor silenciosa de quem acredita que precisa de outro para se sentir bem e suficiente.
A carência é traiçoeira: ela nos faz confundir qualquer gesto pequeno com amor verdadeiro. Um áudio de três segundos vira prova de que o outro se importa. Um “saudade” depois de dias sem resposta vira sinal de envolvimento. E assim seguimos, vivendo relacionamentos onde o máximo que recebemos é o mínimo.
Quando você aceita migalhas, ensina o outro a não te oferecer o banquete.
Tudo o que você aceita, você ensina sua mente que “é assim”. E o que você tolera hoje se torna o padrão de amanhã. Quando você aceita pouco, sem expressar suas necessidades, você diz ao outro que você não espera mais. E, na maioria das vezes, ele não vai te entregar mais mesmo.
Migalhas emocionais não sustentam relações saudáveis. Elas alimentam apenas a ilusão de que estamos vivendo algo. Mas no fundo, estamos apenas sobrevivendo a mais um ciclo de frustração e vazio.
A origem da carência: o que você viu e viveu lá atrás.
Carência não nasce do nada. Ela se forma nos traumas silenciosos de sua infância, nas ausências que você tentou ignorar, nas formas de amor distorcidas que aprendeu a aceitar. Se você cresceu sem se sentir vista, valorizada ou protegida, é natural que tenha aprendido a se contentar com pouco.
Talvez você tenha visto sua mãe se anular, talvez tenha aprendido que amor era sinônimo de sofrimento ou que não dava para esperar mais que isso da vida a dois. E agora, adulta, você repete esses roteiros sem perceber.
Confundir intensidade com profundidade é um erro comum.
Outro ponto que precisamos conversar é sobre a ilusão da intensidade. Muitos relacionamentos são como fogueiras que queimam rápido: muita paixão, muito fogo, mas pouco alicerce. Quando a carência fala mais alto, achamos que só porque algo é intenso, é também verdadeiro. Mas intensidade sem profundidade é só mais uma armadilha emocional.
Profundidade exige tempo, troca, verdade e vulnerabilidade. Intensidade, por si só, às vezes só revela a pressa de preencher um vazio.
Autoabandono: a raíz de todo relacionamento mal resolvido.
Quando você se abandona, qualquer relação parece melhor do que estar sozinha. Mas a verdade é que nenhuma relação vai preencher o vazio de uma mulher que não sabe se acolher. O autoabandono é cruel porque você vai se despindo de si para agradar o outro, na esperança de que ele fique. E mesmo quando ele fica, você não está mais lá.
O verdadeiro relacionamento começa quando você volta para si.
Parar de aceitar migalhas é um ato de coragem. É dizer: eu mereço mais. Não porque sou melhor que o outro, mas porque me reconheço como merecedora de uma relação onde posso ser inteira.
O primeiro relacionamento que você precisa curar é o com você mesma. Quanto mais você se nutre, se respeita e se escuta, menos você tolera relações vazias. Você passa a entender que companhia não é presença e que amor não é sobre completar, é sobre transbordar.
Convite à reflexão.
Não importa se você está casada, solteira ou vive uma relação “estável”. Precisa saber em qual parte da sua vida você tem aceitado migalhas achando que é amor. Em qual área você se abandonou para manter o outro por perto?
Você assim saberá qual padrão precisa mudar para reconstruir um novo jeito de se relacionar consigo mesma!
Com carinho,
Andreza Justino.